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17/Dez/2020

Boi: plataforma capta recursos para as aquisições

Enquanto os frigoríficos se ressentiam do impacto do fechamento de restaurantes e o mercado futuro de boi gordo provocava calafrios de tão deprimido nos primeiros meses de quarentena, o ex- Minerva Michel Torteli era um dos poucos a apostar as fichas no “bull market”. À frente da Finpec, plataforma que capta dinheiro com investidores para comprar bois, numa lista que vai de ex-CEO da Cosan a chefe de M&A do Machado Meyer, Torteli não tinha dúvida. “O boi voltará para os preços máximos”, dizia, ainda em maio. As incertezas da Covid-19, é verdade, nublavam o horizonte. Afinal, como ficaria a demanda no mercado brasileiro? A carne já estava cara e, em um ambiente de deterioração da renda, talvez fosse melhor colocar as barbas de molho. Mas, a aposta de Torteli se provou mais do que acertada. Em novembro, o estouro da boiada voltou às manchetes. O preço recorde (real e nominal) foi renovado seguidas vezes, como apontou o indicador Esalq/B3, referência para o preço do gado no País.

Neste mês, as cotações começaram a ceder, recuaram 8,5%, num movimento também antecipado pela Finpec. O racional por trás da aposta de alta era claro. Além da restrição de oferta de gado pronto para o abate, um efeito conhecido na pecuária por razões cíclicas, os confinamentos (sistema intensivo de engorda com dieta baseada em grãos, insumo cada vez mais caro) demoravam a ganhar tração, restringindo ainda mais a disponibilidade da matéria-prima dos frigoríficos. Ancorada na tese, a Finpec conseguiu segurar os investidores nos momentos de maior aversão a risco, apesar dos percalços com a pisada no freio de fundos de investimentos que prometiam injetar dezenas de milhões na plataforma. Aos poucos, a empresa voltou a captar, triplicando os recursos sob administração. Do fim do ano passado para cá, o montante saiu de R$ 20 milhões para mais de R$ 60 milhões. A plataforma já tem acordos para chegar a R$ 70 milhões até o fim do ano. A previsão é fechar 2021 com R$ 150 milhões.

O apelo da Finpec é a rentabilidade. Em tempos de juros negativos, a plataforma oferece aos investidores 6% por ano, livre de impostos. O tíquete médio por investidor é de R$ 300 mil. Na prática, a plataforma emite uma Cédula de Produto Rural (CPR) lastreada no gado que comprou para engordar. É uma operação de renda fixa, com a vantagem tributária dos títulos do agronegócio. Na busca por investidores, a Finpec também diversificou as formas de captação ao se aproximar do Banco Ribeirão Preto (BRP), conta Fernando Sartori, sócio da plataforma. O banco encarteirou e distribuiu a clientes um Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) de R$ 10 milhões emitido pela Finpec. A experiência agradou aos sócios, que devem repetir a captação em parceria com bancos no próximo ano. Por segurança, a plataforma só toma o dinheiro com a compra do gado garantida. Nesse momento, o preço futuro de venda também é travado, fixando as margens da operação.

Com os recursos, a Finpec adquire o gado, faz a engorda no confinamento parceiro (a plataforma trabalha em um modelo asset light) e vende aos frigoríficos. A Minerva é a grande cliente. Em um ano, é possível girar o confinamento mais de duas vezes, pois um bovino fica na engorda intensiva por cerca de 90 dias, multiplicando o dinheiro. “No nosso negócio, você capta um real e gera quatro de faturamento”, afirma Celso Fugolin, sócio da Finpec que foi executivo de frigoríficos como Bertin e JBS. Neste ano, o faturamento da plataforma deve chegar a R$ 120 milhões, quase três vezes mais que o do ano passado. Para 2021, a projeção é atingir R$ 200 milhões. Na pecuária, um mercado extremamente fragmentado, a Finpec é uma fornecedora de médio porte. Em 2020, a plataforma vendeu cerca de 28 mil cabeças de gado aos frigoríficos, e deve chegar a pelo menos 50 mil no ano que vem. Em termos relativos, a plataforma é traço do volume de abate formal no País, são cerca de 30 milhões de cabeças por ano, o que dá um indicativo do potencial do crescimento da boiada da Finpec. Fonte: Valor Online.