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01/Oct/2025

Leite: produção está cada vez mais concentrada

O setor leiteiro brasileiro passa por um processo de concentração significativo. Segundo a Embrapa Gado de Leite, estima-se que entre os anos de 1996 e 2017 um produtor deixou de produzir leite a cada 16 minutos, configurando uma das maiores reduções já registradas no segmento, esse processo tem sido motivado por alguns fatores como: falta de sucessão familiar, gestão precária, desafios climáticos e dificuldades financeiras. Apesar desse movimento, os números de produção revelam um cenário diferente. A produção de leite cresceu mais de 73% entre 2000 e 2013 e, desde então, mantém-se em níveis estáveis, mesmo com a redução progressiva no número de produtores. Diante dessa transformação na cadeia produtiva, surgem algumas questões importantes: esse processo é um fenômeno global? e como explicá-lo? Ao analisar a produção global de leite, percebe-se uma tendência à concentração, segundo a FAO, em 2022, a produção mundial alcançou cerca de 930 bilhões de litros, dos quais aproximadamente 81% foram produzidos por apenas 25 nações.

No entanto, a concentração não acontece apenas entre países: dentro dessas nações, observa-se um movimento semelhante ao visto no Brasil, em que um número cada vez menor de fazendas responde pela maior parte da produção. Entre 1996 e 2022, por exemplo: 23 dos 25 países com maior produção registraram um aumento do seu volume produzido; todos os 25 países apresentaram um aumento da produtividade em litros/vaca/ano; 20 países aumentaram o número total de vacas em seu rebanho; e 19 países apresentaram diminuição no número total de propriedades produtoras de leite. Para ilustrar melhor o cenário global, vamos tomar como exemplo um país de grande relevância na produção de leite: os Estados Unidos. Nos Estados Unidos, entre os anos de 2017 e 2022, duas em cada cinco fazendas leiteiras encerraram suas atividades. Porém, ao observar os dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) do mesmo período, tanto a produção quanto a produtividade do país continuaram em crescimento.

Hoje, estima-se que quase dois terços do leite dos Estados Unidos seja produzido por fazendas com mais de 1000 vacas, o que representa apenas 8% de todas as propriedades leiteiras norte-americanas. Além da diminuição no número de pequenos produtores, essa concentração da produção também possui outras razões. Diversos fatores têm justificado a saída de pequenos e médios produtores da atividade leiteira. Contudo, ao analisar a realidade das grandes propriedades produtoras, o cenário é bastante diferente. A profissionalização da produção de leite em larga escala tem se mostrado um diferencial decisivo. O investimento em tecnologias, como genética de alta qualidade, sensores, câmeras, ordenhadeiras e alimentadores robóticos, aliado a melhorias na gestão financeira e de pessoas, estabelece uma fronteira clara entre uma produção lucrativa e sustentável e outra que não consegue se manter competitiva. Esse contraste fica ainda mais evidente quando se compara o volume médio de leite produzido por vaca, por dia, no Brasil, com a média alcançada pelos 100 maiores produtores do País, segundo o Ranking Top 100 MilkPoint/Abraleite.

Os números refletem como a eficiência e a adoção de tecnologias impactam diretamente nos resultados e reforçando a vantagem competitiva dos grandes produtores. Além disso, propriedades de maior escala costumam ter acesso facilitado a essas tecnologias ou a linhas de crédito que viabilizam sua implementação. Essa vantagem permite que ampliem continuamente sua produção, seja pelo aumento da produtividade do rebanho ou pela aquisição de novos animais, consolidando cada vez mais sua posição no mercado. A análise dos dados mostra que a concentração da produção de leite é, de fato, um fenômeno global. Em praticamente todos os grandes países produtores, observa-se o mesmo movimento: o número de propriedades leiteiras diminui, enquanto a produção total segue em crescimento. Isso significa que um volume cada vez maior de leite é produzido por um número cada vez menor de fazendas. É um processo de concentração muito rápido e intenso em toda a cadeia produtiva.

Entre as principais razões para essa concentração estão a adoção de tecnologias avançadas, o efeito da economia de escala e a profissionalização da gestão nas grandes propriedades, que têm elevado cada vez mais a produtividade por vaca. Somado a isso, os pequenos e médios produtores enfrentam uma série de desafios que dificultam sua permanência na atividade. No Brasil, esse cenário se repete e tende a se intensificar nos próximos anos. Nesse contexto, a concentração não deve ser vista apenas como uma consequência, mas como um alerta: quem deseja permanecer na atividade precisará se adequar às novas demandas do mercado, investindo em gestão, inovação e eficiência produtiva. Pequenos e médios produtores terão de buscar alternativas para aumentar sua competitividade, seja por meio da profissionalização, do cooperativismo ou da adoção de modelos inovadores de produção. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.