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26/Mai/2020

Boi: queda no preço da carne exportada para China

O preço da carne bovina brasileira exportada à China, que chegou à casa dos US$ 5 mil por tonelada no início deste ano, começou a perder força. Negócios com dianteiro bovino realizados este mês têm sido concretizados numa faixa entre US$ 4,2 mil e US$ 4,4 mil por tonelada. O valor dos novos contratos está abaixo dos US$ 4,7 mil por tonelada vistos entre o fim de abril e começo deste mês. Um dos fatores que explicam a queda dos preços é que a China, cuja economia se recupera da crise provocada pela pandemia de Covid-19, é atualmente o principal mercado comprador de proteínas do mundo, o que lhe dá mais poder de barganha na hora de negociar com os fornecedores de diferentes regiões. A pressão dos importadores para derrubar os valores da carne bovina preocupa frigoríficos exportadores de menor porte, que já falam em uma nova tentativa de renegociação de contratos por parte dos chineses, como ocorreu no começo deste ano. Mas, para o diretor de uma grande empresa do segmento, o recuo dos preços é normal e não indica uma tendência, pois a China sempre busca pressionar os preços.

A forte desvalorização do Real em relação ao dólar também explica a pressão para reduzir os preços, uma vez que a receita dos exportadores aumenta quando convertida na moeda brasileira, e o importador tenta se beneficiar disso. Ainda que seja um movimento pontual, a queda das cotações tem relevância pois atualmente a China é o principal cliente da carne bovina do Brasil, com 43,3% do total de 469,7 mil toneladas de produto in natura embarcados até abril, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec). De janeiro a abril, o país asiático importou 203,4 mil toneladas, mais que o dobro das 96,027 mil toneladas de igual período de 2019. A receita com as vendas ao mercado chinês cresceu 138%, alcançando US$ 1,056 bilhão no primeiro quadrimestre deste ano. Um dos motivos para esse peso grande no total exportado atualmente é que outros importadores, como países da Europa, ainda estão apenas começando a se recuperar da crise do novo coronavírus, e reduziram as compras significativamente.

A retomada no Oriente Médio está mais avançada, mas os volumes ainda não voltaram aos níveis anteriores à pandemia. Além disso, as vendas para os Estados Unidos recomeçaram, contudo os volumes são pequenos. O receio de que haja novo congestionamento nos portos chineses em algumas semanas, como ocorreu no auge da pandemia de Covid-19, é outro fator de pressão no mercado. Alguns exportadores estão fechando negócios a preços mais baixos para evitar ficar com carga parada no porto e ter custos maiores, caso isso aconteça. O temor de um congestionamento nos portos da China surgiu depois que autoridades do país asiático falaram em adotar medidas para evitar uma segunda onda de contaminação pelo novo coronavírus. Essas medidas implicariam reduzir número de trabalhadores nos portos, o que poderia afetar as operações portuárias. As cotações mais baixas não significam que a demanda chinesa tenha perdido fôlego, pois os fundamentos do mercado permanecem os mesmos.

A China vive uma escassez de proteínas causada pela epidemia de peste suína africana (PSA), que dizimou parte de seu rebanho de suínos, e precisa importar mais para preencher essa lacuna. No entanto, não há clareza sobre esses dados e alguns movimentos do governo chinês geram apreensão entre os exportadores. Recentemente, a China suspendeu as compras de quatro unidades exportadoras de carne bovina da Austrália, sendo duas da brasileira JBS, alegando questões sanitárias. Ao mesmo tempo, tem indicado a necessidade de fazer estoques. Tem demanda, mas os importadores estão apostando na baixa de preço. Apesar de estar em recuperação, a China não está compradora como estava antes da pandemia, pois ainda há reflexos do lockdown. A queda de preços também pode ser atribuída à maior oferta de carne bovina pelo Brasil, diante da demanda doméstica desaquecida no mercado doméstico.

Há tentativas de renegociação de contratos e os chineses ofertam atualmente US$ 4,2 mil por tonelada nos novos contratos de compra de dianteiro, ante US$ 4,6 mil a US$ 4,7 mil por tonelada na primeira semana de maio. Um outro fator que pode estar pressionando o mercado são as cargas de carne enviadas para a China sem ainda estarem vendidas para um importador local. Normalmente, as exportações de carne ao país asiático são feitas na modalidade de pré-pagamento, na qual o importador chinês paga antecipadamente um percentual do produto que será embarcado. Mas, recentemente, há importadores que estão evitando essa operação. Embora admita que uma tentativa de renegociação de contratos possa ocorrer, um executivo de uma grande indústria lembrou que esse movimento aconteceu no início do ano num quadro diferente do atual. Naquela ocasião, os portos do país asiático estavam fechados por causa da pandemia e do Ano Novo Chinês. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.