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27/Out/2020

Halal: logística limita embarques para os árabes

Os países árabes, que em conjunto são o segundo principal parceiro comercial agrícola brasileiro, apresentam uma forte retração na compra da carne brasileira. Depois que suas importações chegaram a crescer 200% nos últimos dez anos, os embarques de carne bovina caíram 30% nos primeiros nove meses do ano sobre o mesmo período do ano passado. Nesse intervalo, os embarques de frango encolheram 18,5%. Não que os árabes tenham perdido o apetite, nem reduzido a demanda. As encomendas desabaram por culpa da logística global tumultuada pela pandemia e pelo enorme poder de compra da China. O ano é atípico. Segundo a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), as exportações foram muito impactadas pela pandemia e as relações econômicas não avançaram como p esperado. Além da falta de contêineres refrigerados no mercado global, a China abocanhou fatia maior da carne brasileira. Foi uma questão comercial e de concorrência.

Como o Brasil importa pouco do mercado árabe, os navios voltam vazios, somando custos àqueles já inflados pela logística caótica imposta pela pandemia. Enquanto faltavam navios refrigerados para transporte da carne, sobravam contêineres para esse tipo de carga no Porto de Xangai. Outro fator foi a forte demanda por parte da China que, além de maior importadora da carne brasileira, também comprava 15% de todo o frango que os Estados Unidos colocavam no mercado externo. Atritos comerciais entre os dois países levaram a China a reduzir os negócios com os norte-americanos e a aumentar as compras do Brasil. O resultado foi uma menor participação das importações árabes. Números da CCAB mostram que entre janeiro e setembro houve retração de 28,2% nos embarques de carne bovina em relação ao mesmo período de 2019: 211,76 mil toneladas. A receita caiu 21%, para US$ 763,53 milhões.

Com isso as participações dos países árabes no faturamento global brasileiro e em volume recuaram 9,3% e 0,7%, respectivamente. Os embarques de frango encolheram 18,5% na receita, com US$ 1,5 bilhão e registraram queda de 5,8% no volume, que fechou o período com 1,078 milhão de toneladas. Porém, a participação global no faturamento diminuiu 25,8% e em toneladas recuou 7,9%. No mesmo período, os embarques totais de carne bovina brasileira aumentaram 10% em volume e 20% em receita, totalizando 1,4 milhão de toneladas e receita de US$ 6,1 bilhões, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras (Abiec). A China é a principal importadora da carne bovina e o Egito o vice-líder, seguido do Chile, Rússia e Estados Unidos. Entre os países árabes, os principais importadores do frango brasileiro são Arábia Saudita, seguido por Emirados Árabes, Egito e Kuwait. O mercado árabe é relevante para o Brasil, com enorme potencial de crescimento.

Se o cenário tivesse sido como o esperado no início do ano, ao invés de queda haveria crescimento entre 12% e 15% no ramo de aves e de 25% ou mais em carne bovina. As expectativas repousavam, sobretudo, na reabertura de novos mercados, como Egito, Kuwait, Catar, entre outros. O Egito, por exemplo, habilitou 42 novos frigoríficos brasileiros para fornecimento de carnes, 27 de frango e 15 de carne bovina. Além de renovar a habilitação de 95 empresas, 82 de carne bovina e 13 de frango. O próximo ano é visto com mais otimismo, com expansão nas exportações e boas parcerias estratégicas, com aumento de investimentos de ambas as partes. Há muitos pedidos de informações de países árabes querendo importar mais.

O Rio Grande do Sul é importantíssimo nessas relações. Segundo a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), o Estado, terceiro maior exportador do produto Halal, embarcou 505 toneladas de frango entre janeiro e setembro deste ano, 24% acima do mesmo período do ano passado. Entre 25% e 30% dessas exportações foram para países árabes. Para a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) uma queda nas exportações com destino árabe é eventual e compreensível, pois estão ocorrendo mais exportações para os outros países. Por sua vez, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, já propôs montar um grupo de planejamento estratégico mais ousado entre países árabes e Brasil. A parceria é antiga e seria bom estreitar e aumentar eficiência desse comércio. Fonte: Valor Econômico. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.