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11/Fev/2021

Boi: Argentina tenta conter preço da carne bovina

No ano passado, cada argentino comeu em média 49,7 quilos, dez vezes mais que na Espanha (4,8 quilos), por exemplo. Com exceção do Uruguai, o consumo também é muito maior do que em outros países da região, como Chile (29 quilos), Colômbia (18,6) e Peru (6), mas para a Argentina é baixíssimo, é o menor em 100 anos. A queda tem a ver com mudanças de hábitos alimentares, mas também com o preço, que subiu 74% em 2020, o dobro da inflação. O governo começou pela carne bovina a batalha para conter o aumento da cesta básica. O acordo de preços das carnes que entrou em vigor na semana passada estabelece reduções de até 30% em oito cortes populares. Os frigoríficos assumem a metade do desconto e os supermercados a outra. Graças ao acordo, que durará até o fim de março, costela, fraldinha, coxão duro, acém e carne moída, entre outras, voltaram a custar o mesmo que meses atrás, desde que a compra seja feita em grandes supermercados e em certos dias da semana.

Entre os motivos por trás do aumento significativo da carne na Argentina, dois se destacam: o crescimento das exportações do produto em 2020 e o aumento do preço do milho nos mercados internacionais. Segundo dados da Câmara da Indústria e Comércio de Carnes (Ciccra), a Argentina vendeu no ano passado mais carne bovina do que nunca ao exterior, um recorde de 900.700 toneladas de carne com osso no valor de US$ 2,7 bilhões, 6,5% a mais que no ano anterior. Com o aumento da demanda externa, liderada pela China, os produtores passaram a comprar mais cabeças de gado, o que elevou seus preços. Ao mesmo tempo, o preço do milho quase dobrou e o custo da engorda do gado de corte confinado disparou. A Argentina é o terceiro maior exportador mundial de milho, mas no final do ano passado, o governo suspendeu temporariamente as vendas ao exterior para garantir o abastecimento interno. Duas semanas depois, recuou diante dos protestos do setor.

O acordo da carne é um acordo de 6.000 toneladas por mês, quando os argentinos consomem 189.000 toneladas por mês. A Argentina é um país produtor de alimentos, mas seus preços são muito altos em relação ao poder aquisitivo da população. Governos de diferentes matizes tentam impor controles de preços, que funcionam no curto prazo, mas os economistas ortodoxos enfatizam que geram uma distorção de preços relativos que tem mais prejuízos do que benefícios à medida que se estendem no tempo e exigem medidas fiscais e monetárias contra a inflação. O acordo de preços beneficia pouco os 40,9% da população argentina que vive na pobreza. Não é que a carne seja cara, na verdade o que acontece é que os salários são muito baixos. O salário-mínimo na Argentina é de 18.900 pesos (R$ 1.151,60). Em 2010, era de 1.740 pesos, mas equivalia a US$ 440,00.

Segundo o Consórcio dos Exportadores de Carne Argentina, uma das entidades participantes do acordo, o objetivo dos preços é referencial, pretende que incida sobre o resto. Os açougues ficaram fora do programa porque compram meias reses, não peças já fracionadas, como os supermercados, e porque é mais difícil fiscalizar para que respeitem o preço combinado. O governo pretende que o acordo com a cadeia produtiva da carne seja um ponto de partida para chegar a consensos com mais atores em relação aos preços. O controle da inflação é fundamental para este 2021 eleitoral, em que os argentinos serão convocados a renovar parcialmente as câmaras legislativas, mas as expectativas do mercado vão na direção contrária. Em 2020, os preços aumentaram 36,1% na Argentina, apesar de uma contração estimada de 10,5% do PIB. Neste ano, com a reativação da economia, a previsão é de uma inflação próxima de 50%. Fonte: El País. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.