15/Jul/2025
Um mês após a listagem das ações na Bolas de Nova York, a JBS registrou um forte aumento na proporção de investidores estrangeiros na sua base e mira entrar em índices de ações dos Estados Unidos no ano que vem, segundo o diretor financeiro (CFO) da companhia. O percentual de estrangeiros no free float da JBS, excluindo papéis detidos pelo BNDES, passou de 65% para mais de 82% após a listagem, e a procura por reuniões com a área de relações com investidores da empresa aumentou mais de 20%. "A listagem nos Estados Unidos nos traz acesso a uma base de investidores muito maior do que a que tínhamos, e isso já começou a acontecer", afirmou Cavalcanti.
O executivo também falou sobre os desafios impostos pelo atual ciclo de gado nos Estados Unidos, o momento favorável dos mercados de frango e suíno no Brasil com a marca Seara e as perspectivas otimistas para os ganhos que a JBS pode obter diante do crescimento da demanda por proteína pela população global. Cavalcanti comentou ainda sobre a expectativa para entrar em índices de ações americanas, como o Russell 1000, a partir do ano que vem. E reafirmou o objetivo de entrar futuramente no S&P 500, um dos principais índices de Wall Street. Segue a
entrevista:
Como vocês avaliam o desempenho das ações recém-listadas em Nova York?
Guilherme Cavalcanti: Vamos separar em duas avenidas: a primeira é a questão da base de investidores. A listagem nos Estados Unidos nos traz acesso a uma base de investidores muito maior do que a que tínhamos, e isso já começou a acontecer. Desde que começamos a listar em Nova York, em 12 e 13 de junho, nosso volume médio negociado aumentou cinco vezes em relação ao volume médio de 2024. O nosso free float, sem contar o BNDES, saiu de 65% da base estrangeira para mais de 82%. E os investidores americanos cresceram mais de 20%. Também registramos um aumento de mais de 20% na demanda por reuniões com a área de relações com investidores, ou seja, novos investidores estão começando a conhecer a JBS, fazendo seu dever de casa e montando seus modelos. Por outro lado, esse começo tende a ser um pouco mais volátil porque saímos dos índices que estávamos antes, como o Ibovespa, e ainda não entramos nos índices americanos. Precisamos esperar os rebalanceamentos.
Quais são as perspectivas para entrar nos índices de ações americanos?
Guilherme Cavalcanti: O Russell 1000, que é um índice relevante com US$ 10,4 trilhões em fundos que o seguem, já anunciou que vai incluir a JBS. Nosso tamanho de mercado já está entre US$ 15 e 16 bilhões, mas o último rebalanceamento aconteceu em maio e não houve tempo para entrar este ano. O próximo rebalanceamento será em junho de 2026, e até lá, vamos buscar entrar em outros índices. Para isso, precisamos fazer algumas alterações nos nossos registros, para passar a usar os formulários 10-K e 10-Q, que são formulários de empresas americanas e farão com que nos tornemos elegíveis a mais uma outra gama de índices, incluindo o nosso principal objetivo, que é um dia chegar ao S&P 500.
Para o investidor brasileiro, com a deslistagem das ações e a listagem dos BDRs na B3, o que muda?
Guilherme Cavalcanti: O investidor brasileiro pode optar agora pelo BDR, que representa essencialmente o mesmo ativo que está listado em Nova York, mas negociado direto na B3. O preço é automaticamente equilibrado com alguns sistemas que equalizam a diferença cambial entre o ativo lá fora e aqui. Estamos falando sobre o mesmo ativo, que vai ter a mesma valorização daqui para a frente e a mesma variação de preço.
Qual tem sido a reação da JBS à fase atual do ciclo pecuário nos Estados Unidos, com o rebanho no país registrando mínimas sucessivamente?
Guilherme Cavalcanti: O nosso setor é cíclico, então sabemos que vão existir períodos mais difíceis e períodos mais benéficos. Sobre o ciclo de pecuária nos Estados Unidos, temos o atual rebanho registrando mínimas, e a empresa se preparou para esta fase alongando a dívida e diversificando seu portfólio. Estamos diante de rebanho mínimo e preço recorde de gado, e este ano será o mais desafiador. As condições climáticas melhoraram, o que levou a uma recomposição do rebanho, mas isso aumenta os preços devido à diminuição da oferta no abate de vacas. Nesse cenário, por outro lado, nossas exportações do Brasil e da Austrália para os EUA devem crescer e compensar isso.
Em relação a futuras fusões e aquisições, aqui e nos Estados Unidos, quais são as perspectivas da JBS, agora listada também em Nova York?
Guilherme Cavalcanti: A condição financeira da JBS é favorável, mas quando falamos em aquisições, precisamos encontrar o ativo certo pelo preço certo. Queremos crescer, principalmente, em alimentos preparados, de valor agregado e marca, nos mercados de Estados Unidos e Europa, e frango na Europa. Também queremos crescer no salmão e em ovos, mas tudo isso vai depender de aparecer a oportunidade certa. O importante é que a JBS está hoje com uma boa estrutura de capital e acesso ao mercado de crédito. E, agora, com a listagem nos Estados Unidos, tem acesso maior ao de ações.
Com o Brasil tendo sido reconhecido de novo pela Organização Mundial de Saúde Animal como livre de gripe aviária, quais são as perspectivas para a Seara?
Guilherme Cavalcanti: O cenário para a Seara é positivo devido à forte demanda global por frango e porco. Isso tem feito os preços e os volumes de exportação da empresa estarem bastante favoráveis, combinado com o preço barato de matéria-prima, que são os preços dos grãos, com as safras recordes que a gente vem apresentando no Brasil e nos Estados Unidos. Apesar do impacto da gripe aviária, que durou mais ou menos um mês, a Seara mantém margens robustas.
Sobre novos hábitos de consumo, muito se fala sobre crescente demanda por proteína, até pelo crescimento de medicamentos para emagrecimento. Como a JBS se ajusta a esse cenário?
Guilherme Cavalcanti: Isso é uma tendência que tem favorecido muito a JBS. Somos a empresa do mundo que está melhor posicionada para atender esse fenômeno, que combina fatores como o crescimento populacional, o crescimento de renda per capita e o aumento da demanda por proteína devido a uma questão de longevidade. Cada vez mais você precisa comer mais proteína para manter sua massa muscular, para evitar doenças como a osteoporose. Isso é uma questão de saúde. E também tem essa questão dos medicamentos que vieram para revolucionar o emagrecimento. Hoje você já tem 15 milhões de americanos utilizando essas drogas, e a recomendação dos médicos quando você está tomando esses remédios é que você aumente seu consumo de proteína para evitar perda de massa muscular. Isso também está beneficiando a demanda por proteína. Todas as empresas de alimentos nos EUA estão lançando produtos à base de proteína, o que é uma demanda a mais pela produção da JBS.
Fonte: Broadcast Agro.