ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

24/Jan/2020

Suíno: os desafios para combate da PSA no mundo

A peste suína africana (PSA) é uma enfermidade que ataca os suídeos domésticos e asselvajados (javalis e cruzamentos com suínos domésticos) e é causada por um vírus de grande virulência, caracterizando-se essencialmente por sua forma hemorrágica, ou seja, os sintomas clínicos podem ser febre alta, perda de apetite, letargia, hemorragias na pele e órgãos internos, com alta mortalidade, entre 4 e 10 dias. Não existem vacinas para peste suína africana e 70% das causas de difusão da doença são derivadas da ação humana. Desde meados de 2018, casos da enfermidade começaram a ser registrados na Europa e, na sequência, na Ásia. Até outubro de 2019, a China já havia abatido 1,19 milhão de suínos. Relatório do Rabobank estima que a queda na produção de suínos na China pode ter atingido entre 25% e 35% em 2019. No Vietnã, há registro da enfermidade em todas as províncias, com mais de 5,6 milhões de animais sacrificados.

Estimativas da Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) até outubro de 2019 indicam que o continente asiático soma quase 7 milhões de suínos sacrificados. A alta velocidade de espalhamento na Ásia decorre, em especial, dos seguintes fatores: elevada densidade de granjas; muitos dos países da região carecem de controle da movimentação e do abate de animais; intensa circulação ilegal de animais entre países da própria região; falta de mecanismos de compensação aos produtores na maioria dos países. Dessa maneira, muitos produtores vendem os suínos quando percebem sinais da doença. Um fator que agrava a situação de disseminação da doença é que as granjas têm muita água no solo e, ao se enterrar os suínos abatidos infectados, o vírus vai para a água. Na Europa, o grande desafio em relação a difusão da PSA encontra-se na movimentação de animais selvagens, cujo controle é inviável. A América, por enquanto, é o único continente não infectado.

Na região, as fronteiras terrestres são o maior fator de risco, pois não existe forma de controlar 100% da movimentação de animais (tampouco de pessoas) entre os países, principalmente em áreas de fronteira seca, sem rios e florestas. Sendo assim, a vigilância em grande escala é fundamental para prevenir a entrada do vírus e para a detecção precoce de uma eventual introdução da doença. Os Estados Unidos são referência nesse aspecto, com uma forte cultura de biossegurança entre os produtores e um serviço sanitário com sistema de monitoramento e de ação rápida em casos de crise quando são identificados focos de doenças. É interessante ressaltar que o Serviço de Inspeção Sanitária de Plantas e Animais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a partir do modelo de simulação InterSpread e de um modelo econômico de equilíbrio parcial, já realizou um estudo sobre potenciais impactos de uma eventual introdução da PSA nos Estados Unidos.

Os resultados desse estudo mostram que, na média, um surto de PSA nos Estados Unidos poderia gerar uma perda econômica líquida com magnitude entre US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões. No caso de um surto de grande magnitude, o prejuízo poderia chegar a US$ 12 bilhões. Os pesquisadores consideram que, ainda que o modelo não seja totalmente adequado em relação à realidade, estes resultados são importantes para a tomada de decisão, isto é, para a escolha de estratégias na formulação dos planos de resposta e controle, em caso de crises sanitárias relacionadas à PSA. Os países das Américas, enquanto grupo junto à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), organizaram um Fórum sobre PSA e sobre Inquéritos aos Serviços Veterinários e Capacidades de Diagnóstico em abril de 2019, em Otawa, no Canadá.

No evento, avaliou-se a situação epidemiológica atual no continente, foram acordadas linhas de trabalho em conjunto e planejadas atividades para reforçar a biossegurança, coordenação e comunicação dos riscos entre os países do continente. Em continuidade a estas atividades, houve ainda uma reunião em setembro de 2019 no Panamá de um grupo de especialistas em PSA dos países das Américas, com discussões e possíveis ações relacionadas às áreas de biossegurança, fronteiras, comunicação e animais selvagens. Em dezembro de 2019 outras duas reuniões desse grupo de trabalho foram realizadas: no México, onde foram discutidas questões sobre testes de laboratórios sobre a doença e na Colômbia, momento em que foram apresentadas as ações já realizadas em cada país em relação à PSA e também uma agenda para 2020 com novas ações conjuntas, como os riscos de introdução da enfermidade nos países da América.

Quanto ao Brasil, de acordo com estimativas da Embrapa, os prejuízos de uma introdução de PSA no País, cuja população de suínos é cerca de dois terços da norte-americana, seriam em torno de US$ 5,5 bilhões. Contudo, destaca-se a dificuldade de se estimar valores, tendo em vista as particularidades da produção nacional e de parâmetros de dispersão, assim como a diferença nos sistemas de vigilância e de monitoramento. Há recomendações elencadas pela Embrapa para a prevenção da entrada do vírus da PSA no País. Destacam-se: necessidade de reportar imediatamente os casos suspeitos ao Serviço Veterinário Estadual; garantir um diagnóstico laboratorial rápido; necessidade de treinamento e capacitação de veterinários e produtores para reconhecer a doença; e, sobretudo, buscar adequar o sistema nacional de vigilância com base em fatores de risco para a PSA, garantindo apoio legal e provisão de recursos (fundos, diagnóstico) para a implementação de medidas de controle.

O desafio para o Brasil é trabalhar a cultura das notificações entre os produtores rurais (vigilância passiva), ao mesmo tempo em que se discute o formato de composição e funcionamento de um fundo ou sistema de financiamento da vigilância e para indenização passível de ser criado para dar um suporte técnico e financeiro para os produtores em situação de crise. Adicionalmente, é importante a modernização do sistema de vigilância ativa, incorporando cada vez mais o instrumento de análises de risco na tomada de decisão e as novas tecnologias disponíveis para monitoramento, integração de bases de dados, entre outras facilidades disponíveis, que permitem reduzir o custo dos serviços e aumentar a eficiência. O Brasil tem muito a perder com as doenças que acometem rebanhos, perdas que vão além da produção e das transações comerciais, que causam impactos socioeconômicos importantes e que podem ter efeitos de longo prazo na imagem do País. Imagem, esta, que ainda precisa ser comunicada de forma mais fidedigna e confiável, informando os consumidores dos países importadores sobre a qualidade, inocuidade e confiabilidade dos produtos agroindustriais nacionais, particularmente, em termos sanitários. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.