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02/Oct/2025

Leite: “Selo de Colaboração Transparente” - Cepea

Nas últimas duas décadas, o sistema agroindustrial (SAG) do leite no Brasil passou por mudanças muito relevantes, como a evolução das instruções normativas para assegurar qualidade, o incremento na produtividade, o aumento da escala da produção, a intensificação dos processos de concentração e o acirramento do padrão competitivo na aquisição do leite cru. Esses movimentos alteraram as estruturas de governança, ou seja, a forma como cooperativas, laticínios e produtores organizam as negociações da matéria-prima. E isso tem conexão direta com a coordenação e competitividade do setor. Coordenação, na cadeia produtiva, significa a forma como informações e estímulos circulam entre produtores, cooperativas, indústrias e outros agentes. Quanto melhor essa circulação, mais fácil fica alinhar decisões e ações, reduzindo conflitos e fortalecendo objetivos comuns para todo o sistema agroindustrial.

Quando a coordenação é forte, a informação flui com clareza, permitindo que os agentes ajustem suas estratégias de maneira convergente. Mas, quando existem barreiras ou falhas nessa transmissão, a coordenação se enfraquece e cada agente tende a agir de forma isolada, aumentando os riscos de descompasso e perda de eficiência no seu negócio e no setor, como um todo. Em resumo, coordenação é a capacidade de alinhar decisões entre agentes que operam de forma autônoma, mas interdependente em uma cadeia produtiva. Ao elevar a intensidade da coordenação, o fluxo de informação, produtos e recursos é favorecido e os riscos são minimizados. No contexto atual do setor lácteo, a informação de preço deixa de ser só uma cifra ou um mero termômetro do mercado e se torna uma infraestrutura de coordenação.

Veja bem: a informação do preço auxilia os agentes de um SAG a mensurar seu desempenho, a oferta, a demanda e os impactos de diferentes estratégias que podem adotar para gerir seus negócios. Ao se munirem dessa informação, os agentes da cadeia do leite podem não apenas compreender melhor o cenário atual, mas se preparar para cenários futuros. É essa constante adaptação, no curto e longo prazos, que possibilita a resiliência dos negócios, mesmo diante das adversidades do mercado. E é daí que vem o desenvolvimento econômico. O Cepea sustenta, há décadas, um esforço sistemático de coleta e validação de dados para o cálculo do Indicador do preço do leite ao produtor. Vale lembrar: o propósito do Indicador é refletir o preço médio do leite cru efetivamente negociado entre produtores e indústrias/cooperativas, capturando o ambiente competitivo, ou seja, o mercado, independentemente da forma de governança utilizada nessa negociação.

Ao abastecer o setor com essa informação, o Cepea contribui para reduzir a assimetria de informação e, assim, intensificar a coordenação entre agentes, o que é uma premissa para o aumento de competitividade e desenvolvimento do setor. A pesquisa de preço ao produtor do Cepea existe desde 1986. Por 32 anos, o trabalho foi executado sem parceria direta do setor com o Indicador. A partir de 2018, o projeto recebeu apoio financeiro e institucional de OCB e Viva Lácteos e, de 2018 a 2024, concentrou-se em três frentes: evolução metodológica, ampliação da amostra e aprimoramento da divulgação. Para sustentar a qualidade e a utilidade dos Indicadores, é necessária evolução contínua: ampliar a amostra, assegurar veracidade e confiabilidade dos dados, padronizar formatos e garantir trilhas de auditoria. Em 2025, o objetivo do projeto é a automação da coleta (via API) e a rastreabilidade das informações, assegurando periodicidade, padronização e governança dos dados, bases para ganhar velocidade e qualidade sem abrir mão de confidencialidade.

Nesse contexto, surge “Selo de Colaboração Transparente”, que funciona como um mecanismo de enforcement positivo: incentiva comportamentos desejáveis dos participantes da pesquisa; previne desvios e reconhece publicamente as empresas que sustentam a qualidade informacional do Indicador. A implementação ocorrerá a partir de avaliação anual de critérios como: frequência na participação e respeito aos prazos, adesão à API para coleta de dados, qualidade e rastreabilidade das informações, manutenção da confidencialidade, comprovação de negócios quando solicitada e colaboração institucional. O selo terá três gradações (ouro, prata e bronze) que sinalizam o nível de comprometimento de cada empresa com o processo. A primeira concessão ocorrerá ainda em dezembro de 2025, avaliando o desempenho dos agentes colaboradores no mesmo ano.

Os benefícios do selo são múltiplos. Para o Indicador em si, o selo significa assegurar a rastreabilidade e garantir fluxo contínuo de informações auditáveis, elevando sua qualidade. Para as empresas participantes, o selo agrega visibilidade, reputação e reconhecimento público da confiança do Cepea em relação à governança dos dados. Para o setor como um todo, ele contribui para a construção da coordenação entre os agentes do setor. Mais do que um símbolo, o selo traduz a importância da transparência, da rastreabilidade e da confiança mútua entre pesquisadores e agentes de mercado. Ao garantir regularidade, qualidade e integridade dos dados compartilhados, os colaboradores fortalecem não apenas a credibilidade do Cepea, mas também a própria governança do setor, possibilitando análises mais precisas, decisões mais seguras e maior valorização da cadeia produtiva como um todo.

Um Indicador de preços é uma construção social: um ativo coletivo do setor. O Cepea tem a responsabilidade e a competência técnica de projetar metodologia, coletar, validar e publicar resultados; os colaboradores (laticínios e cooperativas) precisam participar eticamente, enviando informações corretas, completas e rastreáveis; e os parceiros financiadores devem sustentar financeiramente a execução, a inovação e o atendimento às demandas do setor. Quando essa corresponsabilidade se materializa, o Indicador cumpre seu papel: refletir o preço médio efetivo negociado no mercado, captando o ambiente competitivo. O Selo Cepea nasce exatamente para organizar incentivos, reconhecer bons comportamentos e blindar a qualidade informacional de um ativo que pertence, em última instância, a todo o setor. Fonte: Natália Grigol. Cepea.