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24/Jun/2025

Leite: os créditos de carbono na produção leiteira

A pecuária sempre desempenhou um papel fundamental na produção de alimentos e no desenvolvimento econômico. Agora, com a valorização dos créditos de carbono, o setor ganha ainda mais destaque como aliado da sustentabilidade, contribuindo diretamente com projetos que visam diminuir as emissões de gases do efeito estufa.

- O que são os créditos de carbono?

Os créditos de carbono funcionam como certificados concedidos a empresas ou propriedades que conseguem reduzir as emissões de gases como metano, dióxido de carbono e óxido nitroso, ou que conseguem capturar esses compostos da atmosfera. Isso é possível com a adoção de práticas e manejos mais sustentáveis no dia a dia da produção. Cada tonelada de CO² equivalente que deixa de ser emitida ou é retirada da atmosfera gera um crédito de carbono. Esses créditos podem ser vendidos para empresas que não conseguem cumprir totalmente suas metas de redução de emissões, criando uma nova fonte de renda para os produtores. O CO² equivalente (CO²e) é uma medida usada para comparar diferentes gases de efeito estufa com base no seu impacto sobre o aquecimento global, ou seja, mostra quanto cada gás polui em relação ao CO².

- Exemplo prático de venda de crédito de carbono de uma propriedade:

Imagine uma fazenda de leite que implantou novas práticas sustentáveis, conseguiu reduzir suas emissões e, com isso, calculou a quantidade de carbono que deixou de emitir. Por outro lado, temos uma indústria ou uma grande empresa que é obrigada a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, seja por regulamentações ou metas internas. Para essa empresa, reduzir emissões diretamente pode ser muito caro, segundo a CarbonPec. A redução de uma única tonelada de carbono pode representar cerca de US$ 200,00 para grandes indústrias. Por isso, é mais vantajoso comprar créditos de carbono de projetos que já conseguiram reduzir emissões, como o de uma fazenda, em vez de fazer a redução dentro de sua própria operação. Dessa forma, além de contribuir para a preservação ambiental e para a imagem sustentável da atividade, a pecuária leiteira passa a ter uma oportunidade concreta de diversificar a renda e agregar valor à produção, alinhando-se às exigências do mercado global e às demandas ambientais atuais.

- Como a pecuária atua em projetos de carbono?

Primeiramente, é importante entender que o mercado de carbono se divide em duas esferas: o regulado e o voluntário. O mercado regulado é definido por políticas governamentais, leis nacionais ou acordos internacionais, e obriga empresas e setores a reduzirem suas emissões de gases de efeito estufa (GEEs). Já no mercado voluntário, as reduções são feitas por iniciativa própria, geralmente em resposta à pressão de consumidores, acionistas ou da própria sociedade. É nesse mercado voluntário que a pecuária tem atuado, já que o setor primário ainda não está incluído no mercado regulado de carbono no Brasil. Inclusive, grandes laticínios brasileiros já começaram a desenvolver projetos voluntários junto aos produtores para monitorar e reduzir as emissões nas fazendas, de olho nas exigências do mercado e nas metas ambientais globais. Para isso, essas empresas precisam calcular todas as emissões que realizaram. Segundo a Alltech, as emissões podem ser divididas em três escopos: o primeiro são as feitas diretamente; o segundo, por meio de energia gasta; e o terceiro, tudo que precisa ser comprado para manter o negócio funcionando, incluindo o leite. O escopo três representa cerca de 70% da pegada de carbono de grandes empresas como Danone e Nestlé. É por isso que todas as grandes marcas estão tão interessadas nas fazendas.

- Existem algumas maneiras das empresas manejarem suas emissões, das quais as principais são:

Ações offset: quando uma indústria não consegue eliminar todas as suas emissões, ela pode comprar créditos de carbono de projetos que promovem a redução de emissões, como por exemplo os gerados por uma fazenda de leite que implantou boas práticas de produção e reduziu suas emissões de GEEs. Aqui, ocorre a compra dos créditos gerados em outras cadeias. Uma mineradora, por exemplo, pode comprar créditos gerados na pecuária de corte.

