20/Abr/2020
O atual nível do dólar favorece as exportações brasileiras de carne bovina mesmo em um cenário em que muitos importadores estão fazendo compras mínimas, devido a questões relacionadas à pandemia do novo coronavírus. O volume exportado no primeiro trimestre foi recorde. Ainda que as exportações possam beneficiar a pecuária nacional, a demanda doméstica, que absorve 75% da produção, é o fator com maior potencial de impactar a precificação do boi gordo. Isso porque a redução súbita da atividade econômica aumenta o desemprego, diminui a renda e, consequentemente, o consumo. Em relação às exportações, é destaque a volta da China às compras, o que deve manter firme a demanda por novilhas e bois com até 30 meses, requisitos para atender o mercado chinês. Os frigoríficos que vendem à China estão pagando valores superiores aos do boi gordo destinado ao mercado interno, onde há queda na demanda em função da quarentena.
Ainda que o retorno da China ao mercado seja um fator positivo, a economia mundial sente os efeitos do novo coronavírus. Outra preocupação é a queda dos preços do petróleo no mercado internacional, o que poderia afetar a demanda por carne de países exportadores do óleo, como os do Oriente Médio e a Rússia. A redução dos preços do petróleo também pode influenciar os custos com alimentação. A baixa das cotações do óleo desestimula a produção de etanol, que nos Estados Unidos é feito de milho. O período atual é de início de plantio de milho nos Estados Unidos, maior produtor do grão, que destina parte importante da produção para o biocombustível. Os acenos da China para a compra de soja do país, associados às incertezas com o petróleo, podem afetar negativamente a área de milho. Uma área menor que a projetada inicialmente para o milho pode ajudar a amenizar os efeitos da demanda menor em nível global pelo cereal.
De toda forma, as projeções no Brasil são de estoques finais muito enxutos de milho, o que poderia ser afetado por uma redução de demanda. Ainda assim, a expectativa continua a ser de alta dos custos da alimentação do gado. Apesar da turbulência por causa da pandemia, o ano deve ser de retenção de fêmeas na pecuária bovina no País. A valorização dos preços dos bovinos de reposição e a perspectiva de resolução da epidemia no Brasil, de alguma forma, justificam a expectativa. Dessa forma, num cenário de alta dos preços dos bovinos de reposição, cotação do milho nos atuais patamares e preços futuros do boi gordo pouco atrativos, a perspectiva é ruim para os resultados do confinamento. Uma queda no volume de bovinos sob engorda intensiva pode ajudar o mercado no segundo semestre, elevando o ágio pago pelos bois destinados ao abate para a China. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.