30/Oct/2025
O pecuarista focado na recria e engorda de bovinos (seja em confinamento ou a pasto) encontra um cenário desafiador neste último trimestre. A valorização dos bovinos de reposição, tanto bezerros quanto bois magros, têm ocorrido em ritmo superior ao observado para o boi gordo. Esse descompasso pressiona diretamente a relação de troca, exigindo que o terminador desembolse mais arrobas de boi gordo para adquirir seus bovinos de reposição e elevando o custo de produção para o próximo ciclo de engorda. A alteração no poder de compra do terminador é verificada ao se analisar a série histórica da relação de troca. A demanda aquecida por bovinos de reposição, diante de uma oferta mais restrita, tem dado sustentação aos preços do bezerro e do boi magro. No Triângulo Mineiro (MG), região tradicional de cria, o pecuarista de recria e/ou engorda precisa, em média, de 9,92 arrobas de boi gordo para comprar 1 bezerro na parcial de outubro, 5,4% a mais que no mês anterior e 41% acima do resultado de outubro/2024, de 7,04 arrobas por cabeça.
Em Cuiabá (MT), são necessárias 9,87 arrobas para adquirir um bezerro na média parcial, respectivos aumentos mensal e anual de 3,8% e 19,7%. Para o boi magro, o movimento nos preços é mais contido. Isso porque a falta de bovinos na faixa de peso de 12 a 14 arrobas tem levado terminadores a buscar bovinos mais leves (garrotes). Em Presidente Prudente (SP), o pecuarista precisa de 13,62 arrobas de boi gordo para comprar 1 bovino de reposição na média parcial de outubro, 1,3% a mais que em setembro e 8,3% a mais no comparativo com outubro/2024. Em Colíder (MT), há aumento mensal de 1,9%, sendo necessárias 14,52 arrobas de boi gordo para adquirir 1 bovino antes da engorda. O suporte aos preços do bezerro (categoria cria) vem sobretudo da oferta restrita. O ciclo pecuário recente foi marcado por um intenso abate de fêmeas, que atingiu níveis recordes, limitando o potencial produtivo da atividade de cria. Dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmam esse movimento. No primeiro semestre de 2025, a participação de fêmeas no abate foi histórica, de 49,8%.
Esse aumento pode estar relacionado, entre outros fatores, ao maior descarte de fêmeas que, por consequência, limita a oferta de bezerros atualmente. Se, do lado do bezerro, a oferta é restrita, para o boi magro, o fator predominante é a demanda aquecida. O período prolongado de seca, que castigou as pastagens até setembro, limitou a engorda a pasto e direcionou a terminação para os confinamentos. Além do clima, as previsões de rentabilidade positiva para o último trimestre de 2025 e o início de 2026 também atraem investimentos à atividade. Com os cochos operando em alta capacidade, a procura por animais para alojamento se intensificou. Segundo levantamento feito pela DSM/Tortuga, a taxa de ocupação do confinamento no Brasil esteve em seu maior patamar da série histórica, sendo na média parcial de outubro 18,5% acima da observada no mesmo mês de 2024. Com o custo de aquisição elevado, o pecuarista inicia o ciclo de recria e/ou engorda "com a conta mais alta". A rentabilidade da operação dependerá, nos próximos meses, de uma combinação de eficiência na gestão de custos e estratégias de venda do boi gordo. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.