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19/Dez/2019

Leite: oferta limitada sustenta os preços em 2019

O ano de 2019 foi atípico para o setor de lácteos, marcado por sustentação dos preços no campo, em decorrência da oferta limitada e do aumento da competição entre os laticínios para assegurar mercado. Isso foi verificado num contexto de consumo retraído. O resultado: os preços ao produtor não seguiram a tendência sazonal de aumentos entre fevereiro e agosto e de quedas entre setembro e janeiro. As cotações no campo já iniciaram o ano em alta e a oferta restrita sustentou as consecutivas elevações de janeiro a junho. No período, foi verificado aumento real de R$ 0,22 por litro na “Média Brasil” líquida (Bahia, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul), com as cotações reais atingindo os mais altos patamares da série histórica do Cepea para um primeiro semestre. No entanto, a estagnação econômica, a diminuição do poder de compra do brasileiro e a pressão das redes varejistas para atrair consumidores com preços baixos restringiram a valorização dos derivados lácteos.

Os preços médios anuais do leite UHT e da muçarela caíram 6,1% e 3,3% de 2018 para 2019, respectivamente, em termos reais (foram consideradas as médias de janeiro a novembro). A dificuldade das empresas em repassar a alta da matéria-prima para os lácteos sem comprometer seus shares de mercado espremeu as margens das indústrias. Com isso, a participação média anual do preço do leite ao produtor nas cotações do UHT e muçarela aumentou 10,4% e 8,6%, nessa ordem, de um ano para o outro (considerando-se as médias de janeiro a novembro). Por esse motivo, os preços do leite ao produtor registraram quedas em julho e agosto, que, sazonalmente, são períodos de picos de entressafra. Apenas nestes dois meses, o recuo real foi de R$ 0,12 por litro. Contudo, a competição entre as indústrias para garantir a compra de matéria-prima continuou acirrada no terceiro trimestre, já que a produção não se recuperou.

O desequilíbrio entre oferta e demanda levou ao encadeamento de altas nos preços dos derivados, no leite spot e, por fim, nos pagos ao produtor em setembro. A produção de leite enxuta no que seria, sazonalmente, o início da safra resultou em volumes mais baixos nos estoques de derivados, o que trouxe incertezas aos agentes. Assim, o intenso recuo que normalmente se observa no final do ano não deve ser verificado em 2019. Dois pontos explicam a oferta limitada no campo em 2019 e o fato de a produção do segundo semestre não ter sido estimulada, mesmo com os preços favoráveis até a metade do ano, oposto ao ocorrido em 2017. O primeiro ponto é clima. De janeiro a março, as chuvas irregulares diminuíram a disponibilidade de pastagens e a produtividade das lavouras de milho. No segundo e terceiro trimestres, o inverno seco prejudicou a captação leiteira no Sudeste e a produção do Sul não foi tão alta quanto se esperava.

Por fim, o atraso das chuvas da primavera, que tipicamente marcam o início da safra das Regiões Sudeste e Centro-Oeste, limitou a recuperação da produção no último trimestre. Em segundo lugar, deve-se destacar que a restrição da oferta foi intensificada pela saída de produtores da atividade nos últimos anos e pela grande insegurança, verificada em anos anteriores e neste também, em realizar investimentos de longo prazo frente às incertezas no curto prazo. Assim, as dificuldades de 2017 e 2018 se desdobraram em efeitos de longo prazo, que impactaram negativamente a produção em 2019. Ressalta-se, ainda, que o aumento dos preços dos grãos neste final de ano pode diminuir o potencial de crescimento da atividade.

Ademais, as cotações atrativas no mercado do boi gordo têm incentivado o abate de vacas e podem, nos próximos meses, levar à destinação de parte da produção de leite para a alimentação de bezerros. Se, no início do ano, perspectivas apontavam para aumento da produção anual em torno de 3%, neste final de 2019, já se revisam os cálculos para uma possível estagnação da produção. Por outro lado, com menor oferta de leite, a captação formal deve se elevar em 2019. Os dados da Pesquisa Trimestral do Leite (PTL) apontam alta de 3,4% no volume formal captado entre o 1º e 3º trimestres de 2019 frente ao mesmo período de 2018. É importante lembrar que, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a diferença entre produção e captação formal no Brasil em 2018 foi de 9,4 bilhões de litros. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.