ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

12/Nov/2020

Carnes: empresas melhoram em sustentabilidade

Companhias brasileiras do setor de carnes e com atuação global subiram de posições na terceira edição de um ranking de sustentabilidade idealizado para orientar grandes investidores internacionais sobre suas aplicações, embora ainda haja ainda muito a ser feito, conforme aponta o índice. O Coller Fairr Protein Producer Index, que avalia 60 companhias no mundo de capital aberto, incluindo Tyson, Fonterra, JBS, Marfrig, BRF, Minerva, LDC e Cofco, ligadas à produção de carnes, peixes e lácteos, foi idealizado pela Fairr Initiative, associação de investidores institucionais que, juntos, reúnem US$ 25 trilhões sob sua gestão. Esses grandes fundos, como Nordea, UBS, Pimco, Credit, entre outros, pretendem, com a ferramenta, analisar a sustentabilidade ambiental dessas companhias para, assim, decidir se vale a pena aplicar ou manter seus vultosos recursos no segmento de proteína animal.

Assim, na comparação com o ranking do ano passado, Marfrig, JBS e BRF galgaram posições que indicam melhora na sustentabilidade dos seus processos, enquanto a Minerva Foods regrediu. Embora tenham subido no ranking, ainda se classificam na categoria "médio risco", estando apenas a Minerva na categoria "alto risco" em relação aos critérios adotados no ranking. Esses critérios são ambientais, sociais e de governança (ESG), incluindo emissões de gases de efeito estufa (GEE), desmatamento, uso de antibióticos, condições de trabalho e investimento em proteínas alternativas. Os resultados são apresentados em uma ferramenta digital interativa que ajuda os investidores a integrar os dados ESG e avaliar o desempenho da empresa. Desta forma, no caso das companhias brasileiras (todas com atuação global no mercado de proteína animal), a Marfrig saiu da 11º para a 4ª posição; a JBS da 19ª para a 9ª e a BRF, da 18ª para a 10ª. A Minerva caiu da 25ª colocação para a 33ª.

Neste ano, inclusive, a Fairr Initiative lançou um estudo específico para o setor de proteína animal no Brasil, intitulado "O setor de carnes brasileiro: uma análise setorial". Em relação ao item desmatamento, por exemplo, que costuma ser o primeiro critério ambiental a ser lembrado quando se fala em cadeia pecuária bovina, o relatório indica que as empresas brasileiras JBS, Marfrig e Minerva pontuaram em média em 63%, porcentagem classificada como "baixo risco" quanto aos seus compromissos sobre produtos livres de desmatamento e conversão. JBS, Marfrig e Minerva têm fortes compromissos de abastecimento para o bioma amazônico, como o Compromisso Público da Pecuária. No entanto, os compromissos de sustentabilidade das empresas não se estendem a outros biomas críticos como o Cerrado, apesar de este bioma ser reconhecido como um dos 'hot points' biológicos no mundo.

Em relação à rastreabilidade dos bovinos adquiridos para abate a pontuação a média de pontuação alcançou os 66%, em média, já que a Fairr Initiative ainda considera que não há rastreabilidade total da cadeia de fornecedores de gado para abate, os grandes frigoríficos brasileiros lançaram somente neste segundo semestre iniciativas para rastrear também as fazendas de cria e recria, que vão vender o gado para o produtor final engordar e abater. Por companhia, JBS alcançou 60% neste quesito; Marfrig, 86%, e Minerva, 52%. Quanto a outro importante item, que está sempre no radar de investidores internacionais, a emissão de gases do efeito estufa (GEE), o relatório específico para o Brasil aponta que BRF e Minerva são categorizadas como "alto risco", ou seja, têm pouco ou nenhuma divulgação das metas de emissões de gases de efeito estufa em suas operações e cadeias de abastecimento. O relatório diz também que nenhuma das empresas brasileiras do índice estabeleceu metas para reduzir as emissões do Escopo 3 e que apenas a Marfrig possui inventário completo de emissões, inclusive agrícolas resultantes da alimentação animal.

