22/Abr/2020
Os preços do leite no mercado spot (negociação da matéria-prima entre laticínios) voltaram a recuar na primeira quinzena de abril, aprofundando um quadro visto na segunda metade de março, quando as cotações começaram a ceder sob os efeitos da quarentena para conter o avanço do novo coronavírus no País. Os preços nesse tipo de negociação caíram 8,0% em São Paulo nos primeiros 15 dias de abril em comparação com a segunda metade de março, para R$ 1,488 por litro, em média. No Paraná, o recuo foi 7,0%, para R$ 1,442 por litro, e, no Rio Grande do Sul, de 7,9%, para R$ 1,450 por litro. Em Minas Gerais, a retração entre a segunda quinzena de março e a primeira de abril foi de 6,1%, para R$ 1,473 por litro. Em Goiás, a queda quinzenal foi de 2,5%, a R$ 1,455 por litro, em média.
No começo de março, os preços da matéria-prima no spot tinham registrado alta depois de uma corrida de consumidores ao varejo para se estocar, o que elevou as vendas de leite longa vida e seus preços. Mas, as medidas de isolamento social afetaram o food service, como restaurantes e bares, o que reduziu a demanda por queijos. Isso levou empresas do segmento de queijos, principalmente as de menor porte, a ofertarem leite cru no mercado spot, uma vez que viram a demanda minguar. Há uma maior oferta advinda dos queijeiros, segmento que está com dificuldade de vendas, e por isso têm ofertado mais leite no mercado spot. Com a maior disponibilidade de leite para processamento pelas indústrias, os preços caíram.
Nesse cenário de maior oferta de matéria-prima, as cotações do leite longa vida no atacado, na primeira quinzena de abril também recuaram, após terem se valorizado nas duas quinzenas de março, quando a demanda no varejo estava aquecida. O atacado de São Paulo, Minas e Goiás registrou queda de 4,6% na primeira metade deste mês, para R$ 2,64 por litro. Na quinzena anterior, havia subido 7%. A muçarela, produto largamente consumido no food service, teve recuo de 3,1% na média desses três Estados nos primeiros 15 dias deste mês, para R$ 17,74 por Kg. A queda na demanda por queijo do food service é um problema grave do setor hoje. Boa parte do queijo vai para food servisse, que reduziu quase 100%.
Existe uma sobra de leite hoje no Brasil, que foi absorvida num primeiro momento pelas indústrias de leite longa vida. Mas, como as indústrias conseguiram abastecer o mercado, a tendência agora é começar a diminuir a produção de leite longa vida para estabilizar a oferta com a procura. Com isso, deve sobrar leite no campo. Não se sabe o que o produtor de leite irá fazer para equilibrar oferta e demanda. Há possibilidades como a diminuição da ração das vacas para reduzir a produção e o descarte das mesmas. O fato é que existe um problema: a vaca não sabe que o mundo está passando por uma pandemia e continua dando leite. Se não houver um equilíbrio da oferta, existe o risco de acontecer o que está acontecendo nos Estados Unidos, onde toneladas de leite estão sendo descartadas nas fazendas. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.