17/Sep/2025
Durante décadas, a Nova Zelândia foi um país pequeno, isolado e dependente de subsídios agrícolas que mantinham sua economia engessada. Tudo mudou nos anos 1980, quando uma reforma radical abriu os mercados, eliminou protecionismos e forçou os produtores a se unirem em cooperativas modernas. A Nova Zelândia é um pequeno país no Pacífico Sul com pouco mais de 4,5 milhões de habitantes. Mesmo sem fabricar carros, tornou-se o quarto povo mais motorizado do planeta, superando nações como Itália e Alemanha. Essa façanha tem origem em um modelo agropecuário altamente eficiente, centrado na produção de leite, que responde por cerca de 3% de todo o leite do mundo. O país ostenta uma renda per capita de US$ 48 mil e figura entre os 20 melhores Índices de Desenvolvimento Humano do planeta.
Estradas impecáveis, casas sem grades e uma paisagem que mistura montanhas nevadas e pastagens verdes completam o cenário de prosperidade. A história começou por volta de 1830, quando os colonizadores britânicos levaram vacas e ovelhas para a ilha. O clima ameno, com temperaturas entre 10°C e 20 °C, e a precipitação anual bem distribuída favoreceram o crescimento de gramíneas nutritivas, como as ryegrass. O relevo suave facilita o pastejo rotacionado com baixo custo, e a condição insular reduz a entrada de pragas, diminuindo a necessidade de medicamentos. Essa combinação permitiu à Nova Zelândia construir uma pecuária de alta qualidade com custos reduzidos e baixa carga sanitária.
Até os anos 1980, a Nova Zelândia estava estagnada, com economia fechada, dependente de subsídios e pouco eficiente. A virada veio quando o governo aplicou reformas radicais, cortando gastos, eliminando subsídios agrícolas e abrindo a economia. As mudanças foram tão profundas que a revista The Economist passou a chamar o país de “a economia mais desregulamentada do mundo”, criando um ambiente de negócios mais livre e competitivo que impulsionou especialmente o setor de laticínios. Sem apoio estatal, os produtores da Nova Zelândia se organizaram em cooperativas para ganhar escala e investir em tecnologia, dando origem à Fonterra, hoje uma das maiores empresas lácteas do mundo e responsável por 95% das exportações do setor.
A cooperativa processa 22 bilhões de litros de leite por ano, movimenta mais de 20 bilhões de dólares neozelandeses e garante que seus 10,5 mil produtores sejam sócios, com cotas proporcionais ao volume entregue e participação nos lucros e riscos. Além disso, a empresa conseguiu transformar o leite em produtos de maior valor agregado, como leite artesanal, manteiga premium e insumos de uso industrial. O país adotou um sistema sazonal em que 95% dos partos ocorrem na primavera, quando as pastagens estão mais nutritivas. As vacas passam cerca de 280 dias ao ar livre, o que reduz o uso de ração industrial e garante custos de produção de apenas US$ 0,25 a US$ 0,35 por litro, menos da metade da média global. As raças Jersey e Kiwi Cross contribuem com alta eficiência de conversão alimentar e maior teor de sólidos lácteos: enquanto o Brasil tem média de 6,6%, o país alcança 8,4%, agregando valor ao leite e elevando a competitividade.
A Nova Zelândia também desenvolveu o sistema Sharemilking 50/50, no qual jovens entram com vacas e mão de obra enquanto produtores experientes oferecem terra e cotas, dividindo os lucros de forma igualitária. Aproximadamente 35% dos jovens do setor começam por esse modelo, que facilita o acesso à terra e promove a renovação do campo. Além disso, o poder de voto é proporcional ao volume de leite entregue, com limites para evitar concentração, garantindo a participação democrática de todos os cooperados. A agricultura responde por 48% das emissões da Nova Zelândia, e o governo investe em soluções como o aditivo 3NOP, capaz de reduzir o metano sem comprometer a produtividade. Entre as práticas obrigatórias estão o cercamento de nascentes, a criação de faixas de proteção e o controle de efluentes.
Paralelamente, mais de 350 cientistas atuam no desenvolvimento de novos ingredientes lácteos, fórmulas infantis e proteínas especializadas, consolidando a liderança tecnológica do setor. Em 2023, a Nova Zelândia exportou US$ 12,4 bilhões em produtos lácteos e importou US$ 5,2 bilhões em veículos de marcas como Toyota, Hyundai e Chery, evidenciando o princípio da vantagem comparativa: produzir o que faz melhor e recorrer ao comércio para obter o restante. Assim, mesmo sem fábricas de automóveis, o país tornou-se uma das populações mais motorizadas do mundo, além de consolidar-se como referência global em laticínios, sustentabilidade e qualidade de vida. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.