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05/Fev/2021

Boi: alta nos custos afeta as ações de frigoríficos

O boom de commodities vem perturbando os referenciais e os frigoríficos sofrem, pois não há espaço para repassar o custo ao consumidor. E enquanto o boi escalava nas primeiras semanas de janeiro, as ações de Marfrig e Minerva Foods eram colocadas na “geladeira”. A reação do investidor parece lógica. Não é prudente manter em carteira ativos dependentes de matéria-prima tão “arredia”, especialmente em um negócio de commodities, que vive com margens apertadas. No entanto, o entendimento sobre essa indústria estaria distorcido por uma dose de desconhecimento, o que coloca os frigoríficos como barganhas. Desde o início do ano, o preço do boi gordo subiu 13%, rompendo os R$ 300,00 por arroba, segundo o Indicador Esalq/B3. Em comparação com igual intervalo de 2020, a alta chega a 60%.

O mercado está em pânico por causa da alta do preço do boi, mas pode estar exagerando. Há uma boa oportunidade para investir em Minerva, Marfrig e JBS. Em relatório de janeiro, o Bank of America (BofA) sinalizou otimismo com os ativos de proteína animal neste ano. No documento, reiterou ‘buy’ nos quatro frigoríficos listados, BRF e JBS são as favoritas, indicando um potencial de alta de pelo menos 40%. Em janeiro, as ações da Marfrig caíram 8,4%, em uma clara fuga do boi caro. Mas, esse raciocínio não faz sentido porque atribui peso exagerado à operação brasileira da segunda maior indústria de carne bovina do planeta. Atualmente, a empresa é basicamente uma indústria americana. A National Beef, quarto maior frigorífico dos Estados Unidos, é a responsável por mais de 75% da receita líquida de R$ 60 bilhões da companhia.

Os sinais apontam para resultados extraordinários nos Estados Unidos, o que também beneficia a JBS, outra empresa que se ressente do valor percebido pelos investidores. Para o BofA, as margens do negócio de carne bovina nos Estados Unidos se normalizaram acima da média histórica. O “cut-out” (composição de cortes acompanhada por quem entende de pecuária nos Estados Unidos) iniciou 2021 ainda melhor do que o mesmo período do ano passado. No último ano, os frigoríficos do país tiveram a melhor rentabilidade de todos os tempos. A Marfrig busca mudar a percepção do mercado. Na companhia, a avaliação é que os detentores de bonds já entenderam a empresa. A Marfrig levantou em janeiro US$ 1,5 bilhão em papéis de dez anos, com juro de 3,95% ao ano, o menor da história.

O desafio agora é alterar a visão do investidor brasileiro em renda variável. Há quem diga que só a listagem de ações nos Estados Unidos, um projeto sempre considerado pela Marfrig (a JBS está mais adiantada), faria esse serviço. Mas, isso pode não ser necessário, pois o tempo se encarregará de mostrar as vantagens da companhia. A divulgação dos próximos balanços trimestrais, que devem confirmar o bom momento da Marfrig nos Estados Unidos e a economia com despesas financeiras, vai ajudar a estabelecer uma visão mais construtiva. Rival da Marfrig na América do Sul, a Minerva é outra vítima do boi caro. Neste caso, o receio dos investidores faria mais sentido, já que a empresa não opera nos Estados Unidos.

Mas, como suas ações caíram mais de 18% no ano passado e recuaram outros 8,5% em janeiro, os papéis podem estar com bom desconto. Apesar da visão mais cautelosa sobre a carne bovina no Brasil, os resultados da Minerva devem permanecer resilientes em 2021 com o Ebitda girando em torno de R$ 2 bilhões, levemente abaixo do ano anterior. A baixa alavancagem também deve permitir o pagamento de dividendos. O BTG Pactual também destaca que a Minerva deve pagar bons dividendos. O valuation da companhia parece atrativo para um investimento, mas as margens apertadas pelo boi mais caro dificultam a recuperação do papel. Tipicamente, as ações da Minerva são negociadas a um múltiplo (relação entre valor de firma e Ebitda) de 5 a 5,5 vezes.

Pela cotação atual do papel, o mercado precifica Ebitda 25% menor em 2021. O primeiro trimestre vai ser mais fraco, mas uma queda tão grande no ano pode ser exagero. A Minerva tem ainda a vantagem de seus negócios não se restringirem ao Brasil. Cerca de 45% da receita é gerada com as plantas da subsidiária Athena na Argentina, Paraguai e Uruguai, países com desempenho melhor que o Brasil, mesmo os argentinos, que voltaram a tabelar preço, ainda dão resultado positivo. E a disparada dos preços das commodities tem também seu lado positivo para os frigoríficos. A China deve bater novo recorde na importação de carne bovina brasileira, com os embarques ganhando fôlego após o Ano Novo Lunar. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.