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03/Jul/2020

Leite: gerenciamento garante as margens do setor

A variação nos preços de insumos para alimentação animal, principalmente o concentrado, costuma ser uma preocupação constante do produtor de leite. A ração tem grande participação nos custos de produção, representando entre 9% e 66% dos desembolsos realizados. Assim, valorizações intensas nesses insumos podem comprometer o caixa das propriedades. Nos períodos em que os valores do concentrado se elevam acentuadamente, como o atual (os preços desses insumos aumentaram 8,5% de janeiro a maio de 2020 na “Média Brasil” (Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo), há, em geral, uma deterioração na margem da atividade leiteira. Diante da grande representatividade da dieta nos desembolsos, o produtor pode se ver tentado a diminuir a suplementação alimentar das vacas, no intuito de reduzir os custos e de restabelecer as margens. O problema, contudo, é que a produção de leite está diretamente ligada à alimentação.

Por isso, uma redução do fornecimento de concentrado pode levar à diminuição da produção de leite, piorando ainda mais o resultado financeiro da atividade. Com menos leite fica mais difícil diluir e remunerar os custos fixos da atividade. O milho costuma ser o principal ingrediente nas dietas, apresentando, portanto, influência no custo tanto das rações formuladas nas propriedades quanto dos produtos comerciais. Analisando-se as cotações dos concentrados proteicos e energéticos comerciais, observa-se correlação entre seus preços e os do milho, de forma que, a cada R$ 1,00 que se altera no valor do cereal, as rações comerciais tendem a ser reajustadas em R$ 0,32. Por mais que se observe uma retração nos preços do milho nos últimos dois meses, em função da alta produção na safra 2019/2020, o cereal está passando, desde 2019, por um processo de valorização, atingindo, em março, a terceira maior média mensal, em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-DI de maio/2020), desde 2005.

Na comparação anual, o milho acumula alta de quase 35% (em valores corrigidos pelo IGP-DI), ao passo que o valor médio do leite no mesmo período registrou queda de 14%, também em valores corrigidos, contexto que reduziu o poder de compra do produtor leiteiro. Enquanto em maio de 2019, eram necessários cerca de 23 litros de leite para aquisição de 1 saca de 60 Kg de milho, em maio de 2020, esse número saltou para mais de 36 litros. O mesmo se observa para as rações comerciais, com o poder de compra do produtor caindo 21% para o concentrado energético e 25% para o concentrado proteico, ambos na comparação anual. O cenário da relação de troca entre leite e milho para o segundo semestre de 2020 é mais positivo para o produtor de leite do que o atual. Os valores de ajuste diário dos preços futuros do milho do dia 15 de junho na B3 foram de R$ 44,50 por saca de 60 Kg para o contrato com vencimento em julho, de R$ 43,67 por saca de 60 Kg para o vencimento em setembro e de R$ 46,30 por saca de 60 Kg para o de novembro.

Considerando-se o valor médio líquido do leite ao produtor CEPEA/ESALQ de maio (R$ 1,3783 por litro), seriam necessários 32,3 litros para a compra de 1 saca de 60 Kg de milho em julho; de 31,7 litros em setembro e de 33,6 litros em novembro. Dessa forma, o poder de compra do produtor de leite no segundo semestre estaria maior do que o atual, mas inferior aos observados nos mesmos meses de 2019, quando a relação de troca estava entre 26 e 33 litros por saca de 60 Kg de milho. Do ponto de vista dos custos de produção, as variações nas despesas com a dieta dos animais são o principal risco. A fim de preservar suas margens, o produtor de leite deve utilizar ferramentas de gerenciamento de riscos para se proteger das variações do milho, principal ingrediente das dietas que apresenta correlação com os concentrados comerciais. O passo inicial consiste no planejamento da atividade, com a realização da projeção do consumo de alimentos pelo rebanho.

Dessa forma, o produtor terá informações importantes que possibilitam uma melhor programação de suas compras. Isso permite que produtores firmem, com antecedência, acordos com fornecedores de milho, travando o preço da compra. Para as propriedades com maior maturidade gerencial, também é possível, com intermédio de profissionais capacitados, fazer o uso do mercado financeiro, por meio de contratos futuros, para fixação de preços, e de opções, para se proteger das disparadas das cotações. Ao planejar a atividade e utilizar as ferramentas de gerenciamento de riscos, o produtor de leite se protege das variações de preços do mercado spot de milho. Com isso, é possível estabilizar o principal componente do custo de produção e beneficiar as margens da atividade. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.