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08/Jan/2020

Boi: incêndios na Austrália poderão elevar preços

Mesmo com a expectativa de que a melhora na oferta de gado e o ajuste na demanda doméstica ajudem a conter o movimento de alta nos preços da carne bovina no Brasil já no início de 2020, o mercado começa a reconhecer o risco de que o incêndio de grandes proporções que atinge a Austrália (um dos principais exportadores de proteínas do mundo) pressione a disponibilidade do produto no mercado internacional e dê sobrevida à inflação do grupo no mercado interno. Embora a perspectiva ainda não se trate de um cenário base, uma queda na oferta de carne por parte do país da Oceania deve ser observada com atenção. Isso porque o incêndio que atinge a Austrália desde setembro já queimou uma área 6,3 milhões de hectares e causou a perda de 100 mil cabeças de gado, segundo estimativas da Federação Nacional de Fazendeiros.

A Austrália é o terceiro maior exportador de carne bovina no mundo e em 2019 deve ter vendido no mercado externo cerca de 1,657 milhão de toneladas do produto, de acordo com estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). No mesmo documento, datado de outubro, portanto, anterior ao agravamento dos incêndios, o USDA já previa redução no volume em 2020, para 1,442 milhão de toneladas. Se esse incêndio na Austrália continuar, a alta das proteínas vai se dissipar a partir de janeiro. Mas, se houver um choque de oferta, pode haver uma nova rodada de alta de preços entrando no primeiro trimestre. Por causa das proteínas, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve encerrar 2019 praticamente no centro da meta da inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CNM), de 4,25%. Depois de avançarem 8,09% no IPCA de novembro, as proteínas bovinas podem chegar a alta de 17% em dezembro.

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), o efeito da situação na Austrália sobre o preço das carnes no Brasil vai depender tanto da extensão dos danos causados pelo fogo, como da reorganização da lógica de mercado mundial para atender à demanda decorrente de um eventual choque de oferta, a partir de uma competição dos países que pretendem fornecer o produto. No curto e médio prazos, é provável que haja uma redução da oferta de produtos australianos e isso pode causar uma pressão. A Austrália é um grande exportador de carnes para a China, atingida desde o ano passado pela peste suína africana (PSA), que aumentou a demanda do país por proteína e foi o principal vetor de alta nos preços das carnes no Brasil. O direcionamento da demanda da China para o Brasil ficará condicionado à capacidade do País de ofertar proteína a um baixo preço.

No começo de dezembro, o boi gordo era negociado a US$ 50,00 por arroba no Brasil. Isso é menos do que os US$ 59,00 por arroba da Austrália, mas bem superior, por exemplo, à Argentina, que vende a US$ 39,00 por arroba e é que o principal concorrente do Brasil. Por outro lado, a dinâmica de acordos internacionais pode impedir o Brasil de ocupar o fornecimento do produto, já que países como Japão, por exemplo, que compram carne da Austrália, não têm acordo de comércio da commodity com o País. Embora ainda não sejam vistas pressões sobre o preço do boi, o risco deve ser considerado seriamente. Isso está no radar, mas por enquanto não está mexendo nem com as curvas de futuro. Por enquanto, deve haver uma devolução da alta observada em 2019 já no primeiro trimestre de 2020, mas, com a dependência da demanda externa, uma previsão mais precisa não é possível. É preciso observar como a demanda chinesa vai se comportar nos próximos dias. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.