16/Jun/2025
Um relatório da iniciativa Do Pasto ao Prato (dPaP) revela que os signatários do Protocolo do Cerrado, compromisso voluntário para monitorar fornecedores de gado no bioma, respondem por apenas 38,8% da capacidade de abate na região e 33,6% do desmatamento associado à pecuária. No entanto, a adesão de associados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) poderia elevar essa cobertura para 65,5% dos abates e 67,8% do desmatamento, fortalecendo a rastreabilidade da carne. Lançado em abril de 2024 após quatro anos de negociações, o Protocolo do Cerrado estabelece critérios como desmatamento zero após 31 de dezembro de 2020, veto a propriedades embargadas ou presentes na “Lista Suja” do trabalho escravo e auditoria da cadeia de fornecedores diretos e indiretos. Atualmente, frigoríficos como JBS, Minerva, Marfrig, Frigol e Masterboi, além das redes Carrefour, Pão de Açúcar e McDonald’s (Arcos Dourados), já aderiram.
O estudo rastreou a carne do Cerrado até os supermercados e identificou que todas as principais redes varejistas do País estão expostas ao desmatamento no bioma. Enquanto Carrefour e Pão de Açúcar já são signatários, ainda compram de frigoríficos não comprometidos com o protocolo, o que fragiliza a efetividade do acordo. Empresas como Assaí Atacadista, Mateus Supermercados, Supermercados BH, Irmãos Muffato e Atacadão Dia a Dia aparecem como as mais expostas, sem políticas públicas de monitoramento. Estimativas indicam que suas vendas estão vinculadas a até 125 mil hectares de desmatamento. A implementação de sistemas de rastreabilidade poderia reduzir esse risco. Quando a compra ocorre de produtores sem nenhum compromisso de monitoramento ou divulgação pública dos resultados de auditorias, o varejo se expõe a um alto risco de aquisição da carne de desmatamento.
O maior obstáculo pós-lançamento é ampliar o número de aderentes, especialmente entre frigoríficos médios e pequenos. A adesão da Abiec, que representa 98% das exportações do setor, é considerada crucial, já que o protocolo se alinha às novas regras da União Europeia contra o desmatamento (que vai vigorar a partir de 2026). Outro ponto crítico é a falta de transparência com fornecedores indiretos (fazendas que vendem para outras antes do abate) e a incerteza sobre auditorias independentes. Sem fiscalização robusta, o risco de lavagem de gado persiste. Com 225 abatedouros ativos no Cerrado e outros 68 no entorno, mais de 25% do gado abatido no Brasil vêm do bioma, que alimenta uma rede complexa: a carne segue para atacadistas, distribuidores regionais, processadores (como fábricas de hambúrguer) e, por fim, açougues e varejo. A Região Sudeste é o principal destino (44% a 52% do volume), seguido pelas Regiões Nordeste (19% a 30%) e Sul (10% a 15%). Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.