ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

11/Jan/2021

Boi: exportações devem dar sustentação ao preço

O setor brasileiro de proteína animal deve encontrar em 2021, sobretudo no mercado interno, inúmeros desafios, como a incerteza que ainda paira em relação à pandemia de Covid-19, a perspectiva de apreciação do Real, que pode afetar a competitividade no mercado externo, e uma conjuntura de consumo doméstico deprimido, em razão da crise econômica no País, que entra o ano com alta taxa de desemprego. Apesar da necessidade de maior atenção a esses riscos, a indústria tem como oportunidade a perspectiva positiva para o escoamento de todos os tipos de carne para o exterior, principalmente para a China, e a consolidação da confiança na sanidade e segurança alimentar do produto brasileiro, em meio ao avanço de doenças como a peste suína africana e a gripe aviária em importantes produtores mundiais. A maior incerteza do setor neste primeiro trimestre é referente ao consumo de carne bovina no mercado interno. O ano se inicia com preços das carnes em um nível elevado, e com baixa possibilidade de queda significativa por causa dos altos custos de produção, além do enfraquecimento da demanda em razão das pressões fiscais que janeiro costuma trazer e a retirada do auxílio emergencial.

O cenário de demanda segue favorável para o frango e o ovo, que são proteínas mais baratas, mas para o boi a tendência não é tão boa, ao menos nesse curto prazo. O consumo de carne bovina só deve reagir quando os preços caírem. Nesse sentido, o Brasil será mais dependente das exportações em 2021, que devem compensar a possível retração da demanda doméstica, pelo menos no primeiro semestre do ano. No mercado internacional, a conjuntura continua positiva para os embarques das três proteínas, ainda que a China esteja recuperando o seu plantel de suínos em alta velocidade. Em 2020, a China adquiriu 42,3% dos embarques totais de carne bovina brasileira, além de ser responsável por 50% das importações de carne suína do País e por 17% das vendas externas de carne de frango do Brasil, de acordo com dados recentes da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). As vendas globais de carne suína para os chineses – não só do Brasil – devem ser 1 milhão de toneladas menor do que o volume enviado em 2020, mas em relação à carne bovina, se projeta um acréscimo de 100 mil toneladas no ano que vem em relação a este ano.

A Austrália está vendo uma queda na produção de bovinos e os Estados Unidos tiveram grandes desafios na atividade dos frigoríficos por causa do coronavírus, então o Brasil continua bem posicionado em termos de oferta. Em relação à carne de frango, embora os chineses tenham uma participação menor do que nas outras carnes, eles continuam sendo os maiores importadores do produto. Em 2021, a China deve continuar à frente da Arábia Saudita no volume adquirido do Brasil, já que o país árabe, que era líder nas importações de carne de frango, vem tentando, para os próximos quatro anos, se tornar autossuficiente no segmento, produzindo ao menos 80% do que é consumido internamente. Ainda em relação ao comércio internacional, no curtíssimo prazo, há oportunidades limitadas para a proteína brasileira na Europa, em função da retração no consumo por causa do cenário de crise econômica, ainda mais com o avanço da segunda onda da doença e a descoberta da nova cepa do vírus no Reino Unido.

Para a carne de frango, por exemplo, os estabelecimentos do segmento de foodservice, mais afetados pela pandemia, contribuem com 20% a 40% do consumo na União Europeia. Ao mesmo tempo em que a demanda arrefece, entretanto, a produção também tem cedido, com frigoríficos paralisando temporariamente as atividades na Alemanha e na Holanda, por exemplo, por falta de mão de obra, decorrente da doença. No geral, em termos de oferta, a União Europeia deve ter queda de 0,5% na produção de suínos, de 1,5% na de bovinos, mas alta de 1,5% na produção de aves. Outro ponto de atenção em relação à oferta é a identificação de novos focos de peste suína africana (PSA) e de gripe aviária nos países europeus, com a Polônia e a Romênia concentrando os casos da primeira doença, mas com surtos também se espalhando por Alemanha e França. Com o fechamento do mercado da Alemanha para a China por causa da PSA, por exemplo, isso seria uma boa oportunidade para o Brasil aumentar as exportações para os chineses.

Por outro lado, tal suspensão estimula o aumento na produção de outros países, como da Espanha, que tenta ampliar os embarques para os chineses. Ainda nesse sentido, embora o embargo ao produto alemão abra espaço para o comércio com o país asiático, também faz com que a Alemanha exporte mais para os países do bloco europeu, reduzindo a lacuna de oferta que o Brasil poderia suprir no continente. Há, ainda, a saída do Reino Unido da União Europeia. No curto prazo, o coronavírus atrapalha, mas já estamos exportando volumes importantes de carnes para o Reino Unido e isso deve aumentar. Ainda sob esta perspectiva, para o longo prazo, o Reino Unido representa uma grande oportunidade para o Brasil porque era um dos três maiores importadores de carne de frango brasileira dentro da UE. Agora, fora do grupo, o país pode negociar diretamente com o Brasil se precisar de volumes adicionais à cota que está sendo dividida com a UE e o Brasil poderá aumentar as exportações. A ABPA e o governo brasileiro vão continuar trabalhando para negociar a abertura do mercado de carne suína para o Reino Unido. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.