24/Ago/2020
Os preços da cadeia láctea estão sustentados em elevados patamares de preços este ano. No mercado, a oferta de sólidos lácteos é baixa e a demanda está elevada, com forte aumento do consumo interno de leite e, até mesmo, das exportações lácteas. Do lado da produção, houve uma forte queda de preços do leite no 2º semestre de 2019 e preços baixos (mais baixos que em 2019) de janeiro até junho de 2020. Ao mesmo tempo, os preços de milho e soja estão altos. Como resultado, a rentabilidade do produtor de leite este ano (medida pelo indicador Receita Menos Custo da Ração) foi, no primeiro semestre, 15% inferior ao mesmo período do ano passado. Um RMCR em baixa trouxe impactos na produção de leite, que começou 2020 em desaceleração que se tornou mais forte no segundo trimestre do ano, conforme mostram os dados preliminares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A produção, que ainda cresceu 0,6% no primeiro trimestre de 2020 (corrigindo a produção de fevereiro de 2020 para 28 dias), decresceu 2,9% no segundo trimestre, resultando num primeiro semestre com -1,1% de leite produzido (produção formal) no País. Ao mesmo tempo, as importações seguiram sua tendência de redução, que já vinha sendo verificada no segundo semestre de 2019. Taxa de câmbio em alta e com grandes oscilações (o que aumenta consideravelmente o risco de câmbio do importador) resultaram em volume importado cerca de 36% menor entre janeiro e junho deste ano em relação ao ano passado. O primeiro semestre foi encerrado com quase 200 milhões de litros a menos em produção (considerando a correção de volume em fevereiro) e 215 milhões a menos em importações. Com isso, a disponibilidade per capita no primeiro semestre deste ano é cerca de 4% menor do que em 2019, acelerando a queda em maio e junho. Por outro lado, a demanda surpreendeu o mercado.
Com a pandemia, forte queda na atividade econômica, fechamento de canais de venda como pizzarias, shopping centers, restaurantes, padarias, etc., esperava-se por uma forte redução das vendas e do consumo. Mas, ocorreu exatamente o contrário. O auxílio emergencial do governo tem garantido a demanda. Esta ajuda tem sido fundamental para manter e aumentar as vendas de lácteos este ano. Além disso, alterações nos hábitos de consumo (mais refeições no lar, utilizando mais lácteos como manteiga, creme de leite e requeijão nas preparações) e mais dinheiro para gastos com alimentos (as gastos com roupas, combustíveis, veículos, etc caíram significativamente) também ajudaram a impulsionar o consumo de leite e derivados. Assim, mais demanda e menos leite disponível resultou em preços mais altos. O segundo semestre começou com forte elevação dos preços ao produtor. Assim, mesmo com soja e milho ainda elevados, favoreceu o RMCR.
Maior rentabilidade ao produtor tende a voltar a acelerar a produção de leite no segundo semestre. Ao mesmo tempo, e apesar da taxa de câmbio ainda elevada e muito oscilante, aumentam consideravelmente as importações de leite. A forte subida de preços em julho e agosto (e a perspectiva de aumento também no valor pago e setembro), vem aumentando a competitividade do produto importado, e os volumes de importação já cresceram quase 70% em julho em relação a junho. Assim, perspectiva de maior produção e de maiores importações significa cenário de aumento da oferta de leite no segundo semestre. A dúvida fica do lado da demanda e como ela deverá se comportar nesta segunda metade do ano. O auxílio emergencial tem sustentado um aumento significativo de consumo e o ritmo dos pagamentos indica que, ao menos até setembro, haverá esta influência no mercado. Depois disso, as projeções são incertas. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.