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26/Fev/2020

Suíno: potencial do biogás é expressivo no Brasil

O potencial de biogás do Brasil, considerando todas suas fontes, corresponde a até duas vezes o volume médio de gás natural importado da Bolívia, segundo dados do Plano Nacional de Energia Elétrica (PDE) 2029. A ideia é utilizar o combustível para substituir o diesel, além de misturar o insumo ao gás natural fóssil na malha de gasodutos. Se no Brasil essa tecnologia está começando a aumentar sua presença na matriz energética, na Europa já são 17,5 mil plantas que produzem energia por meio do biogás. A Alemanha lidera o ranking, com 10 mil empreendimentos. O avanço se deu em meio aos conflitos entre Rússia e Ucrânia pelo gás, a partir de 2009, que cortaram o fornecimento para o país - até então, 40% do gás que abastecia os alemães chegavam por esse caminho. O que poderia levar um empresário há 40 anos no ramo da indústria a começar a criar suínos? Segundo Romário Schaefer, dono da cerâmica Stein, no Paraná, os dejetos dos suínos de sua propriedade no município de Entre Rios do Oeste (PR), a 133 quilômetros de Foz do Iguaçu, são matéria-prima para a produção de biogás.

O combustível abastece um gerador que reduziu a conta de luz da empresa pela metade. Antes um problema ambiental, os resíduos da produção agropecuária passaram a ser fonte de renda para produtores do oeste do Paraná e, entre os mais entusiasmados, já é chamado de “pré-sal caipira”. Para gerar o combustível é preciso instalar um biodigestor, estrutura que permite o tratamento do esterco. Com um investimento inicial relativamente elevado, de R$ 75 mil a R$ 100 mil, o negócio se tornou viável por meio do enquadramento como geração distribuída (GD), na qual o consumidor passa a gerar sua própria energia. A modalidade, que conta com subsídios pagos por todos os brasileiros na conta de luz, é mais conhecida pelos painéis solares, mas vai muito além e inclui a energia gerada por eólicas, bagaço de cana-de-açúcar, aterros sanitários e, também, pelo esterco de animais. Quem viaja pelo oeste do Paraná normalmente se limita a visitar as famosas Cataratas do Iguaçu.

Aqueles que ficam mais dias podem passar também pelo Paraguai, para compras, e pela usina de Itaipu, segunda maior hidrelétrica do mundo. Mas, no caminho desses destinos, o turista logo vai perceber que o que movimenta a região mesmo é o agronegócio. O Paraná é o maior produtor de suínos do País. Em aves, perde apenas para Santa Catarina. E foi há 12 anos, ao longo das vistorias no reservatório de Itaipu, de 1.350 quilômetros quadrados, que técnicos perceberam o acúmulo de proteína animal, proveniente dos dejetos da produção agropecuária da região. Somente o oeste do Estado concentra 4,2 milhões de suínos, 105 milhões de aves e 1,3 milhão de bovinos. Para se ter uma ideia, a estimativa é que, por ano, eles gerem resíduos equivalentes à água que desce nas Cataratas do Iguaçu por cinco minutos. Estender a vida útil da usina de Itaipu ao máximo - hoje estimada em 182 anos - passa por ações que evitem o assoreamento de seu reservatório.

Para isso, era vital encontrar uma forma sustentável de lidar com esses resíduos. Em razão dessa necessidade, Itaipu, por meio do Parque Tecnológico da hidrelétrica, firmou parceria com o Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBiogás). As análises do CIBiogás mostraram que uma propriedade com 800 suínos pode gerar luz suficiente para abastecer 23 residências. Para isso, é preciso tratar os dejetos e separar o biogás. De acordo com especialistas, é um composto gasoso resultante da degradação anaeróbia de matéria orgânica por micro-organismos. O processo gera também digestato, um fertilizante natural. De acordo com o diretor-presidente do CIBiogás, Rafael González, a agroindústria da Região Sul do País tem potencial para produzir 3 bilhões de metros cúbicos de biogás por ano, o suficiente para abastecer 2,5 milhões de casas populares. Schaefer, da cerâmica Stein, não tinha experiência no agronegócio. Foi a possibilidade de economizar energia que motivou o industrial a investir na criação de suínos.

A família tem a cerâmica Stein há 40 anos e produz 40 mil tijolos por dia, com faturamento mensal de R$ 500 mil. Em 2012, Schaefer comprou um forno contínuo, que funciona 24 horas e não pode ser desligado. O gasto com eletricidade aumentou consideravelmente. Em 2013, ele investiu R$ 300 mil na construção da granja e na compra de um biodigestor e de um gerador próprio. Começou com 3 mil suínos. O biogás gerado - 446 metros cúbicos por dia - rende 28 megawatts-hora por mês, energia integralmente utilizada na indústria. O gerador é ligado entre as 18h e 21h, horário de ponta, quando a distribuidora local pode cobrar cinco vezes mais pela energia. Mais recentemente, o industrial automatizou processos da cerâmica e decidiu dobrar o plantel para 7 mil suínos. Agora, o biogás será também queimado diretamente em seus próprios fornos. O retorno do investimento se deu em três anos. E Schaefer conseguiu reduzir sua conta de luz pela metade, para cerca de R$ 30 mil mensais. O industrial doa o biofertilizante gerado para os vizinhos. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.