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27/Nov/2020

Leite: seca na Região Sul e os impactos no mercado

O fenômeno La Niña, caracterizado por chuvas abaixo do histórico nos Estados da Região Sul do País; chuvas dentro do histórico, mas com problemas de distribuição nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, e chuvas acima do histórico na Região Nordeste brasileiro, vem castigando severamente os produtores de leite dos Estados da Região Sul, principalmente aqueles que utilizam o pasto como principal fonte de volumoso para as vacas. O momento é de bastante dificuldade, visto que os produtores já vinham sendo impactados pelos altos custos de ração e insumos e por outro período de seca que ocorreu entre o fim do ano passado e o início deste e comprometeu a produção de silagem e a entrada dos bovinos nas pastagens de inverno. Não se via uma estiagem tão intensa desde 1943.

Em 1977 houve também um episódio memorável, porém este se deu a partir de janeiro e não comprometeu a produção de alimentos na primavera, ao contrário do que ocorre hoje. Outubro é o mês que mais chove no Paraná. O normal é cerca de 250 mm de chuva e houve apenas 50 mm. No acumulado desde agosto, não atingiu 100 mm de chuva. Na primavera é quando ocorre o crescimento das pastagens e são plantadas as lavouras de milho para a produção de silagem, que servirá como alimento para o próximo ano. Houve um crescimento de pastagem até final de outubro, mas a partir de novembro, mesmo com bom manejo e adubação, o crescimento foi zero. Algumas propriedades mais bem preparadas trabalham com estoque de alimentos e têm condições de manter os animais até o próximo ano. A maioria, porém, não possui este planejamento e está sofrendo para conseguir alimentar os animais. É uma procura desenfreada por silagem, feno, pré-secado, entre outros.

A silagem chega a ser vendida a R$ 0,50 por Kg de matéria original, mais o frete. Contudo, ainda assim, a produção de leite em algumas propriedades é superior ao ano passado. As chuvas recentes foram muito importantes para recuperar o milho e a soja, mas não os pastos. A esperança é que tenha mais precipitação nos próximos dias e que se cumpra a previsão para a segunda quinzena de dezembro, que é quando o milho está pendulando e em floração. Esta é uma época muito crítica, mesmo com todo o problema atual, se vierem estas chuvas será possível colher de 30 a 40 toneladas por hectare de silagem. As condições da silagem de milho vão variar muito de acordo com a região, mas estão sendo relatadas perdas entre 10% e 60% no rendimento. No Rio Grande do Sul, em diversas regiões, a situação também é alarmante. Segundo a Farsul, houve perdas muito elevadas nas lavouras de milho e de soja. O volume de pasto também ficou muito aquém do projetado e já há racionamento de água para os bovinos.

As consequências na produção e reprodução do rebanho irão se estender até o próximo ano agrícola. Alguns produtores não têm mais trato para os animais ou têm poucos dias de reserva de silagem. Alguns estão comprando palha de trigo e aveia. Não há milho, trigo ou triguilho para fazer ração. A chuva veio em alguns momentos, mas foi insuficiente, e seria necessária uma intervenção pública para trazer pelo menos milho para alimentar os animais. Outra possível solução seria a vinda de uma chuva abundante, que permitiria a recuperação de alguns de tipos de pastagem que se desenvolvem mais rapidamente, como o tifton. Diante de um quadro tão complexo, diversos são os questionamentos sobre os impactos na oferta de leite e, consequentemente, no mercado. Com a dificuldade de alimentar os animais e a alta da arroba do boi, já estão havendo relatos de vacas de leite enviadas para o abate, tanto por uma questão de sobrevivência e fluxo de caixa, como pelo alto custo dos insumos e a falta deles em muitos municípios.

Já podem ser vistas consequências na captação de leite, devido à falta de alimento para os animais e o calor. Além disso, alguns produtores estão antecipando a secagem das vacas. A produção de leite normalmente tem uma queda sazonal neste período do ano. Contudo, neste ano, a queda tem sido bem mais pronunciada, em função dos graves problemas de seca, principalmente no noroeste do Rio Grande do Sul, no oeste de Santa Catarina e no sudoeste do Paraná que, juntos, produzem cerca de 18% do leite brasileiro (produção total), algo equivalente a 17 milhões de litros diários. Segundo informações de técnicos que atuam na região, a estiagem deste ano, associada a estiagem do ano passado, que reduziu a qualidade e a quantidade de silagem de milho disponível, que serviria para compensar neste momento a falta de pastagens tanto de inverno como de verão, tende a reduzir a produção de leite de novembro em cerca de 20% em relação a outubro, algo que certamente impactará o mercado como um todo.

Como as empresas que atuam na compra de leite na Região Sul também estão nas bacias do Sudeste e Centro-Oeste, elas compensam a redução de volumes no Sul. O aumento das compras do Sudeste e Centro-Oeste impacta diretamente os mercados nestes locais. Além disso, outro importante fator que tem impactado o mercado são os preços altos de soja e milho, que influenciam a redução de produção em todo o País. Diante disso, a situação é realmente preocupante e o ano de 2020 vem tendo comportamento totalmente atípico. A severa estiagem, somada a fatores como alta da arroba do boi e altos custos do milho e da soja, poderão mudar os rumos do mercado e, ao contrário das previsões de preço ao produtor que vinham sinalizando queda, podemos ver uma estabilidade nos valores pagos pelo leite. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.