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05/Sep/2025

Estudo sobre consumo de proteínas por brasileiros

Os brasileiros consomem mais proteínas do que o mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ao mesmo tempo, 78,6% dos residentes de capitais do País não alcançaram a recomendação da entidade para o consumo de frutas, legumes e verduras em 2023, de acordo com informações do artigo “O mito do déficit proteico”, publicado na Revista de Saúde Pública, em fevereiro deste ano. A OMS considera que 0,8 g de proteína por quilo de peso corporal é suficiente para suprir as necessidades fisiológicas. O valor equivale a cerca de um bife de 185 g para um adulto de 70 Kg. Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), citada no artigo, dentre os 20% mais pobres da população brasileira, somente 3% tiveram uma ingestão abaixo desse nível. Os pesquisadores argumentam que há uma armadilha em focar apenas em um nutriente, como vem acontecendo com a proteína, alçada à ‘estrela da vez’, e não no conjunto do padrão alimentar.

O maior desafio da alimentação contemporânea está justamente em ampliar a diversidade das refeições. E isso passa por reduzir a participação de produtos de origem animal e ultraprocessados no dia a dia e, ao mesmo tempo, fortalecer a presença de frutas, verduras e legumes in natura. O corpo humano depende de uma variedade de nutrientes para a manter energia, a mobilidade e o bom funcionamento de órgãos e sistemas. A proteína é apenas um deles. Ela faz parte do grupo dos macronutrientes, que são aqueles que a gente precisa em maior quantidade. Carboidratos e gorduras também estão nesse grupo. Também existem os micronutrientes, de que o corpo precisa em menor quantidade. São, de modo geral, as vitaminas e os minerais. Além disso, hoje há os compostos bioativos, que não são classificados nem como macro nem como micronutrientes, mas que têm uma série de funções importantes no organismo.

Se o corpo não tiver toda essa gama de substâncias suprida de forma adequada, pode não funcionar plenamente. Por isso, é necessário um equilíbrio. É um grande quebra-cabeça. Se fornecer muito de uma só peça, e as outras ficam faltando, a imagem final não vai ser alcançada. Ou seja, a condição de saúde e bem-estar vai estar prejudicada em maior ou menor escala, a depender do que falta, de quanto falta e há quanto tempo falta. Na prática, quando um nutriente é consumido em excesso, é comum que outros nutrientes, igualmente essenciais para o bom funcionamento do organismo, acabem sendo deixados de lado. Na visão do Conselho Federal de Nutrição (CFN), a recente badalação em torno especificamente da proteína tem a ver com o discurso de muitos influenciadores digitais. Muitos deles promovem dietas e suplementos que prometem emagrecimento e ganho de massa muscular.

Essas pessoas, muitas vezes, não têm formação em nutrição. Não que elas sejam proibidas de falar sobre alimentação. Mas, o que se vê são indivíduos em busca de engajamento, trazendo o que chamam de ‘dietas da moda’. Elas fazem com que as pessoas busquem resultados a curto prazo e expõem o público a alguma carência ou sobrecarga nutricional. O aumento no consumo do nutriente está atrelado ao consumo de ultraprocessados. Isso acontece por causa do marketing da indústria, com embalagens atraentes e com informações que fazem parecer que o produto é nutritivo. Com a obsessão pelo ganho de massa muscular ou por sua preservação durante o envelhecimento, muita gente acaba sendo influenciada a consumir determinados produtos apenas porque a embalagem destaca ‘20 g de proteína’. Isso é preocupante, porque a pessoa estará consumindo um ultraprocessado. Cerca de 65% da população adulta dos Estados Unidos leva em conta o teor de proteínas ao comprar alimentos e bebidas.

