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01/Set/2020

Leite atinge preço recorde real no mês de agosto

O preço do leite captado em julho e pago ao produtor em agosto registrou alta de 10,5% frente ao mês anterior, atingindo R$ 1,9426 por litro na “Média Brasil” líquida (Bahia, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), novo recorde real da série histórica do Cepea. Antes disso, o maior valor registrado era de R$ 1,7815 por litro, em agosto/2016, em termos reais (dados deflacionados pelo IPCA de julho/2020). Desde o início de 2020, o preço do leite no campo apresenta alta acumulada real de 42,9% na “Média Brasil”. Esse avanço foi acentuado entre os meses de junho e agosto, quando os valores subiram 40,1%.

Nesse período, a valorização do leite ao produtor esteve atrelada à maior competição entre as indústrias de laticínios para garantir a compra de matéria-prima. A concorrência acirrada, por sua vez, está relacionada à necessidade de se refazer estoques de derivados lácteos, em um momento de oferta limitada no campo e de recuperação da demanda. É importante ressaltar que existe uma tendência típica de aumento das cotações ao produtor entre março e agosto, devido à sazonalidade da produção. Nesse período, a captação de leite é prejudicada pela baixa disponibilidade de pastagens, em decorrência da diminuição das chuvas nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste.

No entanto, neste ano, a situação foi agravada por três fatores: pelas condições climáticas mais severas, que impactaram a retomada da produção leiteira (com destaque para a estiagem na Região Sul do País), pelo aumento nos custos de produção em relação ao ano anterior e pelos efeitos encadeados associados à pandemia de Covid-19. Normalmente, as indústrias empenham esforços em compor estoques antes de abril, prevendo que a captação caia nos meses posteriores. Contudo, em abril deste ano, as perspectivas negativas sobre o consumo no médio e longo prazos diante da pandemia aumentaram o nível de incertezas e fizeram com que indústrias diminuíssem seus investimentos em estoques.

No entanto, o consumo de lácteos se recuperou em maio e até se aqueceu nos meses posteriores, ancorado nos programas de auxílio emergencial, contexto que reduziu ainda mais os estoques. Diante disso, os preços dos derivados lácteos seguiram avançando em julho e na primeira quinzena de agosto. O maior destaque é o queijo muçarela, derivado que registrou preço médio mensal recorde em julho e que deve ser superado também em agosto. A competição pela compra da matéria-prima e a baixa disponibilidade de leite resultaram em aumento das cotações no campo. O valor do leite spot (negociado entre indústrias) em Minas Gerais saltou de R$ 2,24 por litro na primeira quinzena de julho para R$ 2,75 por litro na segunda quinzena de agosto, expressiva elevação de 22,6%.

A média mensal de agosto, de R$ 2,66 por litro, superou em 12,2% a de julho e em significativos 68,1% a de agosto de 2019, em termos reais, esse é também o maior valor da série histórica do Cepea, iniciada em julho em 2004. Seria correto compreender que, com preços mais altos, a ampliação do fornecimento de concentrado e silagem seria estimulada, até que o volume de leite ofertado se equilibre à demanda, o que, por sua vez, poderia segurar o avanço nos valores do leite. De fato, essa resposta da produção tem ocorrido, conforme apontam os dados do ICAP-L, houve alta de 5,9% na captação de junho para julho.

Entretanto, o aumento da oferta tem ocorrido de forma mais lenta neste momento, devido aos efeitos desencadeados pelas incertezas no início da pandemia. A atípica queda de preços ao produtor em maio, a própria defasagem temporal no repasse das condições de mercado ao produtor (característica da cadeia do leite) e o aumento dos custos de produção em 2020 deixaram pecuaristas mais cautelosos. Muitos secaram as vacas ou diminuíram os investimentos. Essas ações dificultaram a retomada do crescimento da produção, já que a atividade leiteira é diária e seu planejamento tem efeitos tanto imediatos quanto nos meses posteriores. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.