06/Jul/2020
O controle reforçado implementado pela China sobre os alimentos importados para tentar evitar uma segunda onda de contágio por Covid-19 deve atrasar o processo logístico. Segundo a Maersk, maior empresa de transporte marítimo do mundo, os navios que deixam os portos brasileiros com as cargas de carnes em direção ao gigante asiático vão demorar mais para voltar. O grande risco é que os contêineres fiquem mais tempo com os clientes. Não por vontade própria. Um contêiner indo para a China sofria inspeções randômicas e, agora, se cogita inspecionar mais detalhadamente para detectar que não há contaminação. Vale lembrar que, antes do maior rigor chinês (o aumento das inspeções entrou em vigor nas últimas semanas), a pandemia já havia aumentado o tempo de transporte. Em tempos normais, o contêiner ficava 13 dias com o exportador até embarque do navio. Atualmente, esse prazo passou para 17 a 20 dias. Também houve casos de contêineres carregados esperando 30 dias o adiantamento de importadores.
Os exportadores brasileiros de carnes aumentaram as exigências de adiantamento após sofrerem com uma onda de renegociação de contratos deflagrada pelos importadores chineses quando cargas estavam no mar. Além disso, o tempo em que o contêiner fica no país de destino, em processos como inspeção sanitária, também já havia aumentado, chegando a dobrar. O prazo, que era de três a cinco dias, agora é de dez dias, e tende a aumentar com as inspeções adicionais realizadas pela China. Com o aumento do prazo tanto na origem da carga quanto no país de destino, a produtividade é afetada. O tempo no qual o contêiner é utilizado para outros fins que não o seu objetivo de transportar aumenta em 25%. O contêiner está sendo utilizado como armazém. Apesar de aumentar a complexidade da operação dos armadores marítimos, a situação parece mais controlada do que em fevereiro, auge da pandemia na China. Naquele momento, os portos chineses entraram em colapso. Como as mercadorias não saiam dos portos do país asiático, em parte por causa da parada no transporte rodoviário, faltaram tomadas para manter a refrigeração desses contêineres.
Nesse cenário, os armadores tiveram de ficar com as cargas no navio ou redirecioná-las a outros portos da Ásia, como Cingapura e Vietnã. No Brasil e em outros grandes países produtores de carnes, alguns exportadores, especialmente de carne bovina, chegaram a sofrer com a falta de contêineres. De maneira geral, a situação foi contornada. Fevereiro foi o mês mais calamitoso e a Maersk arrendou navio para atender contêineres, mas os contratos foram honrados. A empresa transporta cerca de um terço dos contêineres refrigerados no mundo. O que existiu foi uma reclamação dos exportadores, não porque os contratos com os armadores deixaram de ser cumpridos, mas porque o volume de exportação, sobretudo da China, cresceu, e alguns exportadores venderam um volume além do contratado. Com o colapso dos portos chineses, isso virou um problema. Mas, esse cenário não deve se repetir. De fato, o volume de carne transportada vem crescendo, puxado pela demanda da China para suprir a escassez provocada pela epidemia de peste suína africana (PSA) que afetou severamente o plantel do país, maior produtor e consumidor de carne suína do mundo.
Segundo dados da Dataliner, as exportações brasileiras de contêineres refrigerados com carne de frango aumentaram 6,8% no primeiro trimestre, chegando a quase 35,6 mil unidades de 40 pés (em média, 27 toneladas do produto em cada contêiner). No caso da carne suína, o crescimento foi de quase 45%, para 5,6 mil contêineres. Por outro lado, os dados indicam que exportações de contêineres refrigerados com carne bovina caíram 5,4% no período, para 12,8 mil, embora os números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) registrem aumento da 2% no volume exportado no primeiro trimestre. Diferenças de metodologia podem provocar a divergência. No entanto, os dados de abril e maio de movimento de contêineres mostram que a exportação brasileira de carne bovina está aquecida e batendo recorde. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.