O estudo argumenta que isso faz parte de um esforço consciente para aumentar o consumo do nutriente, seguindo a lógica de “quanto mais, melhor”. A criação de todo o imaginário em torno das proteínas vem desde a década de 1970, muito associada a produtos industrializados como solução. Naquela época, começou com o leite em pó e, em seguida, outros suplementos. Hoje, há o whey protein muito presente e a proteína sendo adicionada aos mais variados produtos industrializados. E sempre com uma forte alegação positiva, que traz a percepção de que, se um alimento tem proteína ou mais proteína, ele necessariamente é positivo para a saúde. Em geral, esses produtos são ultraprocessados. Diante do cenário, o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) realizou um levantamento, publicado no começo de agosto, com análise de 52 ultraprocessados com alegações proteicas (informações ou mensagens colocadas em rótulos e embalagens).

É interessante entender, principalmente, como essas alegações são colocadas em uma categoria de produtos que deveria ser evitada pela população. De acordo com o levantamento, entre os 52 produtos analisados, 65 tipos de alegações foram identificadas. A maior parte é referente à quantidade de proteínas (44 delas). Algumas alegações não são claras. Por exemplo, tinha um rótulo que citava que o produto tinha x% de proteína, mas não se sabe como isso foi calculado. Não fica claro no rótulo e nós há nenhum critério que diga como se calcula uma percentagem de proteína. O levantamento ainda mostrou que alguns alimentos, antes classificados como minimamente processados ou processados, passaram a ser classificados como ultraprocessados para atender à tendência de aumento no teor proteico. A estratégia pode levar o consumidor a acreditar que está fazendo uma escolha mais saudável.

Antes, essa estratégia estava muito associada a ‘diet’, ‘light’, ‘sem açúcar’, ou à imagem de elementos que remetiam a algo saudável. Mas, hoje, o simples fato de destacar a quantidade de proteína pode ter o mesmo efeito das alegações vistas anteriormente. Vale ressaltar que o grupo dos ultraprocessados é composto por alimentos e bebidas que foram submetidos a métodos mais agressivos de alteração do produto in natura, além da adição de substâncias de uso industrial, como aromatizantes, corantes, conservantes, emulsificantes e outros aditivos. Em geral, esses produtos têm excesso de sódio, açúcar e/ou gordura, uma trinca de ingredientes considerada crítica para a saúde, já que o excesso aumenta o risco de uma série de doenças. Apesar dos efeitos positivos para o organismo, como a construção e o reparo de tecidos, o consumo exagerado de proteínas pode gerar efeitos negativos.

As proteínas são quebradas em aminoácidos que têm funções específicas no organismo, mas, em excesso, podem desequilibrar outras funções. Pode-se destacar as funções renal e hepática, além do balanço de cálcio no organismo, que favorece a formação de cálculos. Também existe relação entre o consumo excessivo de proteínas e aumento do risco de doenças cardiovasculares que, por outro lado, têm fatores de proteção nas frutas, legumes e verduras. O limite máximo fica em torno de 35% das calorias diárias, o que dá mais ou menos 175 g de proteína em uma dieta de 2.000 Kcal ou 2,18 g por quilo de peso em alguém com 80 quilos. No entanto, um estudo recente identificou um aumento do risco cardiovascular associado à ingestão proteica já numa faixa superior a 22% do total de energia diária, o que equivale a 110 g em uma dieta de 2.000 kcal. Entre a população brasileira, as proteínas representam 18% do valor energético total diário.

Importante ressaltar que não consumir proteínas em quantidade suficiente pode acarretar problemas como baixa massa muscular, anemia, cansaço físico, osteopenia e osteoporose, falta de vitamina B12 no organismo (responsável por manter os níveis de ferro no sangue) e de B9 (proteínas estruturais e hemoglobina), além do aumento de infecções de pele, cabelo e unhas. Para quem gosta de treinar, a falta de uma quantidade recomendada de proteínas pode prejudicar na performance, já que o corpo também a utiliza como fonte de energia, não apenas os carboidratos. Mas, nada em excesso faz bem e não é saudável consumir proteína além da quantidade recomendada diariamente, deixando de consumir carboidratos, legumes, verduras e frutas. É saudável variar os tipos do nutriente nas refeições e distribuí-los ao longo do dia. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.