15/Dec/2025
O tema que mais marcou o setor ao longo do ano foi a oferta de leite. Ao longo de 2025, a captação de leite apresentou um crescimento bastante expressivo, e esta análise busca explicar como esse movimento evoluiu ao longo dos trimestres e quais foram suas principais consequências para o mercado.
- Primeiro trimestre de 2025
O preço ao produtor iniciou 2025 em patamares mais altos do que em períodos anteriores e os principais custos não estavam pressionando, o que manteve a produção estimulada.
- Segundo trimestre de 2025
A partir do segundo trimestre, a oferta brasileira de leite passou a surpreender. Foi nesse período que alguns impactos recentes e mudanças na estrutura produtiva do setor ficaram mais evidentes. O principal fator por trás do avanço expressivo da produção no segundo semestre foi a manutenção da rentabilidade em níveis satisfatórios, tanto em comparação com períodos anteriores quanto no próprio momento. Esse resultado foi sustentado por um cenário de custos relativamente equilibrados e por preços ao produtor ainda atrativos, combinação que estimulou a produção. Somado a isso, observou-se ao longo de 2025 um processo mais intenso de formalização, que elevou o volume de leite captado pela indústria. Além desses fatores, é importante lembrar que o segundo trimestre de 2024 havia sido afetado por fortes chuvas na Região Sul, o que reduziu a captação naquele período. Portanto, parte do crescimento registrado em 2025 reflete também uma base comparativa mais baixa. No entanto, o movimento vai além desse efeito estatístico. Paralelamente, o setor vem passando por transformações estruturais importantes. A pesquisa “Quem produz o leite brasileiro 2025”, que apresenta os principais perfis de produção e as mudanças no elo produtivo, aponta para o avanço dos sistemas mais intensivos, como o confinamento. Esse avanço reduz a influência da sazonalidade sobre a produção nacional, diminuindo a diferença entre os volumes de pico e de vale ao longo da curva produtiva. Como consequência, o período tradicionalmente associado ao vale, normalmente concentrado no segundo trimestre, tende a se tornar mais suave e, em alguns casos, até mesmo a ocorrer de forma antecipada. Ou seja, ainda que o setor esteja passando por um processo de transformação há algum tempo, estas mudanças começaram a aparecer de forma mais clara e contundente nos dados de captação deste ano.
- Terceiro trimestre de 2025
Os dados prévios do terceiro trimestre confirmam que 2025 deve se consolidar como um ano de forte crescimento produtivo. A prévia do terceiro trimestre aponta um avanço de 10,3%. Este incremento não ocorreu isoladamente: a ausência de problemas climáticos significativos, um fator simples, mas decisivo, permitiu maior regularidade no manejo, melhor desempenho das pastagens e maior estabilidade das condições de produção. Com isso, o setor conseguiu sustentar um ritmo consistente de crescimento ao longo de todo o ciclo anual.
- Quarto trimestre de 2025
Ainda que os dados do último trimestre só sejam publicados no início de 2026, a leitura dos três trimestres já divulgados, somada ao comportamento recente do mercado, permite antecipar que o quarto trimestre também deverá apresentar crescimento da captação em relação aos anos anteriores. O último trimestre de 2025 foi influenciado pela presença do fenômeno La Niña, porém com baixa intensidade, o que não deve ter gerado grandes impactos na produção. Mesmo assim, esse avanço tende a ser menor em comparação aos trimestres anteriores, já que a rentabilidade começou a perder força e a pressionar o produtor ao final do ano. Apesar disso, a expectativa é de que a divulgação confirme um 4º trimestre com crescimento na oferta.
Nessa conjuntura, com 2025 marcado por um crescimento expressivo da produção, algumas consequências importantes surgiram: o aumento contínuo da oferta levou a indústria a ampliar sua produção de derivados ao longo do ano. Entretanto, a demanda por lácteos, tema que será detalhado na próxima análise, não acompanhou esse ritmo, o que impediu a absorção completa do volume adicional produzido. Esse descompasso resultou na formação de estoques mais elevados nas indústrias, pressionando os preços dos derivados e reduzindo as margens industriais. Esse cenário rapidamente se transferiu para o campo, refletindo em quedas intensas no preço ao produtor ao longo do segundo semestre, especialmente no último trimestre. Em síntese, embora o ano tenha sido marcado por forte avanço produtivo, este acabou rompendo o equilíbrio entre oferta e demanda. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.