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11/Nov/2025

Lácteos e a redução de metano na pecuária leiteira

A COP30, realizada neste mês em Belém (PA), foi escolhida por Danone e Nestlé no Brasil como palco para apresentar ao mundo os resultados alcançados com seus programas de redução de metano (CH4) em fazendas fornecedoras de leite. Nos últimos cinco anos, o Jornada Flora, programa da Danone Brasil que incentiva práticas regenerativas nas propriedades leiteiras, registrou uma redução de 42% no fator de emissão de metano entérico por litro de leite produzido. O gás, gerado no rúmen de animais ruminantes durante a fermentação microbiana dos carboidratos, possui potencial de aquecimento global cerca de 30 vezes superior ao do dióxido de carbono (CO²). Entre 2020 e 2024, o programa também reduziu em 47% o fator de emissão de carbono na produção da matéria-prima da empresa.

Mudanças na nutrição, com dietas mais equilibradas e de alta qualidade, e melhorias nos centros de ordenha e demais instalações, proporcionando maior conforto e bem-estar ao rebanho, refletiram não apenas em ganhos ambientais, mas também econômicos. Nesse período, as fazendas participantes registraram aumento de 22% na renda real, crescimento de 59% na margem líquida, alta de 15% na produtividade por vaca e crescimento médio de 26% na produção diária. Para a Embrapa Gado de Leite, a eficiência técnica e alimentar alcançada com a redução da pegada de carbono é também lucrativa para o produtor brasileiro, que enfrenta um mercado desafiador. No Brasil, gasta-se muita terra, gasta-se muito alimento, gasta-se muita vaca para produzir pouco leite.

Nos projetos de redução de gases de efeito estufa (GEE) acompanhados pela Embrapa, sistemas mais avançados já alcançam lucro líquido de R$ 0,80 por litro de leite, enquanto aqueles em estágio inicial do uso das práticas sustentáveis registram cerca de R$ 0,20 por litro. A eficiência técnica é muito bem acompanhada pela eficiência econômica. Com pesquisas na área há mais de duas décadas, a Embrapa dá suporte aos programas de descarbonização de várias empresas, entre elas Danone, Nestlé, Lactalis e Sooro Renner. Participante do Jornada Flora desde 2020, a Fazenda Cachoeira das Antas, em Santa Rita de Caldas (MG), é um exemplo dos resultados obtidos. Nos últimos 12 meses, recebeu média de R$ 3,09 por litro de leite, valor entre 13% e 14% superior à média regional.

Quando a fazenda ingressou no Jornada Flora, tinha uma produção diária de 220 litros e hoje de 2.200 litros por dia. A fazenda também adota práticas como o plantio direto e o uso de esterco animal para adubação das lavouras. Segundo a Danone Brasil, o programa teve início com apenas uma fazenda e hoje já envolve 150 propriedades. A grande sacada que será apresentada na COP30 é como uma indústria láctea consegue escalar isso em seu universo de produtores. O processo começa com um trabalho de convencimento e engajamento dos pecuaristas. Atualmente, 20% do leite fresco utilizado pela Danone na fabricação de seus produtos já é classificado como de baixo carbono. Na Nestlé, o leite fresco responde pela metade dos 70% das emissões totais de GEE oriundas da produção rural de suas matérias-primas.

Para reverter esse quadro, a empresa criou o programa Nature por Ninho, que vem se fortalecendo nos últimos anos com a adoção de práticas regenerativas, manejo adequado dos dejetos e ações de descarbonização da atividade leiteira. Os produtores participantes do Nature por Ninho recebem bonificações progressivas conforme o nível de práticas sustentáveis adotadas, classificados em bronze, prata, ouro ou diamante. Quando comparadas às fazendas que não seguem práticas regenerativas, as de nível ouro, por exemplo, atingem 47% mais produtividade por vaca e produzem alimento com custo de produção 8% menor. Na categoria ouro, mais de 240 fazendas foram responsáveis, na safra 2024/2025, por uma redução de 39% na pegada de carbono.

Outro grande resultado é que mais de 39 mil vacas vivem em estábulos ventilados e climatizados e, ao menos 8 mil, utilizam colares de monitoramento com inteligência artificial. A Nestlé planeja investir cerca de R$ 150 milhões até 2027 em projetos de sustentabilidade voltados à cadeia leiteira no Brasil. Apesar das ações, a empresa anunciou sua saída da Dairy Methane Action Alliance, aliança global criada em 2023 para redução do metano, sem detalhar os motivos. Tanto Nestlé quanto Danone mantêm parcerias com o Banco do Brasil para oferecer crédito facilitado aos produtores de leite. Nos últimos três anos, foram concedidos R$ 175 milhões a 158 fazendas das 230 fornecedoras da Danone. Para a safra 2026/2027, está prevista a renovação de R$ 100 milhões em crédito rural sustentável. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.