30/May/2025
Oficialmente reconhecido como país livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA), o Brasil quer aproveitar esse passo, considerado histórico, para ampliar as exportações de carne bovina para mercados mais exigentes, e mais bem remunerados. A conquista marca o fim de um processo iniciado há mais de três décadas, com investimentos robustos, tanto do governo federal quanto estaduais e da iniciativa privada, em programas de vacinação e vigilância sanitária. Como já faz mais de uma década que o Brasil não tem nenhum surto de febre aftosa, ou seja, os programas de vacinação surtiram efeito, a principal vantagem agora é acessar mercados mais exigentes, que pagam mais pela mercadoria. É claro que isso não acontece de forma instantânea, mas existe essa possibilidade. O reconhecimento internacional chega em um momento estratégico.
O Brasil é o maior exportador mundial de carne bovina, e a nova chancela pode ajudar o País a se consolidar também nos mercados de maior valor agregado, hoje cobertos principalmente pelos Estados Unidos e Austrália. A expectativa mais concreta é com o Japão, que deve concluir ainda este ano a habilitação do sistema sanitário brasileiro para passar a adquirir a carne bovina brasileira. A declaração do Brasil como livre de aftosa sem vacinação chama a atenção principalmente porque, em tese, os mercados que o Brasil já atende com outras proteínas animais podem ser ampliados. E esses mercados são justamente os que pagam mais pela tonelada de carne bovina, como Japão e Coreia do Sul, entre outros. Atualmente, o Brasil é fornecedor global, principalmente, da carne "commodity", ou seja, que é ingrediente para misturas com outras carnes, como hambúrguer. O preço médio de importação gira em torno de US$ 5.100,00 por tonelada.
Para o Japão, há potencial de ganhos, já que o país paga, em média, US$ 8.000,00 por tonelada. A obtenção da certificação será, inclusive, seguida por uma visita de uma delegação japonesa em junho, para avaliar o sistema de inspeção federal. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), após a visita técnica, os trâmites internos no Japão devem levar cerca de 60 dias. Não se discute mais a qualidade da carne. O que está em avaliação agora é o funcionamento do sistema de inspeção sanitária. Além de Japão e Coreia do Sul, com os quais o Brasil já está em tratativas, o País também mira outros mercados, como Indonésia e Filipinas (para exportações de miúdos bovinos), além da Turquia. Também há planos para revisar os protocolos de exportação com países que já importam carne brasileira, com o objetivo de negociar melhores condições de comercialização da proteína. Além de abrir mercados, o novo status também implica redução de custos para o produtor.
A vacinação contra a febre aftosa era realizada mais de uma vez por ano, causando gastos com vacinas, mão de obra e manejo. Sem a vacinação obrigatória, há uma economia direta e uma simplificação das rotinas sanitárias no campo. Em contrapartida, o fim da obrigatoriedade traz preocupações. Uma delas é a possível perda de controle sanitário sobre o rebanho. Com a vacinação obrigatória, o produtor era obrigado a trazer o gado para o curral e aproveitar para aplicar outros tratamentos, como vermífugos. Agora, há risco de esse protocolo ser negligenciado. Outro ponto citado por especialistas é a extensão territorial e a diversidade ecológica do Brasil, que aumentam o risco de reinfecção. O maior risco não é apenas sanitário, mas comercial. Um eventual surto pode fazer o Brasil perder mercados conquistados a duras penas. E não existe risco zero em biologia.
A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), entidade que representa frigoríficos de carne bovina, enalteceu momento histórico para a cadeia agroindustrial da carne bovina, com a obtenção, pelo Brasil, nesta quinta-feira (29/05), de reconhecimento internacional de país livre de febre aftosa sem vacinação. O status sanitário foi aprovado durante a realização da 92ª Assembleia da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), que começou domingo (25/05) e terminou nesta quinta-feira (29/05), em Paris, na França. É importante ressaltar que o trabalho não se encerra aqui. O novo status traz também novos desafios e responsabilidades para todos os atores envolvidos, com vistas a manter o rebanho em condições sanitárias adequadas e a fortalecer cada vez mais o papel do País como grande produtor e fornecedor de alimentos de origem animal para o Brasil e o mundo.