Outros itens avaliados no relatório e comentados especificamente para o Brasil são condições de trabalho, segurança alimentar, uso de antibióticos, uso e gestão da água e proteínas sustentáveis, além de um comentário sobre o impacto da Covid-19 nos frigoríficos. O relatório sobre o Brasil conclui que os gigantes da carne brasileira fornecem uma ilustração prática de como a regulamentação local e os mercados finais podem ter impactos de longo alcance em toda a cadeia de fornecimento global da indústria. Alerta, ainda, que questões particularmente voltadas a questões ambientais pós-Covid, como desmatamento, uso de antibióticos e segurança alimentar serão altamente examinadas não só pelos reguladores, mas também pelo mercado de capitais. Para a Fairr Initiative, ao exigir a sustentabilidade na cadeia de proteína animal, os investidores desempenham um papel importante no incentivo ao aumento da divulgação de questões ligadas ao ESG, bem como na manutenção de empresas mais responsáveis. Apesar de as companhias brasileiras de proteína animal Marfrig, JBS e BRF terem galgado posições favoráveis no Coller Fairr Protein Producer Index, há várias deficiências da cadeia produtiva global e que precisam ser melhoradas em direção a uma maior sustentabilidade.

Entre as 60 companhias globais analisadas, a Fairr Initiative informa que 86% dos principais produtores de carnes e laticínios não se comprometem com metas significativas de redução para emissões de gases do efeito estufa. Isso, por extensão, impede gigantes como a Nestlé e McDonald's de atingirem suas próprias metas, já que dependem do fornecimento de matérias-primas sustentáveis ao longo de toda a cadeia. A Fairr relata que a McDonald's prometeu redução de 31% nas suas emissões até 2030 e a Nestlé, redução para zero nas emissões líquidas até 2050. No entanto, o Index indica que ambos ainda usam fornecedores como Fujian Sunner (China), Seaboard Corporation (EUA) e Cherkizovo Group (Rússia), que obtiverem 1% ou menos nos critérios de gases do efeito estufa da Fairr, ou seja, não declaram quaisquer emissões de GEE ou não têm metas públicas para reduzi-las. Além disso, 35% das empresas relataram aumento nas emissões, o que sugere que os compromissos ambientais de marcas líderes estão sofrendo reveses devido aos fornecedores de proteína animal. Se a pecuária global fosse um país, seria o segundo maior emissor de gases do efeito estufa.

Os dados da Fairr mostram que três em cada quatro gigantes globais de carnes e laticínios estão escondendo a completa extensão de suas emissões climáticas ou se furtando de fixar metas amplas para reduzi-las. A pecuária industrial está minando as ambições climáticas das grandes marcas e a viabilidade do Acordo de Paris. Além disso, 73% das empresas de proteína animal são classificadas como "alto risco" quando se medem os critérios relacionados à pandemia de coronavírus, por não conseguirem prevenir novas doenças zoonóticas, que passam de animais para seres humanos. Os investidores da Fairr Initiative apostam em compromisso de oito gigantes, incluindo JBS e Tyson, fornecedores do McDonalds, para mitigar riscos. No ranking geral das 60, há apenas três que foram classificadas como "baixo risco" em relação aos critérios de sustentabilidade adotados pelo índice: a Mowi, da Noruega (piscicultura); a Maple Leaf Foods (proteínas embaladas), do Canadá, e a Bakkafrost (piscicultura), das Ilhas Faroe. Logo em seguida vem Marfrig, já classificada como "médio risco", seguida da Tyson Foods, também como "médio risco".

Quanto ao desmatamento, 43 das empresas, ou 72% do total, são classificadas em alto risco. "Apenas 2 das 50 empresas de carnes e laticínios têm uma política abrangente para tratar ou mitigar o desmatamento em todas as regiões das quais compram soja. Há sinais positivos, sendo que um quarto dad 60 empresas do índice agora fornece uma fotografia completa de seu impacto ambiental, divulgando todas as suas emissões de gases do efeito estufa e, principalmente, as do Escopo 3, que é relacionada por exemplo a emissões causadas pela alimentação de animais. Além disso, sete empresas passaram a se comprometer com uma base científica para redução de emissões. Além disso, aumentou o investimento dessas companhias em proteínas alternativas. No ranking do ano passado, eram 15 delas a investir neste nicho; este ano, o número foi a 22. Em 2018 (primeiro ano do índice), eram 5. A Maple Leaf, única empresa a atingir pontuação máxima nesta categoria, estabeleceu meta de US$ 3 bilhões em vendas de proteínas vegetais até 2029. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.