ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

10/Sep/2025

Leite: América do Sul puxa alta global da produção

Dados compilados pelo Observatório da Cadeia Láctea Argentina (OCLA), referentes ao primeiro semestre de 2025, trouxeram uma perspectiva diferente sobre o crescimento da produção de leite no mundo. Na média dos países e blocos considerados, a produção cresceu 1,05%, com algumas regiões (União Europeia, China e Austrália) tendo redução de produção e, outras apresentando forte aumento. O que chama a atenção é que os quatro países que mais cresceram percentualmente foram Argentina (11,7%), Chile (8,0%), Brasil (6,2%) e Uruguai (5,7%). Todos do Cone Sul.

Ainda que seja importante ressalvar que a Argentina venha de uma base muito fraca, em função da forte queda de 12,5% frente ao primeiro semestre de 2023, e que o Uruguai também vinha de queda, embora menor (4,0% frente ao primeiro semestre de 2023), a liderança no crescimento mundial nos países do Cone Sul não deixa de ser relevante, representando uma reversão de uma tendência de mais de uma década. Após atingir 10,3% da produção mundial de leite bovino em 2011, a América do Sul foi perdendo gradativamente participação, alcançando 8,67% em 2023, segundo a FAO.

Embora cada país tenha a sua história, como por exemplo o processo de aumento de escala e profissionalização que começa a dar um contorno diferente para o leite brasileiro, influenciando a oferta, é interessante pensarmos sobre o porquê o esquecido Cone Sul ter liderado o crescimento global. Esse crescimento reside em uma combinação de fatores:

- Clima: parte da região tem sofrido hora com duras secas, hora com fortes chuvas. O primeiro semestre de 2025 foi tranquilo nesse sentido.

- Ambiente institucional: principalmente na Argentina, o ambiente político-econômico parece mais calmo, o que favoreceu a retomada dos investimentos que haviam sido adiados em 2024

- Relação de troca: o primeiro semestre foi bom para o produtor de leite praticamente no mundo todo. Aí entra o quarto fator que explica o maior crescimento no nosso continente:

- Condições propícias para o crescimento: menor regulamentação ambiental, se comparado a Europa e Nova Zelândia; sem restrição hídrica crônica, se comparado a Austrália e parte dos EUA; disponibilidade farta de insumos (milho, soja, etc)

As projeções feitas por agências e bancos especializados não apontam que a região vai mudar seu papel como fornecedora de leite no mundo. Esse primeiro semestre de 2025 dá uma pista de que as coisas podem ser diferentes no futuro, desde que haja condições adequadas. Nesse cenário, é possível crescer mais do que os outros e ser, enfim, mais protagonistas no mercado externo. Apesar do aumento de 11,7% verificado pela Argentina, o acréscimo de cerca de 500 milhões de litros no semestre é próximo ao dos Estados Unidos, que cresceu somente 1%, mas a partir de um volume muito maior.

O maior aumento em volume no mundo no primeiro semestre foi justamente do Brasil (considerando os dados do IBGE), com acréscimo de mais de 760 milhões de litros. Esse acréscimo no Brasil (aliado ao leite importado que ainda entra em bons volumes) é o que está desafiando os preços nesse momento. Não é que a demanda esteja fraca; é que a quantidade ofertada aumentou muito. Em valores per capita, a disponibilidade aparente em 2025 deve chegar a 178 Kg/pessoa/ano, contra 175 Kg no ano passado. Vale notar que é o terceiro ano de recuperação no consumo aparente, representando uma mudança de cenário se comparado ao período entre 2011 e 2022, quando oscilou em torno dos 165 Kg e 172 kg no Brasil.

O desafio é evidente: mantendo-se esse crescimento na oferta, é preciso continuar dando vazão a esse volume no mercado interno. Há espaço para ocupar parte do leite importado no ano que vem, caso os preços externos/câmbio e sua relação com os preços internos resulte em cenário desfavorável para importar. Substituídas as importações, haverá um limite para o crescimento da oferta interna se o nosso campo de batalha for o mercado interno. É pouco realista apostar em crescimento de consumo total da ordem de 3% a 4% ao ano, continuamente. O caminho, então, será a exportação. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio