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19/Dec/2025

Leite: maior oferta global pressionando as cotações

O mercado global de lácteos atravessa um período de forte pressão, marcado por uma alta oferta de leite nos principais países produtores, inclusive nos Estados Unidos e na Europa. Dados recentes mostram que a produção alcançou níveis excepcionalmente altos em 2025, derrubando preços e intensificando a competição internacional por mercados. Nos Estados Unidos, a produção de leite cresceu de forma constante ao longo do segundo semestre de 2025, registrando avanços expressivos em relação ao mesmo mês no ano anterior (+4,1% em julho, +3,4% em agosto, +3,8% em setembro, +3,7% em outubro).

Esse foi o maior crescimento médio trimestral desde 2012, evidenciando não apenas maior produtividade, mas também uma expansão da oferta em praticamente todos os principais Estados produtores. Com esse volume adicional, o país mantém alguns dos produtos lácteos mais competitivos do mundo, fator determinante para sustentar as exportações diante do cenário global desafiador. A União Europeia teve um início de ano moderado, mas a curva mudou completamente a partir do outono europeu (a partir de setembro).

De janeiro a agosto, a produção andou próxima aos números de 2024, porém setembro mostrou alta de 4,2% e outubro atingiu impressionantes 5,3%. Quando se inclui o Reino Unido, o avanço chega a 5,5% na comparação anual. A expansão se reúne nas principais bacias leiteiras. Enquanto os produtores entregam mais leite, a indústria europeia trabalha a todo vapor para absorver o excedente. De janeiro a setembro, a produção de manteiga cresceu 4,7% e a de queijos aumentou 1,6%. O leite em pó desnatado (SMP), estável na maior parte do ano, ganhou força com o aumento súbito da produção de leite, elevando a atividade das empresas que secam leite nos últimos meses.

A consequência direta desse excedente global foi um choque negativo nos preços internacionais. Na Europa, a retração nos preços é significativa: manteiga caiu 44% em 12 meses; queijos caíram 30% desde dezembro de 2024; e SMP recuou 22% no mesmo período. A forte competição, especialmente entre exportadores europeus e norte-americanos, intensifica a pressão para que os preços permaneçam baixos, e possivelmente caiam ainda mais, à medida que comerciantes europeus buscam reconquistar mercados perdidos em 2024 e 2025. No mercado norte-americano, o quadro também revela impactos da oferta abundante.

Com produtos mais baratos, os Estados Unidos seguem bem-posicionados para abastecer mercados importadores. Porém, a estratégia norte-americana depende da capacidade de manter preços baixos, já que a Europa demonstra clara intenção de recuperar espaço, especialmente em categorias como manteiga, SMP e queijos. Essa disputa acirrada cria um ambiente altamente competitivo para exportadores globais, com impactos diretos sobre destinos como América Latina, África do Norte, Sudeste Asiático e Oriente Médio, regiões sensíveis a variações de preço e que costumam ajustar fornecedores conforme o momento. Para o Brasil, os desdobramentos esperados deste cenário são:

- Risco de maior pressão competitiva externa: o avanço dos Estados Unidos e da Europa em outros mercados pode levar Argentina e Uruguai, também com oferta elevada e sem barreiras tarifárias, a voltarem a mirar o Brasil. Isso ocorre mesmo com a oferta interna já bastante alta, que até aqui vinha reduzindo o interesse desses países pelo mercado brasileiro.

- Pressão sobre os preços internos: especialmente sobre lácteos industrializados e derivados de leite em pó.

- Desafios para produtores brasileiros, cuja rentabilidade já é afetada por custos elevados.

O ano de 2025 se encaminha para ser marcado por uma das maiores expansões simultâneas de oferta láctea, seja no Brasil, na América do Sul, nos Estados Unidos e na Europa dos últimos anos. Com um verdadeiro “tsunami” de leite inundando o mercado, os preços internacionais desabam e a disputa pelo consumidor global se intensifica. Para países como o Brasil, entender esse movimento é fundamental para tomar decisões estratégicas, seja na gestão da produção, na política de importações ou na competitividade da indústria local. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.