22/Sep/2025
No Rio Grande do Sul, a pecuária leiteira passa por uma transformação que preocupa lideranças da agricultura familiar e da indústria. Em pouco mais de uma década, o Rio Grande do Sul viu o número de famílias produtoras despencar de cerca de 80 mil para menos de 30 mil, segundo a Emater-RS. Só nos últimos dois anos, a retração foi de cerca de 12%. A produção estadual se mantém estável graças à concentração em propriedades maiores e mais tecnificadas, mas o impacto social é evidente em diversos municípios. Para a Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), a mudança ameaça a sustentabilidade da agricultura familiar. A atividade garante renda regular em pequenas propriedades, mas vem perdendo atratividade. Jovens herdeiros deixam de ver futuro no campo diante da instabilidade dos preços e do peso dos custos de produção.
Permanece apenas quem é extremamente profissional, com escala, genética e manejo. Para os demais, a atividade se torna inviável. Recentemente, produtores de leite encerraram seus plantéis e partiram para a produção de soja ou arrendaram suas terras, quando o grão estava cotado a R$ 200,00 por saca de 60 Kg. Quem deixou a atividade dificilmente retorna, porque os investimentos exigidos são altos e a rentabilidade continua pressionada. A Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando/RS) e a Federação Brasileira das Associações de Criadores de Animais de Raça (Febrac) destacam o caráter histórico do fenômeno. Há 15 anos, o Estado reunia em torno de 150 mil famílias ligadas ao leite, número que hoje não passa de 28 mil com emissão regular de nota fiscal. As propriedades que permaneceram ampliaram a escala e elevaram a média diária de produção de 100 litros para cerca de 500 litros.
O Estado enfrentou cinco anos de clima adverso e a concorrência de importados como fatores que dificultaram a vida dos produtores. Na indústria, a redução preocupa, mas é vista como parte de um movimento mundial. O Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat/RS) observa que saem principalmente as propriedades menos produtivas ou sem sucessão, mas o processo vem perdendo força. Entretanto, o desafio é a competitividade: enquanto no Rio Grande do Sul a média por propriedade é de cerca de 450 litros, na Argentina e no Uruguai estruturas comuns atingem 4 a 5 mil litros. Essa diferença de escala pesa sobre a logística, que no Estado tem custo médio de R$ 0,20 por litro apenas no transporte. Apesar disso, o Rio Grande do Sul segue superavitário em leite, com capacidade de atender a demanda interna e ainda enviar excedentes a outros Estados. Para sustentar a produção, é preciso investimentos em genética, manejo e assistência técnica, aliados a programas de remuneração por sólidos, que permitem maior conversão industrial.
O preço ao produtor depende do mercado internacional. Não adianta pagar acima da realidade se não houver competitividade, porque isso abriria ainda mais espaço às importações. Os investimentos da indústria reforçam essa linha. A Lactalis anunciou R$ 400 milhões para ampliar suas plantas no Estado, em iniciativa voltada a aumento de produtividade e diversificação de produtos. Esse tipo de movimento pode estimular o crescimento de produtores já integrados a programas de assistência, que registram elevação anual de 10% a 15% na produção. Do lado das políticas públicas, um projeto cria o Pró-Leite RS - Programa Estadual de Incentivo à Produção Leiteira. A medida busca resgatar a competitividade e tornar a atividade mais atrativa, após a saída de mais de 55 mil produtores em dez anos. Fonte: Jornal do Comércio. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.