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26/Fev/2021

Lácteos: fim do auxílio emergencial afeta o setor

A média nacional de preços do litro de leite pago ao produtor, que em outubro de 2020 atingiu R$ 2,16 por litro, chega em fevereiro a R$ 2,03 por litro. Essa redução está vinculada a maior produção no período de safra e a uma diminuição geral na demanda por produtos lácteos pela população. O auxílio emergencial, pago aos mais carentes devido à pandemia, foi essencial para manter à demanda aquecida em 2020 e os preços mais elevados para os produtores. Após dezembro, com os sinais de redução desta renda por parte do governo, as compras de derivados do leite pela população começaram a cair, dificultando as vendas no varejo. A Embrapa Gado de Leite vê desafios para que o bom momento pelo qual o setor atravessou no ano passado se repita em 2021. Ainda que o auxílio emergencial seja retomado pelo governo, o valor deverá ser menor e menos pessoas irão recebê-lo.

Um novo aquecimento de demanda dependerá da retomada econômica. Além da redução de demanda, o que tem preocupado o setor são os custos de produção, que estão em alta. Em relação a 2019, a alta média no custo de produção atingiu 10,7%. Nos últimos dois anos, esse índice chega a 24,6%. O que tem puxado os custos é, principalmente, a alimentação à base de concentrados para o rebanho. O custo da mistura milho/soja por saca de 60 Kg (70% de milho e 30% de farelo de soja) mais que dobrou em dois anos: em janeiro de 2019, era vendido a R$ 50,37 por saco de 60 Kg, chegando a R$ 115,79 por saco de 60 Kg em janeiro de 2021. O custo do concentrado acompanha as cotações do milho e da soja nos mercados nacional e internacional. Como os dois estão em elevação e sem sinais de que vão retroceder neste ano, os custos para se produzir o leite nas fazendas vão continuar elevados e penalizando a rentabilidade dos produtores até o final do ano.

Em São Paulo, no atacado, os preços dos principais produtos lácteos recuaram. O leite UHT, vendido a R$ 3,67 por litro em agosto/2020, foi negociado no 5 de fevereiro a R$ 2,90 por litro. A muçarela, o derivado que mais se valorizou durante a pandemia, chegando a ser vendida a R$ 29,69 por Kg em 2020, no início deste mês estava a R$ 22,38 por Kg. O leite em pó fracionado, que chegou a ser vendido a R$ 25,27 por Kg no início de outubro/2020, fechou em R$ 21,73 por Kg no dia 5 de fevereiro. No mercado spot (leite comercializado entre as indústrias), que apresentou grande valorização no ano passado, com a maior cotação a R$ 2,75 por litro, era vendido no início de fevereiro a R$ 1,95 por litro. A notícia positiva para o setor vem do clima. A crise hídrica, que atrasou o início da safra em outubro, não deve ser uma preocupação para os próximos meses.

A previsão para o trimestre fevereiro-março-abril (projeções Instituto Nacional de Meteorologia - Inmet), numa escala macro, é de precipitação acumulada próxima da média em boa parte das bacias leiteiras nos territórios de Minas Gerais e Goiás. No entanto, volumes acumulados entre a média e um pouco acima da média são esperados para a maior parte dos estados de São Paulo, Santa Catarina e Paraná. Embora algumas localidades de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul apresentem chuvas abaixo da média, o armazenamento de água no solo deve ficar acima dos 70%, o suficiente para manter a produtividade média das pastagens, sem comprometer a produção oriunda das principais regiões produtoras de leite, neste e no próximo mês. Outra notícia para os produtores que se preocupam com a concorrência externa é a queda no volume de importações de leite (caíram cerca de 18%, em janeiro, na comparação com dezembro de 2020).

Entretanto, os volumes importados continuam em patamares elevados, sendo 82% superior a janeiro de 2020. Na reunião da Câmara Setorial do Leite, ocorrida no dia 5 de fevereiro, a Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) e outras lideranças do setor, reivindicaram junto à ministra Tereza Cristina, da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a suspensão imediata das importações de lácteos da Argentina e do Uruguai, até que os setores produtivos do Brasil e dos países vizinhos estabeleçam tratativas de convivência mútua. A Abraleite sugere tributar os lácteos importados, da mesma forma que o açúcar brasileiro é tributado para ser vendido nos países do Mercosul. Em 2020, o Brasil importou 1,35 bilhão de litros equivalentes de leite e exportou 101 milhões de litros equivalentes. Fonte: Embrapa. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.