14/Out/2019
Os preços do boi gordo devem continuar firmes nas regiões pecuárias do País e há possibilidade de atingirem patamar recorde em São Paulo no ano que vem. Vários fatores contribuem para essa perspectiva, principalmente o ritmo forte das exportações para China e Hong Kong, em especial, e a falta de bovinos de reposição, que sinaliza limitada oferta de animais para abate. Além disso, o mercado considera a possibilidade de recuperação econômica do Brasil, que tem reflexos diretos no consumo de carne bovina e, consequentemente, na demanda por bovinos terminados. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) aponta que em setembro a cotação média da arroba do boi gordo e da carcaça casada (dianteiro e traseiro bovinos) foi a maior da série histórica, em termos nominais. A média do boi gordo (Indicador Esalq/B3, à vista, em São Paulo) foi de R$ 158,31 por arroba em setembro, recorde nominal da série, iniciada em 1994.
Em termos reais, a média de setembro é a maior desde março de 2018 (quando foi de R$ 159,00 por arroba), mas está abaixo dos R$ 189,89 por arroba (em valores reais), de abril de 2015. A previsão é positiva para o setor e a arroba pode atingir valor recorde até o ano que vem. O mercado deve continuar firme em 2020 e 2021, mudando de posição apenas a partir de 2022. Tal situação é atribuída, sobretudo, à atual valorização dos bovinos de reposição, o que torna interessante para o produtor segurar matrizes. Assim, a oferta de bois para abate diminui. Esses preços de bovinos de reposição só devem começar a cair em 2022 (quando as matrizes retidas agora já estarão produzindo os bezerros que vão repor a demanda por bois de engorda). É importante lembrar que o abate de fêmeas, tanto jovens quanto vacas velhas, é um importante regulador da oferta de carne no País e dos preços da arroba.
Apesar do otimismo em relação ao valor do boi gordo (e também do gado de reposição), o momento ainda é de retomada: há 10 semanas seguidas o mercado está em uma curva positiva, mas enquanto o valor do boi gordo não atingir R$ 186,11 por arroba em São Paulo (para boi comum e pagamento à vista), não existe alta, e sim recuperação de preço. Este ano deve terminar com arroba até 8,5% mais valorizada em relação ao início do ano, diante de uma inflação projetada dificilmente superior a 4%. O setor espera que nenhum fato atrapalhe o mercado, como uma nova Operação Carne Fraca, por exemplo, que derrubou os preços da arroba em março de 2017. A expectativa é de que o preço atinja R$ 186,00 por arroba em São Paulo valores acima desse patamar em 2020. A previsão é de que não haverá gado na quantidade e nas especificações de demanda exigidas pelo mercado externo e interno. Caso ocorra uma recuperação no mercado interno, a carência de oferta será ainda maior. Os pecuaristas não devem abater matrizes para atender aos frigoríficos.
Com a valorização também do bezerro, a tendência é de que a oferta fique restrita. Segundo a Embrapa Gado de Corte, a previsão de R$ 186,11 por arroba em São Paulo é ambiciosa, mas não impossível. Este patamar deve ser atingido em São Paulo na primeira metade de 2020, quando o País estará na safra de carne, apesar da demanda pelo 'boi China'. No entanto, isso pode acontecer no fim da seca do próximo ano, quando a oferta de boi deverá ser mínima. A recente habilitação de mais 17 frigoríficos brasileiros para exportar carne bovina à China representa uma grande mudança para a pecuária brasileira. Mas, ao mesmo tempo em que também antevê a contínua elevação nos valores pagos por boi gordo e bezerros, há uma certa preocupação com o futuro. Serão necessários bovinos jovens, de até 30 meses, para atender o mercado chinês. Certamente isso vai provocar um incremento no abate de novilhas.
Na medida em que isso acontecer, para atender tanto a demanda do 'boi China' quanto para um mercado interno mais sofisticado de carne grill, butiques e churrascarias, em algum momento vão faltar bezerros no Brasil, pois haverá um rebanho de vacas velhas. Portanto, com a expectativa de se premiar mais pela entrega de novilhas, o Brasil pode criar um problema de oferta para o futuro. No Brasil, 75% da demanda de carne está voltada para o mercado interno. O consumidor brasileiro ainda não está com poder de compra para influenciar o preço da carne. O que mais tem aumentado em volume de vendas no varejo é o ovo, uma fonte de proteína bem mais barata. É evidente que o momento é de recuperação de preço, mas não se pode afirmar que o boi gordo chegará ao patamar de R$ 186,11 por arroba em São Paulo. Mesmo que atinja, seria equivalente hoje a US$ 46,50 por arroba, valor ainda muito inferior ao que se paga pela carne norte-americana ou uruguaia.
No dia 7 de outubro, o boi gordo fechou a US$ 60,60 (carne uruguaia) e a US$ 53,73 (carne dos Estados Unidos). Tem havido mudanças significativas na curva de sazonalidade da atividade no Brasil. De 2010 a 2019 (até setembro), por quatro vezes, o pico de preço da arroba do boi gordo se concentrou entre janeiro e abril. Isso aconteceu em 2012, 2015, 2016 e 2017. Isso é um fato novo. O mercado estava acostumado a ver preço da arroba bovina no limite apenas no segundo semestre. Mas, o preço não cai muito mais na safra e nem apresenta fortes altas na entressafra. Assim, as oscilações sazonais estão menos acentuadas. Por isso, principalmente por causa da demanda da China, o pecuarista que conseguir entregar bois entre o fim deste ano até abril de 2020 vai vender a preços mais altos. A dificuldade da indústria não será mais procurar por bovinos em outubro (no auge da época seca). Em 2020, será o 'boi China' do primeiro semestre. A China exige bois com requisitos específicos (até 30 meses e máximo de quatro dentes). Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.