16/May/2025
O setor lácteo brasileiro passa por um momento de transformação. Tradicionalmente afetada por instabilidades de preços e impactos climáticos, a cadeia do leite começa a encontrar novas rotas de crescimento com foco em produtos de maior valor agregado, e o leite em pó está no centro dessa mudança. Além de refletir a dinâmica entre oferta e demanda, esse derivado tem ganhado espaço como solução industrial e como ativo estratégico para gestão de riscos. No estado de Goiás, referência nacional em agropecuária, o leite em pó integral foi o produto lácteo com maior valorização no mês de abril, com alta de 2,51%. Desde o início do ano, o produto vem acumulando ganhos e se destacando entre os derivados acompanhados pela Câmara Técnica da Cadeia Láctea.
A elevação dos preços do leite em pó acontece em um cenário mais amplo de diversificação de portfólio e segmentação de mercado. Itens como o leite em pó de búfala com proteína A2A2 (indicado para consumidores com restrições à beta-caseína A1) começam a se consolidar como alternativas de alto valor. Apesar de representar uma fatia de mercado ainda modesta, esse tipo de leite pode ultrapassar R$ 90 por Kg na forma liofilizada, tecnologia que mantém mais nutrientes durante a secagem. Essa tendência se alinha ao crescimento da demanda global por alimentos funcionais. Segundo a FAO, 15% da produção mundial de lácteos já é derivada do leite de búfala, com destaque para países como a Índia. No Brasil, esse movimento começa a ganhar força e representa uma oportunidade para produtores inovarem e diferenciarem seus produtos.
Além do valor agregado, o leite em pó contribui diretamente para a estabilidade da cadeia produtiva, permitindo o aproveitamento de excedentes sazonais e reduzindo perdas. Em períodos de maior produção, transformar o leite fluido em pó é uma forma eficaz de equilibrar o mercado interno. O histórico recente comprova isso. Após um pico de preços em setembro passado, quando os derivados lácteos registraram alta de 3,84%, abril trouxe estabilidade, mesmo com variações pontuais. A análise da Câmara Técnica aponta um cenário de equilíbrio entre produção, consumo e processamento industrial. No entanto, o setor ainda enfrenta fortes pressões, especialmente vindas da concorrência internacional. A crescente entrada de leite em pó importado, especialmente de países do Mercosul, tem gerado preocupações entre produtores brasileiros.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) protocolou pedido formal de investigação de práticas de dumping e solicita salvaguardas temporárias para proteger o setor nacional. Paralelamente, ganha força o debate sobre a criação de um mercado futuro de leite em pó. A proposta busca oferecer instrumentos de hedge para que o produtor consiga travar preços e garantir previsibilidade financeira, um recurso amplamente usado em culturas como soja e milho. A estruturação desse mercado pode representar um avanço importante para a profissionalização da cadeia leiteira. O futuro da cadeia do leite também passa pela adoção de tecnologias que aumentem a transparência e a segurança alimentar. O Ministério da Agricultura, em parceria com entidades como a Embrapa e a CNA, discute a implementação de um sistema nacional de identificação individual de bovinos.
A proposta prevê uma adoção em fases, com meta de cobertura total em oito anos. Essa iniciativa deve beneficiar principalmente produtos premium, como leite tipo A2, leite orgânico e outros derivados com certificações especiais. A rastreabilidade, além de contribuir para a sanidade do rebanho, agrega valor ao produto final e atende a exigências crescentes do consumidor. Com uma agroindústria forte, estrutura consolidada de monitoramento de preços e articulação entre governo, produtores e universidades, Goiás se destaca como ambiente propício para testar e escalar novas estratégias na cadeia do leite. O Estado desponta como protagonista no movimento de modernização do setor, unindo tradição agropecuária com soluções tecnológicas e foco em valor agregado. Fonte: O Hoje. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.