13/May/2025
A nova condição sanitária concedida ao Brasil é um marco histórico e poderá mudar o jogo. O Brasil chama a atenção na produção mundial de proteínas de origem animal, ocupando a segunda posição na produção de carne bovina. É notável que a produção brasileira de carne tenha crescido em qualidade e quantidade, tendo sido recorde em 2024, e com estimativa de crescimento em 2025, chegando a 11,9 milhões de toneladas (USDA). Esse crescimento vem da intensificação da produção, e não do aumento da área com pastagens. De 2007 até 2023, as pastagens brasileiras se mantiveram em cerca de 179 milhões de hectares, enquanto o rebanho bovino subiu de 147,3 milhões de cabeças em 2007 para 216,4 milhões de cabeças em 2023, segundo dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig).
A carne bovina brasileira tem como destino primário o mercado interno, e o que é destinado ao mercado externo são principalmente os cortes menos consumidos no mercado interno e os miúdos do boi, além do excedente da produção. Em 2024, segundo dados trimestrais de abate do IBGE convertidos para equivalente carcaça, a produção de carne bovina brasileira foi de 10,2 milhões de toneladas, e desse total, 3,4 milhões de toneladas, ou 33,8% da produção, foram exportadas, enquanto 66,2% (6,7 milhões de toneladas), foram destinadas ao mercado interno. A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) concederá ao Brasil a condição de área livre de febre aftosa a partir de 29 de maio de 2025. A cerimônia de reconhecimento ocorrerá durante a Sessão Geral da OMSA em Paris. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) trouxe, em 24 de abril, quais são as expectativas para esse novo marco e quais têm sido as estratégias brasileiras em âmbito governamental para abrir mais mercados para a carne bovina, miúdos e coprodutos.
Um exemplo mencionado pelo presidente da Abiec, foi a estratégia de interiorização da carne brasileira na China, por meio do projeto Beef and Road. A iniciativa visa prospectar comercialmente grandes centros populosos, adaptando a carne brasileira às receitas locais. A Abiec está abrindo escritórios na China e promovendo eventos, como o Brasil Beef Junior; também em outros países, tais como o Egito e o Marrocos. O novo status concedido ao Brasil possibilitará o acesso a mercados que exigem altos padrões sanitários, como Japão, Coreia do Sul e México, diversificando os destinos das exportações e reduzindo a dependência de mercados tradicionais. Além disso, a carne bovina brasileira poderá ser vendida a preços melhores em mercados que pagam mais por produtos com elevado padrão sanitário.
Isso também contribui para a imagem do Brasil como um fornecedor confiável de carne bovina de qualidade e sanidade, servindo como um selo de qualidade que pode influenciar positivamente a percepção de outros produtos brasileiros no mercado internacional. Do ponto de vista econômico, a diversificação de mercados e a valorização do produto podem gerar mais empregos diretos e indiretos no setor pecuário, aumentando o fluxo financeiro e contribuindo para o crescimento econômico do País. Espera-se um impacto positivo no mercado de miúdos de bovinos, que têm menor demanda no mercado interno. Esses produtos são valorizados em mercados internacionais e, em virtude de barreiras sanitárias, o Brasil ainda não tem acesso à parte desse mercado. A exportação de miúdos contribui para uma melhor rentabilidade agregando valor aos produtos que não são tão consumidos no Brasil. Como a certificação do Brasil como país livre de aftosa afetará as negociações em andamento com potenciais parceiros comerciais?
- Indonésia: deverá se tornar um grande destino dos miúdos de bovinos do Brasil.
- Filipinas: deverá abrir mercado para os miúdos de bovinos do Brasil.
- Vietnã: o mercado do Vietnã está aberto e deve consolidar-se com a migração do consumo de carne bubalina para carne bovina brasileira.
- Japão: tratativas em andamento. O Japão deverá permitir a exportação de carne bovina e miúdos, embora com tarifas iniciais altas. O Brasil enfrentará uma tarifa de 38% para a exportação de carne bovina para o Japão. Outros exportadores já pagam 18%.
- Coreia do Sul: as negociações estão em andamento para abrir o mercado sul-coreano.
- Turquia: negociações avançadas para exportação de carne bovina e miúdos.
- Egito: o pré-listing para o Brasil significa que o próprio Brasil definirá quem pode exportar para o Egito.
- Marrocos: recentemente abriu seu mercado para miúdos de bovinos brasileiros, podendo se tornar um hub para África e eventualmente Europa. Isso se deve à sua localização estratégica e às conexões comerciais que podem facilitar a redistribuição dos produtos.
- China: o Brasil paga uma tarifa de 12% para exportar carne bovina para a China, enquanto países como a Austrália nada pagam. O novo status brasileiro pode contribuir para que o Brasil possa negociar melhores condições de venda para a carne bovina.
Os avanços recentes no setor pecuário brasileiro demonstraram que a cadeia produtiva da carne bovina apresenta bom desenvolvimento, produtivo, social e econômico. O Brasil tem a possibilidade de ser a nação com maior capacidade de alimentar o mundo, tornando-se continuamente mais eficiente e estabelecendo bases consolidadas para isso. A certificação como área livre de febre aftosa, além de ser um reconhecimento da qualidade, sanidade e rastreabilidade da carne brasileira, possibilitará uma transformação na pecuária brasileira e na agroindústria como um todo, abrindo oportunidades de mercado e fortalecendo a exportação. Fonte: Alcides Torres. Broadcast Agro.