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29/Abr/2020

Boi: recua o spread entre cortes nobres e baratos

Restaurantes e churrascarias fechados, menos churrascos nos fins de semana, mais gente cozinhando e comendo em casa no dia a dia. Essas são algumas das consequências das medidas de isolamento adotadas em várias regiões do País desde meados de março para conter o avanço do novo coronavírus, e elas mudaram não só a vida dos consumidores como também o mercado de carne bovina. Um dos efeitos foi a redução expressiva do spread entre os preços do traseiro e do dianteiro bovino. Ou seja, a diferença de preço entre uma carne mais nobre (traseiro) e uma mais simples (dianteiro) ficou menor. No começo do ano, a diferença entre o preço do traseiro 1x1 (forma de comercialização do traseiro com osso separado do restante da carcaça) e do dianteiro 1x1 (dianteiro com osso separado do restante da carcaça) no atacado de São Paulo era de quase 48%.

O traseiro estava, no dia 2 de janeiro, em R$ 16,20 por Kg e o do dianteiro, em R$ 10,95 por Kg. No dia 24 de abril, quando o traseiro 1x1 era cotado a R$ 14,30 por Kg e o dianteiro 1x1, a R$ 11,95 por Kg, esse spread era de 19,7%. Um mês antes, no dia 24 de março, a diferença era de 33,7%. Há uma série de razões para esse afunilamento no spread entre o traseiro e o dianteiro bovino. Uma delas é a queda brusca na demanda do food service, após o fechamento de restaurantes, bares e hotéis por causa da pandemia de Covid-19 no Brasil. Os cortes nobres do traseiro vão para o food service e, principalmente, para alta gastronomia. Com todos os restaurantes fechados, a demanda caiu. Ao mesmo tempo, houve perda do poder de compra do consumidor por causa da crise do novo coronavírus, o que leva à procura por cortes mais baratos, como os do dianteiro.

Além disso, muitos consumidores passaram a comer mais em casa devido às medidas de isolamento social. E para essa refeição do dia a dia, o consumidor normalmente compra cortes mais baratos. Também não está havendo churrascos, quando normalmente são consumidos cortes mais caros. O consumo forte de hambúrguer, principalmente nos serviços de delivery, também ajuda a compor esse quadro de valorização dos cortes de dianteiro. Outro motivo para a redução na diferença entre os preços é o aumento na oferta de traseiro bovino no mercado brasileiro. Isso ocorre porque a Europa, o principal mercado para esse tipo de corte, praticamente interrompeu as importações, uma vez que só agora começa a flexibilizar a quarentena, depois de ter sido fortemente afetada pelo novo coronavírus. Os cortes bovinos exportados para a Europa destinam-se quase em sua totalidade para o food service, que ficou paralisado recentemente em decorrência da pandemia.

Enquanto as vendas de traseiro para a Europa despencaram, as exportações para a China, que compra principalmente dianteiro bovino, estão firmes. Esse foi outro fator que contribuiu para valorizar o corte menos nobre. Por enquanto, sobram incertezas em relação ao futuro pós-pandemia em todos os setores da economia. Mas, novas formas de consumo adotadas durante a quarentena podem perdurar. A sociedade pode sair desta fase com hábitos diferentes, com menor frequência em restaurantes, por exemplo. Há espaço para que a diferença dos preços do traseiro e do dianteiro diminua mais nos próximos meses. Continuando a demanda mais forte para essa carne bovina de menor valor, o cenário tende a se manter, o que pode sustentar os preços do dianteiro e seguir pressionando os do traseiro. Enquanto o food service e as exportações para a Europa não se normalizarem, a tendência deve persistir. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.