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03/Ago/2020

Carnes: frigoríficos adotam protocolos contra Covid

Quando o primeiro caso do novo coronavírus foi confirmado no Brasil, em 26 de fevereiro, a BRF disparou um plano de contingência que começara a ser desenvolvido em janeiro, a partir das notícias que vinham de Wuhan, na China, mas pareciam distantes da América do Sul. Com a chegada da Covid-19 a São Paulo, o nível de alerta na maior exportadora global de frango aumentou. Imediatamente, visitas de funcionários da sede às 34 unidades do grupo no País foram suspensas. Em meio a incertezas e desinformações, pois pouco se sabia sobre o comportamento da doença e o uso de máscaras ainda não era um consenso médico, começava ali um complexo protocolo de segurança para dar conta da dupla responsabilidade da indústria frigorífica. Afinal, havia dúvidas sobre como conciliar a saúde dos trabalhadores e garantir o abastecimento de alimentos. Cinco meses depois, os trabalhadores de abatedouros do País não passaram incólumes e autoridades chegaram a apontá-los como facilitadores da interiorização da doença.

Mas, quando se considera a dimensão dessa indústria, com cerca de 500 mil funcionários apenas nas unidades processadoras de frangos e suínos, o Brasil aparece em melhor situação que os Estados Unidos, que sofreram um baque significativo em abril, quando dezenas de frigoríficos fecharam por causa da contaminação massiva entre funcionários. Se a maior gravidade do problema norte-americano está associada ao grau de concentração da indústria: poucas unidades respondem pela produção de carnes, ao contrário do que ocorre no Brasil, também é verdade que os frigoríficos brasileiros adotaram antes medidas de precaução, muitos deles assessorados por infectologistas e consultorias. Na quinta-feira (30/07), a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) divulgou vídeo institucional sobre as medidas adotadas, citando protocolo de 256 páginas aprovado pelo Hospital Albert Einstein.

A estratégia de comunicação, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), é parte de um esforço setorial para mostrar o rigor do controle aos importadores, sobretudo da China, que suspendeu compras de seis frigoríficos brasileiros (2 da BRF, 2 da JBS, 1 da Marfrig e 1 da Minuano). A BRF afirma não ter conhecimento se, em algum lugar do mundo, se fez o que o Brasil fez. O Brasil nunca chegou nem perto de sofrer com a restrição de oferta que atingiu os Estados Unidos, que viram a produção de carnes cair à metade no auge da crise. A percepção é de que a indústria brasileira se saiu melhor que a de países concorrentes justamente por causa do protocolo adotado. Houve surtos do vírus e algumas plantas foram fechadas por decisões judiciais ou de prefeituras, mas o número foi pequeno e o abastecimento não foi afetado. Conforme relatório do Ministério da Agricultura divulgado no dia 15 de julho, nove frigoríficos sob inspeção federal estavam paralisados até 3 de julho por causa da Covid-19 entre os funcionários.

E é preciso ponderar que os frigoríficos não estão isolados do País, o que torna o desafio de conter a doença mais delicado já que no Brasil em geral não foi adotada uma estratégia de contenção bem-sucedida. Pelo contrário. A condução da pandemia no País é criticada por especialistas de todo o mundo. A BRF detalhou as medidas tomadas pela companhia para proteger os funcionários, e os resultados dessas ações, afirmando que hoje não há nenhum pico. A empresa chegou a ter alguns picos no Rio Grande do Sul, depois em Santa Catarina e em Goiás. Mas, agora os indicadores estão muito baixos. Desde o início, a BRF afastou, de forma remunerada, os trabalhadores dos grupos de risco. Foram 5 mil pessoas de um quadro de 80 mil pessoas que atuam no chão de fábrica. No total, a empresa tem cerca de 90 mil colaboradores. Para que a produção fosse mantida, o grupo fez contratações temporárias e o ritmo indica como a BRF foi aprimorando os planos. Em março, a empresa previu a contratação de 2 mil funcionários, número que passou a 5 mil poucos meses depois.

Até o momento, 6,7 mil pessoas já foram contratadas. O número de temporários cresceu porque, ao realizar o processo de busca ativa, afastando preventivamente aqueles que tiveram contato com colegas contaminados, a empresa viu que tinha que ampliar a reposição para preservar o nível de produção. Os afastamentos preventivos chegaram a 8 mil funcionários. Mesmo assim, nem sempre foi possível manter o nível de produção, também porque há um processo de aprendizagem entre os novos funcionários. No pior momento, que durou alguns dias e já foi superado, a BRF só conseguiu produzir 85% do que esperava. Paralelamente à gestão de pessoal, a BRF reforçou medidas de higiene e distanciamento, tarefa delicada dada as características de um abatedouro, espaço onde os funcionários trabalham, em alguns setores, ombro a ombro. O transporte, com a contratação de mais 400 ônibus, e a entrada nas fábricas também mudaram, já que a aglomeração era o “velho normal”.

Para implementar as medidas, a BRF instalou 18 mil metros quadrados de acrílico, sendo 10 mil para a separação nos refeitórios e o restante para o ambiente interno das fábricas, criando uma barreira onde o distanciamento físico não era viável. Os uniformes também ficaram mais rigorosos, com o uso de capacetes com viseiras e máscaras de pano. Por mês, a BRF passou a higienizar 230 toneladas de máscaras. Para ajudar a fiscalizar o cumprimento das regras, a empresa contratou 400 vigilantes, além de outras 500 pessoas para atuar na higienização. A empresa não revelou quanto foi investido, o montante será conhecido na divulgação do balanço trimestral, em 12 de agosto. A se considerar os investimentos feitos pela JBS, que divulgou o valor em comunicado ao mercado no dia 29 de julho, é possível dimensionar a magnitude do protocolo. Com 130 mil funcionários no País, o grupo gastou R$ 100 milhões no segundo trimestre com as medidas de saúde e segurança. Além disso, contratou mais de 10 mil pessoas para repor os trabalhadores de grupos de risco. Fonte: Valor Econômico. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.