21/Aug/2025
O mercado de Minas Gerais foi um dos poucos do setor de laticínios no Brasil a registrar crescimento no número de empresas abertas em 2024. Um levantamento realizado pela Equus Capital destaca os bons resultados apresentados pela Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e pelas regiões sul e sudoeste do Estado. Entre os subsetores, o comércio varejista de laticínios e frios foi o grande destaque com 121 aberturas líquidas, o equivalente a uma variação de 4,1% frente ao ano anterior. Em seguida aparece o segmento de comércio atacadista de sorvete, com 65 aberturas líquidas e variação de 50,4%. Já a área de fabricação de laticínios registrou 58 aberturas líquidas, o que representa uma variação de 4,6%. O desempenho é reflexo de uma região mais industrializada e consolidada que as demais. Minas Gerais conseguiu se destacar com produtos de qualidade superior, conquistando prêmios internacionais, algo que poucos Estados conseguiram reproduzir.
Os queijos premium de Minas Gerais se destacam cada vez mais. Os resultados positivos do mercado local estão diretamente ligados ao bom desempenho das regiões produtoras. Conforme o estudo, a quantidade de empresas localizadas nas regiões sul e sudoeste de Minas Gerais dobrou no ano passado, com seis aberturas líquidas. Isso mostra um movimento recente de entrada de empresas de grande e médio porte no interior do Estado. Os dados também apontam uma consolidação deste tipo de empresa em regiões com capacidade logística instalada, proximidade de bacias leiteiras regionais e boa integração com o agronegócio regional. A Região Metropolitana de Belo Horizonte lidera em volume absoluto de aberturas líquidas entre médias e grandes empresas, com movimentações importantes em três subsetores: atacadista de leite e laticínios, comércio atacadista de sorvetes e fabricação de sorvetes e gelados.
No caso do setor atacadista de leite e laticínios, foram registradas três aberturas líquidas e variação de 23,1% no período analisado. O comércio atacadista de sorvetes também apresentou três aberturas líquidas de empresas, com variação de 60% frente a 2023. Já o segmento de fabricação de sorvetes e gelados teve apenas uma abertura líquida, com uma entrada inédita no mercado local para esse porte de empresa. Esse crescimento evidencia a relevância logística de Belo Horizonte, que funciona como hub de abastecimento para diversas áreas da Região Sudeste do País e parte da Região Centro-Oeste. O aumento aponta ainda para uma descentralização da cadeia produtiva com incentivos locais, demanda urbana crescente e potencial de novos corredores comerciais. Por outro lado, as empresas que encerraram as atividades nos últimos dois anos tinham, em média, 7,2 anos de operação no mercado. Dentre elas, 22,4% foram fundadas nos últimos 24 meses, o que reflete a dificuldade dos novos entrantes em se manterem no mercado.
Nos últimos dois anos, o subsetor de comércio varejista de laticínios e frios registrou uma taxa de fechamento de 23,5 % do total de estabelecimentos, desconsiderando novas aberturas. Destaque para a importância histórica de Minas Gerais para a indústria de laticínios no Brasil, com algumas bacias leiteiras tradicionais no mercado. O Estado é um dos três principais produtores nacionais ao lado de São Paulo, que também é o principal mercado consumidor, e do Paraná. Minas Gerais possui grande relevância principalmente no fornecimento desse tipo de produto para outras regiões do Brasil. O sul do Estado, por exemplo, atende tanto o mercado interno quanto a região norte de São Paulo e o Rio de Janeiro. O estudo também mostra um movimento de consolidação e descentralização no setor, com muitas empresas reavaliando sua presença em áreas mais saturadas do mercado. O ano de 2024 foi marcado por um número elevado de encerramentos, principalmente entre micro e pequenas empresas, revelando desafios em competitividade, gestão e adaptação.
No total, 7.603 estabelecimentos fecharam as portas no período. O comércio varejista de laticínios e frios teve a maior taxa de fechamento de empresas em 2024, com uma redução líquida de 26,6% no número de estabelecimentos. A indústria de laticínios também apresentou um desempenho desafiador em 2023. A fabricação de derivados do leite teve uma taxa de fechamento de 21,5%, com 1.334 encerramentos no ano. A combinação de complexidade regulatória, custos operacionais elevados e a pressão por margens tem impactado diretamente a sustentabilidade dos negócios no subsetor de fabricação. O comércio atacadista de leite e derivados registrou uma taxa de fechamento de 13,7%, com 187 empresas encerrando operações. A pressão por competitividade logística e a crescente concentração de mercado explicam parte dessa vulnerabilidade. Ainda assim, apesar das dificuldades no varejo, os segmentos de indústria e atacado seguem mostrando recuperação e crescimento em termos líquidos, puxados por investimentos em eficiência logística, inovação e estratégias de consolidação regional.
O grande desafio hoje está na manutenção da cadeia e na otimização da logística. Empresas que investem em tecnologia, gestão de estoque e ampliação de canais de distribuição conseguem ganhar espaço, principalmente no atacado e na indústria. As empresas menores já estão enfrentando dificuldades há bastante tempo. Isso porque o mercado de laticínios tende a operar com margens mais baixas e, portanto, sofre mais que os demais em períodos de incertezas. A dependência das importações em alguns segmentos afeta negativamente a previsibilidade do setor. Esse cenário obriga o produtor a buscar crédito no mercado, que vem encarecendo nos últimos anos. Como o produtor não possui muita margem e o custo da dívida aumentou bastante, ele acaba sofrendo devido ao cenário de incertezas na macroeconomia.
Quanto ao futuro, dificilmente haverá mudanças positivas quanto a esse cenário, uma vez que a elevada taxa de juros afeta o crescimento das pequenas empresas que já estão bastante alavancadas. Os únicos que podem apresentar bons resultados são os grandes players e as médias empresas que serão adquiridas por outras maiores. A incerteza macroeconômica e as taxas de juros são os principais gargalos para crescimento. Outro ponto de atenção é a questão envolvendo a sucessão nas empresas do setor de laticínios, uma vez que grande parte dos proprietários no País já está com idade avançada. Algumas empresas familiares não possuem um herdeiro devidamente preparado para assumir os negócios. Existe um movimento de consolidação no mercado, das grandes empresas comprando as médias, e para aqueles empresários que ainda não têm um sucessor, esse pode ser um momento muito interessante para fazer bons negócios. Fonte: Diário do Comércio. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.