A Abrafrigo deu parabéns a todos que contribuíram direta e indiretamente para essa notável conquista, especialmente os produtores rurais brasileiros, os quais, durante décadas, promoveram ativamente a vacinação e os controles sanitários em seus rebanhos. A entidade parabenizou também a equipe técnica do Ministério da Agricultura e Pecuária, que coordenou em nível nacional todas as etapas do processo, os serviços de defesa agropecuária dos governos estaduais, as instituições de pesquisas, as indústrias frigoríficas, as indústrias de medicamentos veterinários e os fornecedores de insumos, as entidades da sociedade civil e todos que se engajaram e envidaram seus melhores esforços com o objetivo de afastar essa doença da pecuária brasileira, possibilitando ao Brasil abastecer sua população com alimentos de qualidade e alcançar a liderança nas exportações mundiais de carne bovina.
A Abrafrigo ressaltou, ainda, que é a primeira vez que o Brasil alcança essa condição de excelência em seus controles sanitários, erradicando do seu território o vírus da febre aftosa, doença infecciosa aguda que causa febre, seguida do aparecimento de vesículas (aftas), principalmente, na boca e nos pés de animais de casco fendido, como bovinos, búfalos, caprinos, ovinos e suínos, conforme informações do Ministério da Agricultura e Pecuária. A conquista do status de país livre de febre aftosa sem vacinação abre caminho para a ampliação de mercados da carne bovina e suína no exterior por Mato Grosso do Sul, avaliaram representantes do Estado presentes à 92ª Sessão Geral da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), em Paris. Até então, apenas Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia e partes do Amazonas e de Mato Grosso detinham esse reconhecimento. A partir do novo status, todos os Estados brasileiros passam a deter esse certificado.
Isso representa um novo patamar para a pecuária do Estado, que já era de excelência. Em 2024, Mato Grosso do Sul exportou US$ 1,278 bilhão em carne bovina, o equivalente a 282,21 mil toneladas, principalmente para China, Estados Unidos e Chile. Nos primeiros quatro meses de 2025, as exportações somaram US$ 510 milhões, com crescimento proporcional na participação nacional, atingindo 11,26% do valor e 11,23% do volume total exportado pelo País. Além de beneficiar a bovinocultura, a certificação sanitária também abre novas frentes para a suinocultura do Estado. Agora, Mato Grosso do Sul poderá acessar mercados restritos, como o Japão, antes exclusivos de estados como Santa Catarina. A certificação amplia as possibilidades comerciais e abre portas para mercados mais sofisticados e que remuneram melhor os produtos. A expectativa é que o novo status impulsione também os investimentos na cadeia agroindustrial. Com a abertura de novos mercados, o Estado se torna ainda mais atrativo para investimentos. Mas é essencial manter a estrutura de vigilância e o comprometimento de todos para garantir a permanência deste status no longo prazo.
Representantes de Mato Grosso celebraram o reconhecimento do Brasil como zona livre de febre aftosa sem vacinação, o mais alto status sanitário mundial para a pecuária. O desafio passa a ser a manutenção do novo status sanitário, com vigilância constante. A certificação coroa o trabalho todo que foi feito. O Estado detém o maior rebanho bovino do País, com cerca de 33 milhões de cabeças. A expectativa agora é ampliar o acesso de Mato Grosso a mercados internacionais mais exigentes, especialmente na Ásia, principal destino das exportações de carne bovina do Estado. O governo estadual investiu cerca de R$ 100 milhões na estruturação do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea), com recursos destinados à modernização de escritórios, capacitação técnica, aquisição de veículos e realização de concurso público. O novo status substitui a certificação de zona livre com vacinação, obtida em 2001, e sela um processo iniciado ainda nos anos 1970, quando a febre aftosa era uma ameaça constante para o rebanho estadual. O último foco da doença em Mato Grosso foi registrado em 1996. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.