17/Abr/2020
Quando a pecuária de leite no Brasil ensaiava uma ligeira recuperação, surgiu o novo coronavírus. As perspectivas para o setor, segundo a Embrapa Gado de Leite, não são muito diferentes do resto da economia. É difícil prever o que irá acontecer, pois não se sabe nem quanto tempo deve durar esse contexto, mas a expectativa é de retração. O setor vinha sofrendo desde 2013 com o cenário econômico ruim, a produção brasileira ficou praticamente de lado nos últimos ano e 2020 iniciou com baixo crescimento devido à seca na Região Sul do País. Agora, inicia a entressafra do leite, que prometia maiores ganhos para os produtores, mas toda a cadeia produtiva terá que se ajustar ao novo cenário. Entre os consumidores, o efeito imediato da crise, desde que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou a pandemia, foi de correria às padarias e supermercados.
É o chamado "efeito pânico", com as pessoas comprando produtos estocáveis, como o leite UHT e leite em pó. Mas na medida em que a população percebeu que o abastecimento não seria comprometido, as compras voltaram ao normal. O que preocupa é uma terceira onda: a queda no poder aquisitivo da população, que tem efeito direto no consumo de produtos lácteos. Isso pode ser muito prejudicial para o setor e terá como consequência uma reorganização da cadeia, com a redução do número de produtores e laticínios maiores absorvendo os menores. Haverá uma maior concentração e produtores podem sair do mercado, com os mais estabilizados ocupando o espaço deixado, o que já vem ocorrendo de forma natural nas últimas décadas, mas que deve se intensificar. O mercado global também passará por sensíveis mudanças e grandes exportadores como Austrália, Nova Zelândia e Uruguai podem sofrer importantes impactos com o recuo do comércio.
Existem riscos de revés na globalização e abertura de mercados. Todos estão olhando para dentro neste momento e a economia mundial pode encolher. Neste aspecto, o Brasil tem suas vantagens, por ter uma grande população e disponibilidade de insumos produtivos. Se há algo menos negativo na pandemia é que a indústria de alimentos sofre menos, já que não pode haver um lockdown na produção agrícola, pois as pessoas precisam se alimentar. Houve também uma redução no preço de alguns insumos como o milho na última semana e do farelo de soja, mas ainda seguem em valores historicamente altos. A pecuária de leite tem como característica uma recuperação lenta. O rebanho que for reduzido hoje para se adaptar à nova realidade de mercado pode demorar até quatro anos para ser recomposto. Fonte: Embrapa Gado de Leite. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.