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23/Jan/2020

Boi: China pressiona rentabilidade dos frigoríficos

Às vésperas do Ano Novo Chinês, os exportadores de carne bovina da América do Sul ainda tentam se refazer da “ducha de água fria” despejada pela China. Devido ao massivo movimento de renegociação dos contratos de exportação ao país asiático, os frigoríficos brasileiros já trabalham com margem negativa nas vendas para seu maior cliente. A esperança é que, após as festividades, o mercado chinês comece a se equilibrar, refletindo um cenário que ainda é de restrição na oferta de carne suína. Na indústria frigorífica brasileira, em especial as de pequeno e médio porte, o humor quase não lembra o clima de euforia vivido poucos meses atrás, quando a disparada das cotações da carne bovina parecia não ter fim na China. Nas vendas à China, o resultado está no vermelho em algumas indústrias brasileiras. No auge, a margem de contribuição chegou a 20%, mas os novos contratos e os renegociados embutem uma margem de 8% a 9%, o que dá um resultado líquido negativo.

Desde dezembro, os importadores chineses vêm impondo descontos de pelo menos US$ 1.000,00 por tonelada sobre cargas que já estavam no mar e até mesmo nos portos do país. Há relatos de pedidos de US$ 2.500,00 por tonelada, deságio significativo. O dianteiro bovino chegou a ser exportado por US$ 7.200,00 por tonelada, nível que encontrou resistência nos consumidores chineses. Atualmente, as cotações estão mais perto de US$ 4.200,00 por tonelada, preço considerado insuficiente para sustentar o preço do boi gordo. Em São Paulo, referência para os preços no restante do País, o boi gordo é negociado a R$ 192,60 por arroba. Para acompanhar o preço atual do boi gordo, é preciso de US$ 4.800,00 a US$ 5.000,00 por tonelada na China. A avaliação geral é que a disparada dos preços no fim do ano levou a carne bovina a níveis fora da realidade, tanto na China como no Brasil.

Nesse cenário, a demanda demonstrou resistência. Mas, esse não foi o único fator. A ação do governo chinês também contribuiu. Em meios aos esforços do governo para debelar a inflação em um momento crítico, pois o país sofre com uma epidemia de peste suína africana (PSA), as linhas de crédito para distribuidores do país asiático sofreram restrições para evitar a especulação. Com isso, a carne teve de ser escoada. Muitos também não conseguiram honrar os preços acertados anteriormente, o que levou às renegociações. Como praxe, a indústria exportadora recebe adiantado 30% do valor da carne. Mas, a desvalorização da carne no mercado chinês foi maior que o pré-pagamento aos frigoríficos. Nesse cenário, o importador prefere não honrar os compromissos. A perda seria maior se os contratos fossem cumpridos.

O problema é que, nessa situação, os frigoríficos do Brasil, e também de outros países, como Uruguai e Argentina, ficam sem saída. Diante da importância crescente da China no comércio de carnes, ninguém quer abrir mão do país asiático, mas há quem defenda uma atuação coordenada para pedir adiantamentos maiores, da ordem de 50%. Uma ponderação é que, passado o Ano Novo Chinês e a ressaca posterior às festividades, a demanda do país retornará. As cotações, no entanto, devem ficar distantes dos momentos de maior alta. Para a indústria de carnes, a retomada da China é crucial. Em 2019, os embarques de carne bovina do Brasil para o país asiático renderam US$ 2,7 bilhões, 35% do total. Incluindo Hong Kong, a fatia supera 40%. Na Argentina e no Uruguai, a dependência ainda é maior, ultrapassando 50% das exportações. Fonte: Valor Econômico. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.