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23/Jun/2020

Frango: desafio é produzir com estrutura enxuta

Segundo a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), a queda no desempenho do parque industrial no Paraná é uma tendência. O mais importante agora é ajustar a produção ao momento de pandemia e ficar atento à imprevisibilidade do mercado. No Paraná, o cooperativismo é cada vez mais representativo no setor de aves. Seu índice de participação na produção de carne de frango pulou de 23% em 2012 (761,8 mil toneladas) para 36% em 2019 (1.426,4 mil toneladas). A entidade, que destina 70% de sua produção de aves para o mercado interno, tem hoje 8 indústrias em sete cooperativas diferentes (com média diária de 2,5 milhões cabeças/abatidas) e perto de 2.500 produtores cooperados. Sobre as margens cada vez mais enxutas na relação custo de produção e valor de comercialização do frango, a entidade revela que desde março deste ano os valores estão oscilando e muitas vezes apresentando custo médio mais alto do que o preço de venda.

Naquele mês, o preço médio nominal mensal recebido pelos produtores (dados atribuídos à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento - Seab) era de R$ 3,23 por Kg enquanto o custo de produção atingia R$ 3,19 por Kg. Uma das equações que pode indicar margens mais curtas é a relação de troca entre o frango e o milho, insumo importante na dieta das aves. Em maio de 2019, 1 Kg de frango permitia comprar 7,17 Kg de milho. Um ano depois, com o mesmo peso em frango se comprava 4,55 Kg do cereal. Mesmo com a margem mais apertada, isso não representa uma realidade absoluta em termos de perdas para produtor ou outro componente da cadeia produtiva quando se trata de uma cooperativa: o setor trabalha com a equalização destes valores e muitas das vezes o produtor de frango é também um agricultor, ou seja, produz os insumos. Mais do que as margens, o que anda preocupando são aspectos pontuais do mercado interno e externo, como a situação com a China.

Caso os asiáticos cortem 30% que seja do que importam hoje, seria um grande problema e afetaria os preços internamente. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), nos primeiros quatro meses de 2020 os embarques de carne de frango paranaense somaram 539 mil toneladas, equivalente a 40,29% de todo o volume exportado pelo Brasil. Internamente, o setor teme que o governo brasileiro termine por suspender a ajuda financeira emergencial para a população de baixa renda. Caso isso realmente ocorra, poderá se tornar um complicador para o frango. Certamente este auxílio tem ajudado a puxar o consumo interno de proteína neste momento de crise. Caminhos para a sobrevivência de todos os elos da cadeia passam por maximização, eficiência, tecnificação e automação dos processos. Até agora, não houve nenhuma paralisação industrial no âmbito da avicultura da Ocepar em função de exigências judiciais para ajustes de operação diante da Covid-19.

Líder na produção e exportação de frango, a indústria do Paraná enfrenta o desafio de assegurar a atividade com estruturas mais enxutas e controle sanitário ainda mais rigoroso por causa da Covid-19. A pandemia trouxe duas situações distintas. A demanda se aqueceu, com exportações firmes e demanda interna crescente desde o início de maio. Por outro lado, o setor vem sendo bombardeado (no Paraná e em todo o País) por decisões judiciais que determinam a interrupção das atividades para que procedimentos sejam adequados, incluindo o redimensionamento do espaço físico e ocupação das instalações, além de providências sanitárias. A dúvida é como manter o ritmo de produção com toda essa pressão. Considerando que a avicultura do Paraná reúne 19.969 granjas de corte, emprega diretamente 50 mil pessoas e mais de 500 mil trabalhadores indiretamente (dados do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná - Sindiavipar), a tarefa não será fácil.

O maior desafio interno em tempos de pandemia nas 42 indústrias sindicalizadas vem sendo o controle do acesso de pessoas aos refeitórios, naturais pontos de encontro dos colaboradores. Neste sentido, estão sendo avaliados alguns ajustes, como a extensão entre 50% e 60% do intervalo de tempo de abertura para almoço. Fora do período normal de uma hora e meia, a ideia é encaixar e escalonar a ida de funcionários que trabalham em setores que me permitam fazer isso. Um deles é a expedição. Além da extensão do horário e escalonamento, o Sindiavipar orienta as indústrias a adotarem todos os procedimentos sanitários devidos e aconselha cada colaborador a se sentar sempre no mesmo local e manter distância segura dos demais: ninguém deve permanecer todo o intervalo de almoço dentro do refeitório. Este tempo médio de permanência de cada pessoa estimamos em torno de 20 minutos.

Nos setores de linha industrial, todas as unidades estão estabelecendo distâncias mínimas de 1,5 metro entre as pessoas. A distribuição é feita de forma que ninguém da equipe trabalhe de frente para outro. Na adoção de práticas de controle, há duas fases distintas: No início, em março, a insistência era para que toda a equipe lavasse corretamente as mãos. Agora a rotina é medir temperaturas. pesar do caráter passageiro de uma pandemia, o Sindiavipar acredita que frigoríficos adotarão novos modelos por definitivo. Indústrias a serem construídas possivelmente obedecerão a tendência de se instalarem em áreas mais isoladas dos centros urbanos, desde que haja logística eficiente. No entanto, é importante ressaltar o risco de contaminação dos funcionários fora dos portões da indústria. É praticamente impossível saber o que os funcionários fazem fora do trabalho.

Alvo de ação do Ministério Público do Trabalho (MPT) para conter a disseminação da covid-19 em ambiente industrial em suas duas unidades de processamento (uma de frango e outra de suínos), a Cooperativa Agroindustrial de Cascavel (Coopavel) não encontrou alternativa e reduziu todo o ritmo de produção em 25% de sua capacidade. No Friaves, os abates de frango caíram de 240 mil para 180 mil aves. O Frisuínos seguiu no mesmo ritmo: de 2.000 cabeças abatidas para 1.500 cabeças/dia. A redução já vinha acontecendo desde março, mas foi acentuada no início de junho, com as determinações judiciais de afastamento de alguns grupos funcionários, testagem em massa de toda a equipe e outras recomendações e exigências para proteção da saúde da equipe e de seus familiares. Só na Friaves, entre afastados, em férias e em licença, há perto de 200 funcionários. A equipe é de 4.000 colaboradores e foi necessário redimensionar espaços maiores para ocupação de uma quantidade menor de pessoas.

A produção caiu, mas o custo aumentou em até 8% com todas as alterações adotadas. A avaliação é de que o freio na produção é a forma atual para todas as indústrias se ajustarem ao momento de pandemia. Depois de uma ligeira queda em abril, o mercado interno reagiu entre 5% a 10% entre maio e a primeira quinzena de junho. Mesmo assim, é possível continuar atendendo às demandas de mercado, principalmente pelo fato de que teremos novos modelos de indústria de agora em diante, mais ajustados ao momento e mais funcionais em resultados. Até o dia 15 de junho, a Coopavel contabilizava o registro de 140 casos de Covid-19 na equipe do Friaves. Destes, 73 já se recuperaram e não houve óbito. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.