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15/Dec/2025

Lácteos: Mengniu busca fornecedores na Argentina

A América Latina, especialmente a Argentina, tornou-se um ponto estratégico para a Mengniu Dairy Company Limited, grupo lácteo originário de Hohhot (capital da Mongólia Interior) que, em apenas 25 anos, deixou de ser uma empresa regional para se transformar em uma das líderes globais do setor. A companhia, que em 2018 chamou a atenção ao patrocinar Lionel Messi rumo à Copa do Mundo da Rússia, hoje importa produtos da região, trabalha com distribuidores locais e adquire ingredientes específicos para suas diferentes linhas de produção. Para os exportadores latino-americanos de leite em pó, proteínas lácteas ou soro, a Mengniu representa um potencial comprador, exigente, porém relevante. Rastreabilidade completa, certificações ambientais, qualidade constante e regularidade nas entregas são requisitos essenciais para iniciar qualquer negociação.

Fundada no fim da década de 1990, a Mengniu é hoje uma multinacional privada listada na Bolsa de Hong Kong, com mais de 38.800 funcionários e processamento anual de cerca de 13,95 milhões de toneladas de produtos lácteos. Sua estrutura industrial inclui 45 plantas na China, além de unidades na Austrália, Nova Zelândia, Indonésia e Filipinas, totalizando quase 14 bilhões de litros processados por ano. O grupo faturou 88,675 bilhões de renminbis (RMB) em 2024, cerca de US$ 12,4 bilhões. No primeiro semestre de 2025, a receita alcançou 41,567 bilhões de RMB (aproximadamente US$ 5,84 bilhões), com margem bruta de 41,7%. O coração do negócio é o leite longa vida, responsável por mais de dois terços da receita. Somam-se os segmentos de iogurtes e sorvetes, com a marca Aice como líder na Indonésia, queijos, mercado em plena expansão na China, e fórmulas infantis, altamente reguladas e sensíveis.

A Mengniu consolidou sua estratégia por meio do modelo “One Core - Two Wings” (um núcleo, duas asas). O núcleo é, como sempre, o leite. A primeira “asa” é a nutrição avançada, com produtos premium que incorporam biotecnologia, moléculas inspiradas no leite materno, alimentos funcionais e fórmulas de alto valor agregado. A segunda “asa” é a expansão internacional, com novas plantas industriais, maior acesso a mercados e redução da dependência do consumo interno chinês. Para suas linhas premium e infantis, a empresa utiliza leite e ingredientes importados da Austrália e da Nova Zelândia, mercados reconhecidos por seus padrões elevados de qualidade. A trajetória global da Mengniu é marcada pela crise alimentar de 2008, quando o setor lácteo chinês foi afetado pelo escândalo de adulteração de leite com melamina. Embora não tenha sido responsável pela fraude, a empresa foi impactada por falhas na cadeia de fornecedores.

O episódio levou a uma reestruturação profunda: fechamento de fazendas inseguras, controles diários, rastreabilidade da vaca ao produto final e investimentos contínuos em certificações ambientais, uso eficiente da água, redução de emissões e compromissos de não desmatamento para insumos importados. Hoje, esses padrões deixaram de ser apenas uma resposta à crise e se tornaram requisitos fundamentais para participar de cadeias globais, em que rastreabilidade pesa tanto quanto qualidade. A Argentina produz cerca de 30 milhões de litros de leite por dia, dos quais mais de 60% são processados por 15 grandes indústrias que operam plantas multiproduto com tecnologia de padrão internacional. O setor passa por um processo de reorganização, marcado por falências recentes, como La Suipachense e ARSA, fabricante dos produtos SanCor, e pela delicada situação da cooperativa SanCor, que enfrenta planos de recuperação e intervenção judicial.

Investidores internacionais acompanham de perto esse cenário, entre eles, segundo informações do mercado, a própria Mengniu. Para o gigante chinês, a Argentina é atrativa não apenas pela escala de produção, mas também pela qualidade dos insumos lácteos e pelo potencial de integração em cadeias globais de valor. A empresa já tem forte presença na região Ásia-Pacífico, com atuação relevante na Indonésia, e utiliza Austrália e Nova Zelândia como base para suas linhas premium. A possível inclusão de fornecedores sul-americanos dependerá do cumprimento rigoroso dos padrões globais exigidos pela Mengniu: qualidade consistente, rastreabilidade total e sustentabilidade ambiental. Enquanto a indústria argentina busca se consolidar após anos turbulentos, o interesse do colosso asiático adiciona um novo capítulo ao processo de rearranjo global do mercado lácteo. Fonte: Paralelo32. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.