19/Nov/2020
Na América Latina, cresce o negócio de instalação de granjas de suínos para abastecer o mercado asiático. Para a China, com 1,4 bilhão de habitantes, é uma questão de segurança alimentar; para a América Latina, um fardo para várias populações e, também, para o meio ambiente. A China já era o maior consumidor e maior produtor de carne suína do mundo. Mas, essa autossuficiência chegou ao fim em 2018, quando a peste suína africana (PSA) interrompeu a produção. O que fez com que milhões de suínos fossem sacrificados na tentativa de parar o vírus. Em 2019, a China reduziu sua produção em até 40%. Outros países como Camboja, Mongólia e Vietnã também relataram casos de PSA. No México, as granjas de suínos encontraram seu lugar na Península de Yucatán. A região tem a maior taxa de crescimento na produção de carne suína do país: até 14% ao ano. A Península de Yucatan foi escolhida? porque a suinocultura precisa de muita água para funcionar e a Península é o reservatório subterrâneo de água doce mais rico de todo o país.
Em toda a Península de Yucatan existem 257 granjas de suínos, a maioria desses projetos (86%) estão no estado de Yucatán. Mas, existem 400 granjas que não têm nenhum tipo de registro na península. A Comissão Nacional de Águas fez muitas concessões. A água de Yucatán é utilizada por empresas e os direitos dos povos indígenas onde essa água é extraída e sua disponibilidade para os habitantes da península não estão sendo considerados. Muitas comunidades indígenas ainda dependem de poços ou fontes de água não confiáveis porque não há rede pública de esgoto. O consumo de água pelos animais é considerado, antes do consumo humano. Estima-se que para produzir 1 Kg de carne suína são necessários 6 mil litros de água e 3,5 Kg de grãos. Um dos alimentos mais amplamente usados para alimentar os suínos é a soja. Na península existem várias denúncias para o uso dessa cultura transgênica. Na península, além dos recursos naturais, além de ter grandes extensões de terra, as empresas têm as facilidades do governo.
Quatro grandes empresas atuam nessa região: Grupo Porcícola Mexicano (Kekén), Granjas Caroll de México, Promotora Comercial Alpro e Kowi Foods. Essas empresas dedicam grande parte de sua produção à exportação para a Ásia. A projeção da China para o abastecimento de alimentos encontrou na América Latina a oportunidade de prever o abastecimento de proteínas por vários anos. Moradores do município maia de Homún conseguiram em 2017, graças a uma consulta pública, suspender a instalação de uma granja de suínos de propriedade da empresa Producción Alimentaria Porcícola que tentava se instalar na região. Os moradores argumentaram que o projeto viola os direitos das comunidades da região e suas fontes de emprego. Porque o dejeto do suíno danificaria os cenotes. Atualmente, o projeto ainda se encontra suspenso, aguardando decisão do Supremo Tribunal de Justiça. O consumo de carne suína ficou mais caro no mundo a partir de 2018.
No ano passado, os mercados atacadistas relataram aumento de preços devido à escassez de carne suína. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) informou um número recorde de exportações de carne suína, desde que foi registrado. Estima-se que sua importação para o país asiático duplique. A produção de suínos aumentou na Argentina, Brasil, Chile e Canadá. Em outras regiões do continente, há uma tendência crescente de instalação de granjas de suínos. Esse modelo de indústria, de superlotação de animais, é exatamente aquele que gera epidemias. Há receio que a Península possa se tornar o próximo centro de doenças e o epicentro de uma futura pandemia. É preciso mudar esse modelo de desenvolvimento. Fonte: Suinocultura Industrial. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.