06/Jul/2020
A China é de grande importância para os produtores de gado e para a indústria nacional de carne bovina. A atual dependência dos frigoríficos brasileiros em relação à China pode ser comparada ao papel exercido pela Rússia, mercado muito relevante para a pecuária brasileira no passado recente. Antes da emergência chinesa como grande importadora de carne bovina, eram as habilitações de frigoríficos pela Rússia e os embargos comerciais e sanitários aplicados pelo país que provocavam preocupações nos empresários do setor frigorífico.
Mas, se a Rússia já teve o poder de ocasionar abalos consideráveis nos preços da carne e do boi gordo, e era temida por isso, a verdade é que a importância da China é muito maior. No fim de 2017, a Rússia bloqueou todos os frigoríficos brasileiros, o que fez as indústrias despejarem um volume significativo de carne no mercado doméstico, pressionando as cotações em 2018. Atualmente, a China absorve aproximadamente 10% da produção brasileira de carne bovina. A Rússia representava 2% na época dos embargos. Do lado dos importadores chineses, os frigoríficos brasileiros têm a mesma importância que tiveram para os Rússia no passado (9% do consumo da proteína bovina no país é oriunda do Brasil).
A exposição brasileira à China é muito maior do que sua exposição perante a Rússia em 2017. O que ocorreria caso a China resolvesse restringir ou condicionar suas compras é uma dúvida e é necessário refletir sobre o assunto, especialmente neste momento crítico de pandemia. Em meio aos esforços para tentar conter a Covid-19, a China decidiu bloquear mais de 20 frigoríficos em todo o mundo (3 brasileiros).
As medidas aconteceram mesmo sem evidências científicas de que os alimentos transportados possam transmitir o vírus, e fontes do setor avaliam que a decisão da China visa a dar uma satisfação à população do país, uma estratégia que teria ganhado importância com a associação dos novos casos em Pequim à contaminação por meio de salmão comercializado em um grande mercado na capital chinesa. Apesar da dependência brasileira, a chance de uma redução do volume importado pela China é pequena porque o país ainda lida com a falta de carne provocada pela epidemia de peste suína africana (PSA), que restringiu a oferta de suínos.
De qualquer forma, toda atenção é necessária. O alerta deve permanecer ligado, já que a carne bovina tem um preço por tonelada maior que a proteína suína e a de frango e, caso o governo chinês encontre substitutos para a carne bovina brasileira, os preços pecuários poderiam ser impactados. No momento, o cenário para os pecuaristas brasileiros segue positivo. Com oferta restrita no campo, os preços do boi gordo seguem em um dos maiores níveis da história. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.