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29/Nov/2019

Boi: alta no preço da carne deve esfriar em janeiro

O movimento de alta nos preços da carne bovina tende a desacelerar em janeiro, com sinais de melhora na oferta de gado e ajuste de início de ano no orçamento do consumidor, que, por sua vez, poderá intensificar a opção por proteínas mais baratas. Essa conjuntura deve reduzir a pressão das carnes sobre o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), até porque as alternativas, como frango e suínos, têm peso menor na inflação. Até dezembro, os valores das carnes vão seguir em patamares elevados pois, além da tradicional demanda interna fortalecida pelas festas de fim de ano, o excesso de compras chinesas, para recompor uma lacuna deixada no país pelo surto de peste suína africana (PSA), tem diminuído a oferta de proteína disponível no Brasil. A perspectiva, no entanto, é que o possível repasse desse ajuste na oferta local aos preços de serviços no IPCA fique limitado, já que a ociosidade da atividade econômica dificulta a chegada até o consumidor final.

Com isso, não há preocupação com a dinâmica de inflação do ano que vem, que deve fechar ainda aquém do centro da meta, de 4,0%. O "choque" provocado pelas carnes puxou o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que mede os preços na cidade de São Paulo. Na terceira quadrissemana de novembro, o indicador acelerou a alta para 0,44%, de 0,26% na segunda leitura, ritmo que surpreendeu. Chamou atenção que a passagem da segunda para a terceira medição do mês houve um aumento generalizado do complexo de proteínas, antes concentrado na carne bovina. No período, a carne bovina passou de 4,20% para 8,03%, enquanto a suína avançou de 3,11% para 6,61% e as aves variaram de -0,90% para 1,68%. O movimento de substituição da carne bovina já começou, mas deve se intensificar no início do ano que vem, principalmente porque nessa época há concentração sazonal de gastos, como impostos, férias e despesas escolares.

Por isso, as famílias tendem a desacelerar o consumo e a optar por produtos mais baratos. Isso teria o efeito de limitar a alta de carne bovina. As outras proteínas sobem, mas o peso delas no IPCA é menor. Essa contenção do consumo no início do ano pode até reduzir os preços de carne bovina, a depender do ímpeto de compra pela China, porque pode sobrar mais oferta no mercado interno. De qualquer forma, haverá efeitos secundários desse choque para os preços de serviços, por exemplo, que devem ser limitados por causa da forte ociosidade econômica do País. Segue, então, inalterada a expectativa para a inflação em 2020, em torno de 3,50%, mesmo com a estimativa elevada de 2019, atualmente em 4,06%. Outro indicador de que os preços das carnes podem arrefecer em janeiro é o ciclo pecuário. A liberação do gado terminado a pasto começa a recompor os níveis da oferta para abate. As chuvas chegaram mais tarde e o boi de pasto está atrasado. Isso deve se regularizar entre janeiro e março.

Até o momento, a maior parte da elevação nos preços do boi gordo não atingiu o consumidor final e foi absorvida pelo atacado. A arroba subiu mais de 30%, enquanto as carnes subiram em níveis menores. O varejo repassa o aumento de custo, mas também não vai optar por perder vendas no fim de ano e pode segurar parte disso (custo da oferta), ao menos, até o Natal. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) mostram que, na parcial de novembro, o preço médio do boi gordo em São Paulo acumula forte avanço de 34,07%. Ainda que estes repasses avancem pelo atacado e cheguem com maior intensidade ao comércio varejista, a tendência é que o consumidor possa absorver a alta até dezembro, tanto pela demanda tradicional de fim de ano quanto capitalização vinda do décimo terceiro salário. O repasse histórico do atacado para o varejo é de 40%, o que o faz acreditar que alta de 54% no preço da carne no atacado desde agosto vai resultar em aumento de 22% para o consumidor, com cerca de 14% em 2019, e o restante até o início do ano que vem.

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a valorização da carne bovina levou à substituição inclinada ao frango e suíno ao longo de todo o segundo semestre, e de maneira mais intensa agora. Até mesmo a demanda doméstica por ovos aumentou, como alternativa de proteína mais barata. Diante dos repasses de custo, o consumidor começa a fazer escolhas e o frango é o grande ganhador de market share no mercado interno. O alojamento de pintos está crescendo 8% no acumulado do ano, enquanto as exportações de frango ainda não avançaram 1%, o que sinaliza que a população brasileira está absorvendo esse crescimento na oferta da ave. Especificamente nos setores de aves e suínos, os preços estão apenas se recompondo depois de, aproximadamente, quatro anos de queda. Não há o sentimento de que a população está sofrendo, porque os valores das proteínas ainda estão acessíveis.

Há espaço para mais elevações nos preços internos das carnes até o fim do ano, sem preocupação de desabastecimento. Cerca de 70% da produção de aves fica no País e 80% de suínos. Os insumos e custos aumentaram, a exportação avançou, mas estes percentuais não mudaram significativamente a ponto de faltar. Apesar da expectativa de arrefecimento nos preços da carne em janeiro, o ritmo de exportações para a China deve continuar aquecido e limitar quedas expressivas nos valores das carnes, principalmente a proteína bovina. A demanda chinesa pode seguir impulsionada pela peste suína africana e os únicos agentes do mercado que podem diminuir os preços pagos pelo boi gordo são os frigoríficos de menor porte. A China habilitou frigoríficos menores, que trabalham com margem estreita e passaram a pagar mais pela arroba, mas vai chegar uma hora que eles não vão mais conseguir manter esta média de preço.

No caso específico do frango, há possibilidade de avançar nos embarques para outros mercados, além da China, outro componente que limitaria queda de preço. No IPCA, o efeito do choque de proteínas deve ser sentido até a metade de 2020, embora o pico mensal deva ser em dezembro deste ano, já que essa pressão via peste suína africana é concomitante às festividades de final de ano. Em 12 meses, porém, o pico da alta de carne bovina deve ser junho do ano que vem, com aumento de 32,9% ante 6,03% até outubro deste ano. No agregado de proteínas, a alta mais forte deve ser vista em maio, com 18,4%, de 2,32% até outubro. No segundo semestre, deve haver alguma devolução desse aumento, o que faria esse agregado de proteínas terminar o ano com elevação de 6,50%. Não necessariamente essa pressão de carnes sinaliza pressão mais forte para o ano que vem. Está mantida a projeção de 3,40% para o IPCA em 2020. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.