08/Oct/2025
A primeira conversa entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocorrida na segunda-feira (06/10), aumentou a expectativa entre exportadores do agronegócio de ampliar a lista de exceções de produtos brasileiros ao tarifaço de 50%. A tendência, segundo os exportadores, é de aumento das exceções à sobretaxa de 40% no curto prazo com a retirada do tarifaço como um todo ficando sujeito a negociações mais amplas, incluindo minerais críticos e etanol. O café é visto como o item número 1 nessa lista de urgência. Carne bovina também está entre os produtos críticos. A ampliação da lista de exceções, entretanto, tende a seguir o interesse dos norte-americanos. Empresários republicanos e doadores de campanha de Trump estão perdendo dinheiro em virtude do embargo com o Brasil e aumento do imposto de importação. Essa pressão está falando mais alto agora. Mais exceções devem começar a aparecer, principalmente dos setores que estão fazendo lobby em Washington, apontou uma liderança da indústria nacional que exporta aos Estados Unidos.
Deve haver novidades "em breve" quanto à ampliação da lista de produtos isentos à sobretaxa de 40%. Neste contexto, o café, um dos setores mais afetados pelo tarifaço, tende a ser um item prioritário. Um dos motivos é o fato de o Brasil responder por 34% de tudo que é importado pelos Estados Unidos, que é o maior consumidor mundial da bebida. Outro ponto é a pressão inflacionária. O preço do café no varejo dos Estados Unidos registrou neste ano a maior alta anual desde 1997, de 21% em agosto. Um terceiro motivo é o fim dos estoques do grão brasileiro. Processadores norte-americanos relataram a exportadores brasileiros que as reservas das compras antecipadas (embarques aumentaram 17% de janeiro a julho) estão chegando ao fim, devendo durar no máximo até o fim deste mês. Bastaria o item ser transferido do Anexo III da ordem de tarifas da Casa Branca para o Anexo II, podendo ser excetuado da alíquota de 40%, sem a necessidade de acordo bilateral. O café é o primeiro da lista para uma isenção completa. A avaliação de esferas mais técnicas está concluída, faltando apenas um 'empurrão político' diante de outras prioridades.
A BBC NEWS Brasil revelou que Donald Trump admitiu na ligação com Lula que os Estados Unidos estão "sentindo falta" de alguns produtos brasileiros afetados pelo tarifaço e teria citado o café. De fato, o café foi citado na ligação. A pressão para retirada do café da lista de sobretaxas é reforçada pela própria indústria norte-americana. A National Coffee Association (NCA) conduz as tratativas com o governo local e já pediu isenção geral à bebida. A carne bovina é um item mais sensível na negociação, mas também com chances de entrar na lista. De um lado, a retração na produção local, dado que os Estados Unidos estão com menor rebanho em 80 anos, a pressão do aumento da carne bovina sobre a inflação e o encarecimento dos hambúrgueres com alta de 15% no preço da carne moída (o sanduíche é item tradicional da alimentação norte-americana) podem pesar a favor da retirada da carne bovina brasileira da sobretaxa de 40%.
O preço do filé chegou a US$ 40,00 a cada 300 gramas, o que já afeta a classe média. Os estoques da carne bovina brasileira na indústria devem se estender até meados de novembro, o que demandaria proteína imediata, considerando 40 dias de embarque. Em contrapartida, o aumento nos preços locais da proteína favorece os pecuaristas norte-americanos, a maior parte no Meio Oeste, reduto eleitoral de Trump. Donald Trump terá de calibrar os interesses políticos e os reflexos na economia. Os pecuaristas norte-americanos formam uma base eleitoral significativa, por isso, é mais palatável a exceção ao café do que à carne. Em uma eventual negociação é mais fácil café sair da lista do que a carne. Em relação à carne bovina, interlocutores do Executivo dizem manter um "otimismo cauteloso", já que os Estados Unidos são um importante player global no segmento. Parte do otimismo persiste ainda da avaliação de que a carne é um produto com canal direto à inflação norte-americana, em meio à redução no plantel local e da necessidade da indústria norte-americana de recorrer ao mercado externo.
No caso da carne bovina, as articulações da indústria brasileira passam pelo Meat Import Council of America (MICA), que representa empresas que importam, processam e vendem carnes importadas nos Estados Unidos. O conselho já pediu formalmente ao governo norte-americano que inclua a proteína brasileira na lista de exceções ao tarifaço. Fontes do governo brasileiro afirmam que há sinalizações por parte do governo norte-americano de "espaço" para ampliar a lista de exceções, sobretudo em itens que podem pressionar a inflação nos Estados Unidos, caso dos produtos alimentícios utilizados no café da manhã e na alimentação diária. Café, carne e frutas serão as próximas tarifas a cair, avaliou um integrante do governo que acompanha as tratativas. Uma das incertezas é quanto à extensão das exceções, se os Estados Unidos vão excluir os itens de maneira geral a todos exportadores ou se as exceções serão negociadas diretamente com o Brasil. Uma fonte nota a rota traçada pelo governo norte-americano quanto às tarifas, com alíquotas direcionadas a setores específicos e não mais a país por país.
Com o direcionamento da taxação setor a setor, as cadeias internas norte-americanas tendem a se ver mais protegidas pela política tarifária. Como exemplo a taxação de móveis, que favorece a indústria de regiões como Carolina do Norte. Com isso, Trump ganha politicamente e não precisa ficar discutindo exceções país a país. O pedido do Brasil, feito pelo presidente Lula no telefonema com Trump, é pela retirada total da sobretaxa de 40%, alegando o déficit comercial brasileiro na relação bilateral. O setor de máquinas agrícolas está otimista com algum acordo entre os países, mas o tarifaço como um todo deve levar um tempo para desaparecer. Mas, essas negociações pela exclusão da sobretaxa de 40% de forma homogênea tendem a ser mais amplas e incluir contrapartidas brasileiras em temas críticos aos Estados Unidos, entre eles, a exploração de terras raras, a regulação de big techs e o acesso do etanol norte-americano ao mercado brasileiro. Após o gesto inicial entre Trump e Lula e destravamento das negociações, exportadores pressionam o governo por um encontro presencial entre os dois líderes. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.