Ações inset: quando a própria indústria investe nos seus fornecedores para implementar práticas que reduzam as emissões. Assim, a redução acontece dentro da cadeia de suprimento da empresa, melhorando os resultados de todos.

- Definições essenciais antes de iniciar um projeto de carbono

Antes de iniciar um projeto de carbono em si, é importante entender algumas definições, como o padrão de certificação. O padrão é como uma marca. Quando você tenta vender créditos de carbono, os compradores perguntam a qual padrão ele está atrelado; isso diz muito sobre a credibilidade do projeto. Hoje, existem quatro grandes padrões de certificação no mercado, dos quais o mais reconhecido é o VCS (Verified Carbon Standard), responsável por 80% dos projetos voluntários. Outra definição importante é a metodologia, que trata de como será calculada a redução ou remoção de carbono e permite entender como será o desenvolvimento do projeto, que é, basicamente, a aplicação prática da metodologia em um local.

- Quais os desafios de executar um projeto e como superá-los?

Mesmo com o aumento da consciência sobre a importância dos créditos de carbono e o avanço das empresas nesse mercado, ainda existem vários obstáculos para tirar os projetos do papel. Um dos principais é o alto custo com consultores e validadores que acabam inviabilizando projetos individuais em propriedades menores. Na prática, só faz sentido tocar um projeto isolado se a fazenda for grande o suficiente para justificar todo esse investimento. Entretanto, existem algumas saídas para tais problemas como por exemplo os projetos agrupados, que são projetos propostos por compradores de crédito, vendedores de insumos, empresas próprias ou cooperativas de produtores que agrupam de 50 a 100 propriedades para dividir custos e viabilizar a certificação e venda de créditos.

- Quais projetos estão disponíveis para o produtor de leite?

Os produtores de leite têm duas maneiras principais de gerar créditos de carbono: a melhoria na eficiência de suas produções e a implementação de manejos e estruturas voltadas a diminuir a emissão de gases de efeito estufa na propriedade. Quando nos referimos à diminuição de emissões através da eficiência, estamos falando de aumentar a produção de leite utilizando a mesma quantidade de insumos. Isso pode acontecer de diversas formas, como através da nutrição de precisão ou do manejo genético do rebanho. Uma fazenda que não é eficiente pode reduzir de uma a duas toneladas de carbono por tonelada de leite produzido apenas melhorando sua eficiência. Apesar disso, fazendas que já são altamente eficientes não conseguem aproveitar tanto. É nesse ponto que o desenvolvimento de projetos mais complexos passa a fazer sentido. Dentre os tipos de projetos que podem ser feitos em propriedades leiteiras, pode-se destacar:

Uso de aditivos na dieta: adicionar aditivos antimetanogênicos nas dietas reduz as emissões de metano entérico sem mudar o sistema produtivo. A redução pode chegar de 10% a 40%, conforme o aditivo e o manejo;

Manejo de dejetos: implantar biodigestores transforma o metano que seria emitido em biogás, que pode gerar energia, não só diminuindo a pegada de carbono da produção como reduzindo os gastos.

Sequestro de carbono na biomassa: plantar árvores em áreas de pastagem ou em sistemas silvipastoris pode ser um grande aliado na redução da pegada de carbono das fazendas leiteiras.

Sequestro de carbono no solo: o manejo adequado do solo e das pastagens aumenta a matéria orgânica atrelada ao solo, o que consequentemente diminui a emissão de carbono na atmosfera

Para que o produtor tenha direito a créditos de carbono decorrentes destas práticas, é necessário que haja metodologia aprovada por um padrão reconhecido. Por mais que os projetos e créditos de carbono ainda não sejam amplamente difundidos na pecuária nacional, eles representam uma oportunidade para transformar a produção de leite em uma atividade mais sustentável, rentável e preparada para o futuro. Ao adotar práticas que reduzem emissões e sequestram carbono, os produtores não apenas contribuem para a preservação ambiental, mas também agregam valor à sua produção, fortalecem sua imagem no mercado e se alinham às exigências de consumidores e acionistas do mundo todo. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.