23/Sep/2025
A chave virou por completo. Antes considerada apenas uma licença para operar, a sustentabilidade hoje é um pilar essencial para as empresas competirem e vencerem dentro de suas respectivas cadeias produtivas, diz Delair Bolis, CEO da MSD Animal, empresa que desenvolve, fabrica e comercializa medicamentos e serviços veterinários. Em entrevista à série Era do Clima Rumo à COP30, o executivo afirmou estar otimista com a reunião no Brasil. Ele destaca que os holofotes sobre o evento internacional servem para mostrar como o Brasil pode ser um exemplo para o mundo naquilo que ele faz muito bem, que é a produção de proteína animal. “Vamos conseguir mostrar como produzimos proteína animal baseada na sustentabilidade sem ter de destruir a floresta amazônica”, afirma o executivo. Segue a entrevista.
Sobre a COP-30, qual a sua expectativa como executivo e cidadão?
Delair Bolis: O executivo e o cidadão, há muito tempo, estão misturados. Mas você me deu a oportunidade de falar sobre otimismo. Aprendi na minha vida que quando olho para um copo, independentemente de estar meio cheio ou meio vazio, olho para a água que está dentro do copo e a bebo para celebrar. Para desfrutar o líquido que está dentro do copo e, assim, ter a oportunidade de colocar mais líquido nele. Por que estou falando isso? Vejo com muito otimismo a realização da COP-30 no Brasil. Talvez a gente não atenda e não atinja 100% das expectativas e talvez existam interesses políticos individuais que não conseguimos controlar. Podemos não ter controle sobre a agenda da COP-30, mas temos uma oportunidade como indivíduo e organização de fazer a COP-30 mais um exemplo para o mundo e mostrar o que o Brasil faz e faz muito bem, que é a produção de proteína animal. Se por meio dessa COP nós construirmos uma agenda positiva, e estou otimista que vamos fazer, vamos conseguir mostrar como produzimos proteína animal baseada na sustentabilidade. Sem ter de destruir a floresta amazônica.
A MSD Animal tem alguma participação direta com os resultados da COP-30?
Delair Bolis: Temos a cadeira da vice-presidência da mesa brasileira de pecuária sustentável. Por causa disso, estamos apoiando a COP-30 e um projeto do governo do Estado do Pará voltado para a identificação e rastreabilidade bovina. Os primeiros resultados dessa iniciativa devem ser apresentados durante a COP30.
A rastreabilidade é, hoje, fundamental para os negócios?
Delair Bolis: Ela oferece duas oportunidades. A primeira é poder olhar para dentro da sua organização, do seu processo, para melhorar suas rotinas. A segunda é a possibilidade de segmentar seu processo. Seja em relação a um produto, seja em relação ao seu mercado. Ela também abre caminho para você conversar com o consumidor, que está cada vez mais exigente, responsável e participativo. A rastreabilidade é fundamental até para as questões comerciais.
Quais iniciativas práticas sustentáveis estão em andamento hoje no grupo?
Delair Bolis: Temos metas claras de redução de emissão de gases de efeito estufa, alinhadas ao Science Based Target Initiative (SBTi). Desde 2015, reduzimos em torno de 12% essas emissões e temos o compromisso de reduzir mais 46% até 2030. Temos 26 fábricas de biofarma e 27 fábricas de tecnologia no mundo. Dessas, 50% já usam energia renovável - eólica, solar ou biogás. O compromisso é que, em no máximo 15 anos, 100% usem energia renovável. No Brasil, entre saúde humana e saúde animal, temos quase mil veículos próprios, e 40% deles já são de baixa emissão. Outro exemplo prático foi a redução do tamanho das embalagens do Bravecto, nosso principal produto para animais de companhia. Reduzimos 20% no uso de papel e 40% no peso e na quantidade de bula. No caso dos animais de produção, mudamos a embalagem de uma vacina para avicultura: saímos do vidro e passamos a usar alumínio reciclável. Nos últimos três anos, isso representou a economia de 44 toneladas de vidro e a produção de 3,2 a 3,5 toneladas de alumínio reciclável. Outro exemplo é a tecnologia Idal, para vacinação de suínos sem agulha. Já vacinamos 35 milhões de suínos no Brasil com ela, o que nos trouxe economia de 69 toneladas de gelo gel, 10 toneladas de embalagens plásticas, 4 toneladas de isopor e quase 1,5 tonelada de agulhas que deixaram de ser usadas.
Essas ações fecham a conta no final das contas?
Delair Bolis: Quando você faz o bem sem olhar a quem, o bem volta para você. A sustentabilidade não é mais uma licença para operar, e sim para competir e vencer na cadeia produtiva. Quando colocamos na balança o que economizamos, vidro, logística reversa e embalagens, a conta fecha positivamente. Além disso, tem o aspecto da motivação do colaborador. O orgulho de fazer parte de uma empresa que se preocupa com a sociedade traz mais produtividade, mais felicidade no ambiente de trabalho e mais longevidade para a empresa.
E no setor como um todo, a sustentabilidade já é um tema consolidado?
Delair Bolis: A indústria, seja de saúde animal ou não, já entende que ser sustentável está conectado à eficiência operacional. Quando você melhora a produtividade, naturalmente se torna mais sustentável. Existem setores mais avançados, como o de defensivos agrícolas, que criou um ecossistema eficiente de logística reversa. Fechar os olhos para a sustentabilidade hoje é fechar os olhos para o futuro. Ela deixou de ser ideológica e passou a ser a razão por trás do propósito do negócio. O consumidor não quer mais saber apenas o que está comprando, mas como aquilo foi produzido e se conecta com o propósito dele.
Como a MSD Saúde Animal desenvolve seus produtos?
Delair Bolis: Temos 20 centros de pesquisa espalhados pelo mundo. Grande parte do nosso desenvolvimento é próprio e, para isso, investimos, em média, 20% do nosso faturamento. Quantia que pode variar de ano para ano. Os recursos são reinvestidos em novos produtos, novas moléculas e soluções. Partimos de três tipos de inovação. Aquela mais arriscada, em que realmente inventamos algo, nós também praticamos uma inovação incremental, que melhora o que já existe e, ainda, temos a linha da inovação disruptiva, que torna obsoleto o que já existe. Além disso, temos vários parceiros, joint ventures, por exemplo, para o desenvolvimento de novas moléculas. Pegamos o produto e levamos ele para uma escala de desenvolvimento. O nosso core é saúde, bem-estar e produtividade animal.
E qual o passo mais recente em termos de inovação?
Delair Bolis: De 2019 para cá investimentos ao redor de US$ 4 bilhões em uma nova tecnologia que nos permite ‘conversar’ com os animais. É um conjunto de tecnologias que vão desde a identificação dos animais e passa pelo monitoramento e vai até a rastreabilidade animal. Isso tudo faz conectarmos com o que nós verdadeiramente queremos ser.
Uma empresa de tecnologia?
Delair Bolis: Nós somos, com muita humildade, uma empresa líder e pioneira em prevenção animal, que é o nosso verdadeiro core. O foco é prevenir enfermidades e não tratá-las. No futuro, queremos, verdadeiramente, ser reconhecida pelo uso da tecnologia e da inteligência de dados para a gente poder melhorar ainda mais o bem-estar do animal e a produtividade animal. Já temos tecnologia que monitoram o comportamento do animal 24 horas por dia.
Fonte: Broadcast Agro.