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15/Jul/2025

Lácteos e os efeitos indiretos da taxação dos EUA

No dia 9 de julho, o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou, através de uma carta, a imposição de uma tarifa de 50% sobre todas as importações provenientes do Brasil, com início previsto para 1º de agosto. Na mensagem, Trump afirmou que a decisão busca corrigir desequilíbrios comerciais históricos causados por políticas tarifárias e não-tarifárias e barreiras comerciais do Brasil, causando esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos, o que não é verdade. O tom do comunicado foi de confronto, com o presidente alertando que qualquer retaliação brasileira resultará em tarifas ainda mais altas. Diante desse cenário, surge a pergunta: essas tarifas podem afetar o setor lácteo brasileiro?

Como o Brasil historicamente não é um grande exportador de lácteos, o setor tende a passar relativamente ileso pelas novas tarifas impostas pelos norte-americanos. No entanto, possíveis medidas de retaliação por parte do governo brasileiro podem gerar efeitos indiretos sobre a cadeia produtiva do leite. Hoje, o Brasil ainda depende fortemente do diesel importado para abastecer sua frota, e cerca de 17% desse volume veio do mercado norte-americano no primeiro trimestre de 2025. Caso o governo opte por aplicar tarifas recíprocas sobre as importações dos Estados Unidos, o país poderá precisar buscar fornecedores alternativos, como Rússia, União Europeia ou Oriente Médio, o que pode elevar os custos logísticos e aumentar a vulnerabilidade a flutuações de preços.

Nesse cenário, o transporte rodoviário pode ficar mais caro, pressionando os custos de frete, coleta de leite e distribuição de derivados. Ainda assim, esses efeitos dependem de uma eventual resposta diplomática e, até o momento, não representam um impacto imediato ou inevitável para o setor lácteo. Embora o aumento das tarifas de importação por parte dos Estados Unidos não atinja diretamente o setor lácteo brasileiro, é importante observar possíveis efeitos indiretos, especialmente sobre o câmbio. Uma retração nas exportações, de forma geral, tende a reduzir a entrada de dólares no País, o que pode pressionar a cotação da moeda norte-americana frente ao Real. Nesse contexto, a valorização do dólar pode influenciar o custo de insumos utilizados na produção de leite, como milho e soja, que são commodities cotadas em dólar.

Com o câmbio mais favorável à exportação, parte desses produtos pode ser redirecionada ao mercado externo, reduzindo a oferta interna e impactando os preços para o produtor. Além disso, um Real mais fraco tende a pressionar a inflação no País, o que, caso se prolongue, pode reduzir o poder de compra do consumidor final, o que consequentemente desacelera o mercado do leite. Ainda assim, esse é um cenário de médio prazo e depende de diversos fatores econômicos e políticos. Por fim, é importante considerar o cenário das importações brasileiras. Atualmente, o setor lácteo encontra um ambiente favorável à entrada de produtos estrangeiros, impulsionado pela queda dos preços internacionais e pela relativa estabilidade cambial. No entanto, caso o dólar continue a se valorizar frente ao Real, esse quadro pode se inverter.

Nesse caso, o produto nacional tende a ganhar competitividade, tornando-se mais atrativo do que o importado. Portanto, o setor lácteo brasileiro não deve sofrer impactos imediatos com a nova taxação imposta pelos Estados Unidos. A produção de leite no País tem pouca relação com as exportações para o mercado norte-americano, o que protege o segmento nesse primeiro momento. Os possíveis reflexos se concentram em fatores indiretos, como uma eventual alta no custo dos combustíveis ou mudanças no câmbio, que podem afetar os preços de insumos e a inflação interna. Mesmo assim, esses efeitos dependem de muitos desdobramentos e tendem a ocorrer de forma mais gradual. Para o produtor de leite, o cenário segue estável. Não há motivo para preocupação imediata. O mais importante agora é acompanhar o contexto econômico com atenção, mas sem alarmismo. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.