ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

06/Abr/2020

Boi: demanda por carne tem forte queda no Brasil

A rotina enclausurada dos brasileiros está preocupando os frigoríficos e açougueiros. Se é verdade que o consumo em casa aumentou, o que até chegou a provocar corrida aos supermercados, também já está claro para empresários e executivos da indústria de carne que a venda no Brasil virou um desafio. Com o churrasco praticamente suspenso e lanchonetes e restaurantes fechados, não há demanda para os cortes nobres, o que já obrigou os frigoríficos de médio porte a congelar picanha, uma medida incomum. As vendas dos cortes nobres, os mais apreciados e com preços mais altos na composição do boi (10% da carcaça bovina), caíram mais de 50%. Como a carne bovina é a proteína mais cara, os consumidores acabam optando pela carne de frango e pelo ovo. É consenso entre os executivos do setor no País, com exceção dos exportadores, beneficiados pelo câmbio e pela retomada da demanda da China, que a situação das indústrias está longe de ser confortável.

Para boa parte das empresas, o mercado doméstico é o polo de escoamento. Embora o Brasil lidere as exportações mundiais de carne bovina, 75% da produção do País fica no mercado doméstico. Além disso, as maiores indústrias (JBS, Marfrig e Minerva Foods) concentram as exportações, respondendo por metade dos embarques. E nem mesmo as grandes estão imunes ao cenário de margem de lucro apertada, uma dificuldade que já antecedia às tormentas provocadas pela Covid-19. Vale lembrar que o ritmo de abates em frigoríficos fiscalizados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), que respondem por mais de 70% das atividades formais, caiu no primeiro bimestre e, no dia 31 de março, o Ministério da Agricultura divulgou um relatório com dados parciais que indicaram que a retração se aprofundou no mês de março. No primeiro bimestre, as 224 unidades com SIF abateram 3,5 milhões de cabeças, queda de 12,6% ante o mesmo período de 2019.

Com os dados de março, os abates trimestrais teriam amargado queda de 24%. Os abates recuaram e a tendência deverá continuar em abril. Para os frigoríficos, o problema não se resume à fraqueza da demanda interna. A oferta de boi gordo, matéria-prima que corresponde a cerca de 80% do custo de produção, é restrita. Os pecuaristas tentam ao máximo segurar o preço do boi gordo na faixa de R$ 200,00 por arroba (em São Paulo), uma referência para o restante do País. E, ainda que a retomada da demanda chinesa represente apenas a volta de um mercado que compra menos de 10% da produção brasileira, é o suficiente para sustentar o preço enquanto as pastagens são boas, o que mantém o preço do boi gordo quase 30% mais elevado do que há um ano. É neste cenário que os frigoríficos se movem, paralisando temporariamente as atividades em abatedouros que, em geral, têm no mercado interno um peso mais relevante. Proteger as margens é o objetivo.

Se em períodos normais as férias coletivas de frigoríficos já têm essa função, com a parada de plantas em períodos sazonalmente de menor oferta, que varia de acordo com a região, a estratégia ganha força em tempos como os atuais. No mês passado, JBS paralisou, por 20 dias, cinco frigoríficos. Paralelamente, a empresa está ampliando os abates em Barra do Garças (MT), unidade que tem habilitação para exportar à China, e dando férias coletivas nas plantas de Água Boa (MT) e Coxim (MS), dependentes das vendas domésticas. Pelo gigantismo (37 abatedouros no País), a JBS é o grande frigorífico que mais depende das vendas no mercado interno. Mas, a situação também atingiu as outras companhias. Em 23 de março, a Minerva paralisou, por entre 10 e 15 dias, quatro de seus nove abatedouros no Brasil, o que é mais, proporcionalmente, do que fez a JBS. Na ocasião, a companhia informou que a decisão estava alinhada à piora dos cenários doméstico e global, que inclui queda da demanda no segmento de food service e limitações logísticas em diversas partes do mundo, além de ser uma medida que ajuda a conter o coronavírus.

No caso da Marfrig, a revisão do parque fabril já vinha desde 2019, com o fechamento de três abatedouros e a ampliação da unidade de Várzea Grande (MT), habilitada pela China. Em meio à restrição de gado e às turbulências internas, a companhia está abatendo menos e também poderá lançar mão de férias coletivas em Mineiros (GO), tendo em vista que abril é um período de menor oferta de boi nessa região. No Brasil, o grupo tem 12 abatedouros. Nesse cenário, há quem avalie que a demanda enfraquecida reduzirá o preço do boi, apesar da resistência dos pecuaristas e da oferta restrita. Segundo o Itaú BBA, o mercado interno é importante e está enfraquecido. Além disso, nem todos os importadores estão se recuperando como a China. Na Europa, mercado nobre, as vendas estão paralisadas. A chegada da entressafra das pastagens, em maio, poderá exercer pressão baixista sobre o boi gordo. O volume de chuvas diminui e a suplementação está ficando cara. É uma vantagem a menos para segurar os bovinos. Dependendo do fluxo de caixa, o produtor será obrigado a vender. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.